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Artigo | 24 de maio: dor, revolta e gratidão

Homens e mulheres enfrentando longas viagens para poder ter a oportunidade de dar voz a dezenas de milhões de pessoas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular-Pernambuco
Aristóteles Cardona Júnior é Médico de Família no Sertão pernambucano, Professor da Univasf e militante da Frente Brasil Popular-Pernambuco - Arquivo pessoal.

No momento em que terminava o meu café, para finalizar detalhes da coluna desta semana, pude acompanhar com um pouco mais de detalhe o que se passava em Brasília. Já havia passado os últimos dias com um misto de ansiedade e ânimo.

Certamente a ansiedade por estarmos vivendo este triste momento em nosso País, com um governo federal que não tem legitimidade alguma e que tem trabalhado para retirar direitos que ainda nos restam como a aposentadoria, por exemplo. Ao mesmo tempo, posso falar de um ânimo também, afinal de contas, grande parte da população brasileira já compreendeu todo o mal que temos vivido e da importância hoje de realizarmos novas eleições no Brasil.

Porém, o dia 24 de maio de 2017 trouxe dois sentimentos com força: dor e revolta. Posso explicar: este dia foi escolhido por várias Centrais Sindicais e Movimentos Sociais, como a Frente Brasil Popular, para uma ocupação de Brasília. E o que isso quer dizer? Um dia para que pessoas de todo o Brasil pudessem mostrar bem de pertinho, no centro do poder, que o povo não está contente com os rumos da nação. E que o povo também quer ter o direito de volta de votar para Presidência da República.

E o processo de preparação desta ida a Brasília foi bonito de acompanhar. Caravanas sendo organizadas em todo o País. Homens e mulheres enfrentando longas viagens para poder ter a oportunidade de dar voz a dezenas de milhões de pessoas.

E a dor e a revolta? Chegaram com força ao acompanhar de longe, e de coração apertado, as fotos, vídeos e áudios de toda a violência aplicada pela polícia contra os manifestantes. Verdadeiras cenas de terror. Podia piorar. E piorou. Um frio percorreu a espinha ao saber que as Forças Armadas tinham sido chamadas por Temer. Imagens e mais imagens vieram à mente sobre um momento o qual não vivi, mas sei muito bem como fez mal para o nosso País, que foi a Ditadura Militar.

Mais dor e revolta ao ler o decreto no qual Michel Temer e o pernambucano Raul Jungmann, ministro da Defesa, autorizam o uso da força do Exército contra a população.

Mas para finalizar, não é que apareceu um novo sentimento? É o sentimento de gratidão. Por todas estas 200 mil pessoas que disponibilizaram seus dias para estar em Brasília e brigar por todas e todos nós. Para eles e elas, meu muito obrigado. E a certeza que demos um passo a mais na luta contra a perda de direitos e a favor do direito de participar através de eleições diretas já.

Edição: Monyse Ravena