Cinema

Tela preta: produções independentes revelam o Brasil negro e periférico

Conheça filmes de diversos cineastas contemporâneos que discutem a questão racial no país

São Paulo |
As atrizes Dandara Raimundo, Isabel Martins Zua, Lívia Laso, Daí Ramos fazem parte do elenco de Kbela, filme de Yasmin Thayná.
As atrizes Dandara Raimundo, Isabel Martins Zua, Lívia Laso, Daí Ramos fazem parte do elenco de Kbela, filme de Yasmin Thayná. - Alile Dara Onawale/Reprodução

O país mais negro do mundo fora do continente africano por muitos anos cultivou uma imagem embranquecida nas produções cinematográficas. Nos últimos anos, políticas afirmativas, fruto da luta dos movimentos populares, permitiram que muitos negros acessassem universidades historicamente elitizadas, como é o caso das escolas de cinema. Editais específicos também possibilitaram a realização de muitas produções. As discussões sobre a vida de negras e negros no Brasil e o combate ao racismo definitivamente ganhou a produção audiovisual como aliada.

Conheça abaixo filmes de diversos cineastas contemporâneos que estão revelando um Brasil negro e periférico.

Mundo Deserto de Almas Negras| Ruy Veridiano |91 minutos|

Uma cidade de São Paulo em que a elite é formada por pessoas negras, enquanto os brancos vivem na periferia. Uma história contemporânea de máfia envolvendo corrupção partidária e carcerária. Mas apesar do ponto de partida provocador, o grande choque da produção é a sua estética ousada.

 

Menino 23: Infâncias Perdidas no BrasilBelisario Franca|  79 minutos

O filme relata um caso chocante de escravidão nos anos 1930. Uma família de empresários proeminentes no interior de São Paulo iam ao Rio de Janeiro "higienizar" orfanatos, levando consigo meninos negros para exploração.


 

Kbela| Yasmin Thayná| 3 min

O filme busca refletir sobre o lugar da mulher negra na sociedade contemporânea, os atuais padrões de beleza, sua expressão, autoimagem e identidade.

 

O Dia de Jerusa | Viviane Ferreira | 20 Minutos

O filme traz à tona uma reflexão sobre a velhice e a solidão. Uma parábola utilizada pela cineasta baiana Viviane Ferreira para homenagear a transmissão de vivências e saberes, passados de geração para geração.

 

A Boneca e o Silêncio | Carol Rodrigues

Em "A boneca e o silêncio", Marcela, uma menina de 14 anos se torna dona de si e de seu corpo ao tomar a decisão de interromper uma gravidez indesejada.

 

Cine Campinho- Da terra à Tela | Direção Lentes Periféricas| 1h22min

O documentário narra a trajetória do Cine Campinho, do seu inicio 2007, passando por questões como Juventude, Cultura e Periferia.

 

Um Salve Doutor|Rodrigo Sousa & Sousa e Equipe| 90 Minutos

As vidas de Kopolla, Aline, Auri e Luanda se entrelaçam na trajetória de KPG, que volta ao bairro após três anos de internação na Fundação Casa.

 

Aquém das Nuvens| Renata Martins|20 Minutos

Nenê é casado com Geralda há 30 anos. Em uma tarde de domingo, como de costume, ele vai à roda de samba encontrar os amigos. Ao voltar para casa, surpreende-se com uma notícia sobre Geralda. Sem deixar que o ritmo do samba caia, Nenê encontra uma solução para ficar ao lado de sua eterna namorada.

 

Profissão MC| Alessandro Buzo e Toni Nogueira| 52 min 

Profissão MC traz a história de um rapper na periferia, que em um momento delicado de sua vida, desempregado e com a namorada grávida, recebe duas propostas: uma para entrar no tráfico de drogas; e outra para seguir apostando no rap. É um filme sobre oportunidades, ou falta delas. Este filme não captou um único real para ser produzido e pretende ser exibido em várias comunidades pelo Brasil.

 

Menina Mulher da Pele Preta - Jennifer | Renato Candido Lima | 29 min

O filme conta a história de Jennifer, uma adolescente negra moradora da periferia paulistana. Com o auxílio de programas de computador, ela altera suas fotos para clarear sua pele e alisar seu cabelo. Por meio dessa história, o filme discute a valorização do branco e do negro na sociedade brasileira.

Cineastas negros

A história do cinema negro é marcada por alguns personagens centrais. Conheça três cineastas negros que influenciaram gerações:

Zózimo Bulbul, despontou como ator nos anos áureos do Cinema Novo (década de 60). Trabalhou em aproximadamente 30 filmes como ator. Zózimo foi o primeiro protagonista negro de uma novela brasileira, fazendo par romântico com Leila Diniz em “Vidas em Conflito”. Insatisfeito com a condição reservada aos negros nas telas decidiu escrever e dirigir seus próprios filmes.  Dirigiu cerca de dez curtas e médias metragens e “Abolição”, seu único longa-metragem. Conheça uma das obras do cineasta onde ele conta a história do sambista Aniceto.

 

Adélia Sampaio foi a primeira negra a dirigir um longa-metragem no Brasil – Amor Maldito, lançado em 1984, que também é considerado o primeiro filme lésbico brasileiro. A história da cineasta foi apagada da história oficial do cinema do Brasil, até que no ano passado, uma entrevista para o Blogueiras Negras com a cineasta revelou trechos da sua trajetória. Além do longa, Adélia dirigiu três curtas entre as décadas de 70 e 80.

 

Joelzito Araújo, cineasta, pesquisador, escritor e roteirista. Nos anos 2000 lançou “A negação do Brasil” sobre a trajetória do personagem negro nas novelas brasileiras, com impressionante trabalho de pesquisa que deu origem a um livro homônimo. Em 2004, finalizou seu primeiro longa-metragem de ficção, “Filhas do vento”. Também dirigiu os filmes “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado”, sobre turismo sexual e a mulher negra, e “Raça”, que oferece um painel da luta por direitos afirmativos na primeira década do século XXI.

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