Pernambuco

BOLA OVAL

Piratas e Marinheiros fazem final de Futebol Americano na Arena

Com boa expectativa de público, equipes decidem primeiro título do esporte em Pernambuco

Brasil de Fato | Recife (PE) |
“Clássico dos Mares” entre equipes mais tradicionais do estado vale o 1ª taça estadual da história
“Clássico dos Mares” entre equipes mais tradicionais do estado vale o 1ª taça estadual da história - Doulos Mídia/Divulgação

Das jardas para a história. Nesse sábado (13), quando Recife Mariners e Recife Pirates saírem das 100 jardas pintadas na Arena de Pernambuco, uma das equipes terá entrado para a história como campeã da 1ª edição de um Campeonato Pernambucano de Futebol Americano. Torneio também eleva expectativa das equipes para a disputa do torneio nacional, com início em julho.
O Mariners, fundado em 2006, chega como favorito à final. Ganhou os 3 jogos da primeira fase com boa vantagem: 65x0 sobre o Recife Horses, 42x0 sobre o Arcoverde Templários e, na estreia do torneio, um 17x0 sobre o próprio Recife Pirates, adversário deste sábado. O histórico também está a favor dos Marinheiros: em 13 confrontos do chamado “Clássico dos Mares”, foram 13 vitórias do Mariners. E o presidente do clube, Julio Adeodato, está confiante para a final. “A vitória é o resultado de todos os esforços que temos feito desde janeiro, quando iniciamos a preparação. Vamos executar o que sabemos fazer e fazemos bem”, diz Adeodato, que também é veste a camisa e joga como retornador. “Se fizermos o melhor que podemos, seremos campeões”, acredita.
O Pirates, fundado em 2007, se recuperou da derrota na estreia e superou o Horses (54x0) e o Templários (41x6), garantindo a vaga na final. Chega à decisão tentando esquecer o histórico diante dos rivais. “Não estamos pensando no retrospecto contra os Mariners. Nosso único foco é sermos campeões”, diz o treinador dos Piratas, Leonardo Breckenfeld. “Eles nunca nos enfrentaram numa final. Este ano treinamos muito bem e estamos confiantes em fazer do Pirates o 1º campeão Pernambucano”, afirma.

Idealizado em 2016, o campeonato estadual só foi possível com a colaboração de todas as equipes. Oito times do estado se uniram para construir o torneio, que foi viabilizado economicamente com a taxa dos 519 atletas inscritos. A liga contou ainda com a parceria da Prefeitura de Olinda, que cedeu o Estádio Municipal Grito da República (foto abaixo), no bairro de Rio Doce, para as equipes da Região Metropolitana do Recife mandarem seus jogos. Em troca, parte da renda das partidas será usada para reformas no próprio Grito da República e no Estádio Eugênio de Barros, o Olindão, no bairro de Jardim Brasil.
Oito equipes disputaram o Pernambucano, que foi dividido em duas divisões com duração de aproximadamente dois meses e jogos quase todos os fins de semana, alternando primeira e segunda divisão. Além de Mariners e Pirates, o Templários e o Horses disputaram a divisão principal. A segunda divisão teve Olinda Sharks, Recife Apaches, Caruaru Wolves e o Mariners Development, equipe sub-23 do Mariners. Favorito após liderar primeira fase, os Sharks caíram diante na final, vencida por 13x6 pelo Apaches. Em 2018 a equipe do Recife disputa a primeira divisão estadual no lugar do Horses, rebaixado. Dividir em divisões foi uma escolha para fazer torneios curtos, com poucas lesões, mas que contribuísse na evolução do condicionamento físico.
As duas equipes mais tradicionais de Pernambuco fazem a final neste sábado (13), na Arena de Pernambuco. O jogo tem início às 15h e os ingressos custam R$ 20 antecipado, com venda pela internet ou com as equipes. No dia do jogo também haverá venda de ingressos no local da partida, mas custando R$ 40.

Os finalistas julgam que o torneio foi muito importante para as oito participantes. O estadual permitiu a observação dos novos atletas e dos que atuaram pouco na temporada passada, ajudou a dar ritmo de jogo, motivação para os treinos, mais experiência e possibilitou que atletas fossem testados, de olho nos desafios maiores. Em julho têm início a Brasil Futebol Americano (BFA), divisão principal do campeonato nacional do esporte, e a Liga Nacional, que é a segunda divisão.
“Nos outros anos começávamos a treinar em março. Mas este ano começamos em janeiro”, comemora Breckenfeld, que vive sua primeira temporada como treinador principal, após dois anos na comissão técnica. Adeodato lembra as dificuldades. “Até ano passado, passávamos seis meses sem jogos. Era difícil manter a assiduidade nos treinos”, recorda. O Mariners têm um motivo extra para comemorar: puderam colocar uma equipe sub-23 para competir, dando experiência aos jovens e forjando novos talentos.
Bola oval avança no Brasil
A transmissão da liga nacional norte-americana (NFL) via TV a cabo teve grande papel no crescimento do esporte no Brasil. É o que avalia o presidente do Mariners. “As pessoas agora acompanham a NFL e isso ajuda na compreensão do jogo”, acredita Julio Adeodato. Ele passou a acompanhar e jogar o esporte quando fez um intercâmbio nos Estados Unidos. No ano seguinte, quando voltou ao Recife, se somou a outros fãs do esporte que estavam se reunindo para fundar o Mariners. Já Leonardo Breckenfeld assiste a NFL desde 2010 e acompanha o esporte no Brasil desde 2013.
O esporte tem crescido no País, com torneios e equipes estruturados e levando cada vez mais público às arquibancadas. Estima-se que hoje o Brasil possua em torno de 150 equipes de diferentes níveis, com torneios estaduais em 11 unidades da federação. Até 2013 Pernambuco tinha apenas Mariners e Pirates, mas a disseminação do esporte elevou o número de jovens interessados em jogar pelas equipes. Parte dos que não eram aprovados nos testes acabavam se juntando para fundar novos times no litoral e no interior. Hoje Pernambuco tem 10 times. Além das oito equipes que disputaram o estadual, há o Carrancas, de Petrolina, e o recém-formado Recife Vikings.

