Pernambuco

MOBILIDADE

População da zona oeste do Recife sofre com novo modelo de integração de ônibus

Usuários que utilizam transporte público na avenida Caxangá se sentem desassistidos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Obras de Terminais Integrados de Passageiros estão paradas há anos.
Obras de Terminais Integrados de Passageiros estão paradas há anos. - Catarina de Angola

Em janeiro deste ano o valor das passagens na Região Metropolitana do Recife aumentou em 14%. Hoje, para ir e voltar entre a zona oeste do Recife e o centro da cidade, de ônibus, pagando a tarifa A, gasta-se R$ 6,40. Um valor alto comparado ao do salário mínimo dos trabalhadores. Mas esse valor pode ser ainda maior, além de ter que pegar mais de um ônibus. É que desde do começo do mês de fevereiro o Grande Recife Consórcio de Transportes reduziu o itinerário de oito linhas da zona oeste do Recife. As linhas passam a fazer seus percursos apenas até a avenida Caxangá e, de lá, a proposta é que os passageiros façam integração temporária com linhas que seguem para o centro da cidade, via Transporte Rápido por Ônibus (BRT) ou com outras três novas linhas de ônibus comum que foram criadas. Além da redução do percurso, as linhas perderam número de veículos.
Há linhas de ônibus que estão com apenas um veículo em circulação. Desde de a implementação desse novo formato usuários da zona oeste estão insatisfeitos. Para fazer a integração temporária, em pagar uma segunda passagem, o usuário precisa ter o Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) e tem o tempo de duas horas para fazer a integração. Caso não consiga pegar o segundo ônibus com menos de 2 horas, o passageiro tem que pagar outra passagem e não pode usar o BRT. “Já vi pessoas reclamando do sistema, dizendo que cobrou outra passagem em seu cartão no momento da integração”, conta Ricardo Vandré, engenheiro ambiental e usuário dos ônibus da região. 
A população do bairro do Engenho do Meio chegou a fazer uma mobilização contra as alterações. O Grande Recife Consórcio quer por em prática obras anunciadas desde 2010 e que estavam no plano de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014. Sete após o lançamento do plano muitas estações e BRT ainda não foram concluídas e, com isso, não estão sendo utilizadas. Existem ainda terminais de integração não concluídos, como o do bairro do Cordeiro, na própria avenida Caxangá. Dessa forma o desembarque dos passageiros que vêm das oito linhas de diversos bairros e localidades da zona oeste tem sido feito na rua e de lá vão até a estação do BRT ou ficam na parada esperando outro ônibus, já que quem vai para a avenida Conde da Boa Vista não pode pegar o BRT.
Para a estudante Ana Karolina Soares a mudança deixou o serviço de transporte público mais complicado. “Antes da mudança já sentia a lotação nos ônibus, mas agora ficou pior. Uso a linha Roda de Fogo e achei a mudança dos ônibus desvantagem. Quando as linhas eram diretas do subúrbio para o centro eu não ia sentada, mas era mais organizado. O problema é que a gente tem que pegar mais de um ônibus pra chegar ao mesmo lugar de antes, tendo que andar ainda mais. Ficou pior pra mim porque, mesmo mudando o sistema, a quantidade de pessoas e a lotação do ônibus continuam as mesmas”, explica.    
A queixa dos usuários da zona oeste com relação ao sistema de ônibus não é de agora. Anos atrás, antes das obras de estações do BRT, utilizavam um ônibus para irem de seus bairros ao centro da cidade, com um corredor exclusivo que ficava na avenida Caxangá. Os ônibus já eram lotados e em quantidade insuficiente, mas existia o corredor e o impacto do trânsito nos ônibus era menor. Com as obras para a construção das estações do BRT a situação ficou caótica. As obras demoraram muito e todos, passageiros de ônibus ou motoristas nos carros, sentiam a lentidão do trânsito. As paradas foram transferidas em regime temporário para as calçadas da avenida Caxangá e com isso passageiros ficavam sob o sol ou chuva esperando os ônibus em paradas improvisadas.
“Em relação ao engarrafamento não mudou nada. Nos horários de pico o transtorno continua, da espera do ônibus até chegar em casa. Tenho que sair mais cedo e isso atrapalhou bastante”, conta Ana Karolina, sobre o trânsito. À noite o medo da violência também aumenta por conta da exposição nas paradas da Caxangá. “A pior parte é a volta à noite. É muito esquisito e mesmo com muita gente na rua não estamos livres dos assaltos e da violência urbana. A vantagem era pegar apenas um ônibus e chegar até o destino sem ter que descer de parada em parada até em casa”, diz.

Linhas que sofreram alterações:
413 – Avenida do Forte
415 – Sítio das Palmeiras
416 – Roda de Fogo
421 – Torrões
422 – Monsenhor Fabrício
423 – Engenho do Meio
425 – Barbalho (Detran)
433 – Brasilit

Novas linhas:
2443 – Av. Caxangá (BR-101)/Derby – BRT 
2441 – Av. Caxangá (BR-101)/Centro – BRT 
2439 – Av. Caxangá (BR-101)/Centro – convencional 

Edição: Monyse Ravenna