Pernambuco

LUTO

Editorial |Por Marielle e Anderson, nenhum minuto de silêncio e toda uma vida de luta

O assassinato de Marielle é simbólico de como operam as estruturas da violência e da classe dominante no país.

Recife (PE) |
Vigílias e atos em todo o Brasil levaram milhares de pessoas ás ruas
Vigílias e atos em todo o Brasil levaram milhares de pessoas ás ruas - Reprodução

Março é, desde o início do século 20, o mês de luta das mulheres trabalhadoras. Março de 2018, não está sendo diferente nesse quesito. Milhares de mulheres tomam às ruas de várias cidades brasileiras desde o início do mês. Entre as principais pautas a luta contra o golpe e pela democracia, contra a reforma da previdência e contra a violência.

Este, também será o mês em que lembraremos Marielle Franco, vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) que foi executada no Rio de Janeiro na última quarta-feira (14). Além de Marielle, o motorista do veículo em que estava também foi morto, seu nome, que pouco apareceu nas manchetes é Anderson Pedro Gomes, ele fazia um bico de motorista, estava desempregado.
Marielle tinha 38 anos e foi a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro nas eleições de 2016, com 46.502 votos em sua primeira disputa eleitoral. Socióloga formada pela PUC-Rio e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), teve dissertação de mestrado com o tema “UPP: a redução da favela a três letras”.  

O assassinato de Marielle é simbólico de como operam as estruturas da violência e da classe dominante no país. Executar uma mulher negra, favelada – cria da Maré -, LGBT, política é um recado para todos e, sobretudo, para todas as mulheres que fazem luta, que denunciam, que ocupam as ruas cotidianamente. A potência dos gritos de denúncia das mulheres incomodam e por isso é preciso calá-las. 

Marielle foi assassinada na volta de um debate que tinha como tema “Jovens negras movendo estruturas”. Um dia antes de ser assassinada, Marielle reclamou da violência na cidade, no Twitter. No post, ela questionou a ação da Polícia Militar: "Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?". Em 10 de março deste ano, ela havia denunciado, em seu perfil de redes sociais, indícios de que policiais do 41º Batalhão de Polícia Militar haviam cometido abusos de autoridade contra os moradores do bairro de Acari.

A vereadora, assim como diversos movimentos populares, era crítica da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Há duas semanas, ela assumiu a função de relatora da Comissão da Verdade na Câmara de Vereadores do Rio, criada para acompanhar a atuação das tropas na intervenção.

Sua vida foi dedicada à militância na defesa dos direitos humanos e contra ações violentas nas favelas do Rio de Janeiro, sua luta impulsionada após a morte de uma amiga, vítima de bala perdida durante um tiroteio envolvendo policiais na favela da Maré, onde nasceu e morava.

Que agora sua vida e sua luta consigam ser transformadas em fermento e indignação para muitas mulheres que hoje tiveram que mais uma vez transformar o medo em coragem e sair às ruas nos atos que se multiplicaram pelo Brasil denunciando mais uma vítima do golpe que assassina trabalhadores, camponeses e mulheres. 

Por Marielle e Anderson, nenhum minuto de silêncio e toda uma vida de luta!

Edição: Monyse Ravena