Nos últimos cinco anos a região Nordeste foi a que apresentou maior crescimento. “Os times aqui têm postura bastante profissional e isso abriu portas para jogarmos em estádios. O Mariners foi o primeiro, quando jogamos nos Aflitos em 2013”, diz Adeodato. “Depois, em 2014, jogamos pela Liga Nordeste na Arena de Pernambuco, com público superior aos 7 mil expectadores – um recorde nacional na época”, recorda.
Jogar na Arena, em ano de Copa do Mundo, foi um feito para o esporte, que viu as portas de outras arenas se abrirem País afora. Mineirão, Beira-Rio e Arena Pantanal já receberam jogos de futebol americano. Este ano o Bulls Potiguares, do Rio Grande do Norte, conseguiu fechar acordo para mandar seus jogos da BFA na Arena das Dunas. “Aprendemos que para fazer futebol americano precisamos ir além do jogo, mas fazer eventos mais atraentes para o público. Quando compreendemos isso, começamos a crescer”, avalia Breckenfeld.
Outro fator de crescimento colocado pelos entrevistados foi a importação de atletas norte-americanos com mais experiência no esporte. “Jogadores e treinadores estrangeiros nos ajudaram a evoluir tecnicamente, o que também aumentou o interesse das pessoas pelo jogo”, pontua o técnico do Pirates, que é acompanhado pelo presidente do Mariners: “com certeza eles trouxeram mais qualidade para o esporte e nos ajudaram a crescer”, acredita. O Mariners está sendo treinado pelo norte-americano Richard Lowrey, que já morava no Recife e passou a colaborar como preparador físico da equipe, tornando-se treinador principal este ano.
Campeonato nacional tem início em julho
Antes chamado de Superliga, o campeonato brasileiro agora se chama BFA. A competição conta com representantes de 16 estados brasileiros, tendo equipes de cinco dos nove estados do Nordeste e times de todos os estados das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Distrito Federal. A região Norte é a única que não tem representantes na BFA, apesar de Pará e Amazonas contarem com várias equipes e torneios locais. De Pernambuco o Mariners e Pirates jogam a BFA.
Os times são divididos em grupos por região do País. Esses grupos têm números diferentes de equipes: Nordeste e Sul têm 7 times cada, enquanto Sudeste tem 6 e Centro-Oeste tem 5. As equipes se enfrentam dentro desses grupos, com as quatro melhores passando ao mata-mata, chamado de playoffs (que são disputados apenas em jogos de ida, com vantagem para a equipe com melhor desempenho). Os playoffs também são disputados, a princípio, entre as equipes da região, definindo os campeões de cada região do País. Esses campeões se enfrentam nas semi-finais nacionais para definir o campeão brasileiro.

Em 2016 o Recife Pirates caiu já na primeira fase, com o 5º lugar na Liga Nordeste. Os quatro finalistas da região foram, na ordem, Ceará Caçadores, Recife Mariners, João Pessoa Espectros e Bulls Potiguares. Os Espectros (foto acima) eliminaram o Mariners e, na final do Nordeste, sagraram-se campeões regionais em cima dos Caçadores. Mas a equipe paraibana caiu na semi-final nacional diante dos cariocas do Flamengo, campeões do Sudeste. Na outra semi-final, o catarinense Timbó Rex, campeão do Sul, levou a melhor sobre o Cuiabá Arsenal, melhor do Centro-Oeste. Na final a equipe de Santa Catarina bateu o Flamengo e conquistou seu bicampeonato brasileiro.
Para este ano as equipes do Recife esperam alçar voos mais altos. “A nossa expectativa é de entrar o mais forte que podemos. A nossa melhor classificação foi o 4º lugar do Nordeste em 2015, mas este ano queremos ser campeões, fazendo um ano de ouro. O mínimo para nós chegar aos playoffs”, diz o confiante treinador do Pirates, que destaca méritos dos Bulls e Vitória-BA, mas reconhece Mariners, Caçadores e Espectros como principais adversários no Nordeste. Breckenfeld vê o Timbó Rex como principal candidato ao título nacional.
Do lado dos Marinheiros, a expectativa é a mesma: brigar pelo título nacional. “É a mesma meta que temos há três anos. Nessas três temporadas perdemos apenas 4 jogos e por placares apertados, mas foram em momentos cruciais”, avalia Adeodato. “Para ser campão nacional você precisa seguir praticamente invicto até o fim”, pontua. A primeira partida dos pernambucanos na BFA é mais um Clássico dos Mares entre Mariners e Pirates, agendado para o fim de semana 1 e 2 de julho.
Futebol Americano Feminino
Com bem menos apoio, o Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol Americano também terá início no mês de julho e conta com seis equipes. No Grupo A estão Brasília Pilots, Curitiba Silverhawks e as atuais campeãs nacionais: Sinop Coyotes, do Mato Grosso (foto abaixo). No Grupo B estão Vasco-RJ, Fluminense-RJ e Spartans-SP.
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Edição: Monyse Ravena