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"A terra não é só para trabalhar, é para produzir alimentos saudáveis", diz Stedile

O dirigente do MST fala sobre as feiras agroecológicas organizadas pelo movimento em diversas cidades do país

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Feira Nacional Reforma Agrária que teve a segunda edição em São Paulo em maio de 2017
Feira Nacional Reforma Agrária que teve a segunda edição em São Paulo em maio de 2017 - Rica Retamal/Brasil de Fato
O dirigente do MST fala sobre as feiras agroecológicas organizadas pelo movimento em diversas cidades do país

A experiência de feiras agroecológicas organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem se espalhado pelo país. Uma grande diversidade de alimentos produzidos sem uso de agrotóxicos em assentamentos e acampamentos da reforma agrária são disponibilizados para a população com preços justos. Para o movimento, mais do que partilhar os frutos da luta no campo, as feiras são uma oportunidade de dialogar com a sociedade.

Além da venda de produtos, esses espaços se transformam ambientes de trocas culturais entre o campo e a cidade, com apresentações artísticas, mostras de artesanato, oferta de produtos culinários, entre outras atividades. Um marco dessas experiências é a Feira Nacional da Reforma Agrária que ocorreu em São Paulo em maio deste ano.

Em entrevista para o Brasil de Fato Pernambuco, João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST, falou sobre essa proposta.

Brasil de Fato: João Pedro, como a reforma agrária popular, defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), contribui para o desenvolvimento da agroecologia?

João Pedro Stedile: Durante muito tempo talvez todo o século 20, da qual o MST, inclusive, foi influenciado, a visão que nós tínhamos de reforma agrária era uma visão idealista, que bastava repartir o latifúndio, repartir a terra, que os camponeses, então, resolveriam os seus problemas. Porém, o que nós aprendemos nos últimos anos e, sobretudo, na última década, que a missão agora dos camponeses não é apenas ter terra para trabalhar com a sua família. A missão que nós temos que ter é: conquistando a terra, que é fundamental e necessária, o que fazer com a terra. A terra não é só para trabalhar, a terra é para produzir alimentos saudáveis para toda a população. A forma de nós produzirmos alimentos saudáveis sem veneno é adotando as técnicas de agroecologia, que é um conhecimento científico, que procura orientar como você pode produzir alimentos sem usar veneno em equilíbrio com a natureza. 

Brasil de Fato: O MST tem expandido a cada ano a experiência de feiras agroecológicas em diversas cidades do país. Por que o movimento tem apostado nessa estratégia?

João Pedro Stedile: Felizmente, tanto estimulado pelo MST, como por outros movimentos, e pela sociedade em geral, que entendeu a mensagem, nós hoje temos no Brasil inteiro a multiplicação de feiras que os assentados têm feitos nas cidades para oferecer os alimentos saudáveis e, ao mesmo tempo, dialogar com a sociedade. Eu acho que isso é a melhor maneira de nós fazermos propaganda da reforma agrária popular. E é por isso que a reforma agrária, então, adquiriu esse adjetivo de reforma agrária popular. Porque agora, a luta pela terra não é só para resolver o problema dos camponeses. Agora, a luta pela terra é para você resolver o problema de alimentar todo o povo, então a reforma agrária deixou de ser camponesa, para ser uma reforma agrária popular. A população sabe se ela depender só do supermercado e do agronegócio, ela vai se envenenada. Então a população está descobrindo que a forma de ela ter um alimento mais saudável é ir nessas feiras da reforma agrária, nessas feiras de agroecologia, e poder comprar alimentos baratos e sem o uso de agrotóxicos.

Edição: Camila Maciel