Pernambuco

ITINERANTE

UNE Volante chega ao Recife para debater política, educação e cultura na universidade

Atividade integra a campanha “Universidade não se vende, se defende”, encabeçada pela União Nacional dos Estudantes

Brasil de Fato | Recife (PE) |
A atividade vai circular por 13 universidades em 11 estados brasileiros; Em Pernambuco, o tema escolhido é a cultura
A atividade vai circular por 13 universidades em 11 estados brasileiros; Em Pernambuco, o tema escolhido é a cultura - Divulgação/UNE

Na próxima sexta-feira (27) o Campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) recebe a UNE Volante, promovendo atividades de arte e cultura gratuitamente para estudantes tanto da própria instituição como de outras universidades que estejam interessados em participar. A UNE Volante é parte da campanha “Universidade não se vende, se defende”, encabeçada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade representativa dos estudantes universitários do Brasil. A atividade vai circular por 13 universidades em 11 estados brasileiros. Pernambuco é o terceiro estado do percurso.

Em cada estado a UNE Volante traz uma temática diferente para ser debatida e praticada através de oficinas. O tema escolhido para Pernambuco é a cultura, pensando o papel da universidade como espaço de produção cultural e de elaboração de políticas públicas para a cultura. A principal atividade do dia 27 ocorre no auditório do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA), a partir das 9h da manhã: uma mesa de debate com a presença da presidenta e vice da UNE, além de artistas pernambucanos e pensadores da cultura do nosso estado.

À tarde será de oficinas de produção de cultura, teatro, literatura, música, dança e turbante, além de uma homenagem ao Movimento de Cultura Popular (MCP), encabeçado pelo pedagogo pernambucano Paulo Freire entre os anos 1950 e 1964, centrado em alfabetizar as camadas mais pobres através da arte e cultura populares. Ao fim do dia haverá uma noite cultural com shows gratuitos dentro da universidade.

A estudante de teatro Rosa Amorim destaca o papel da arte nesse momento histórico do Brasil. “Nesta conjuntura política o diálogo entre os estudantes se faz extremamente necessário, porque precisamos debater o projeto de universidade que queremos para nós e para as próximas gerações. Mas como fazer o debate político chegar ao máximo de estudantes? Através da arte e da cultura. E isso tem tudo a ver com o que é a UNE Volante”, pontua Amorim.

A frente da construção dessa passagem da UNE por Pernambuco está a União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), entidade estadual de representação dos estudantes universitários. A presidenta da UEP, Manuella Mirella, vê a passagem da UNE Volante no estado como algo histórico. “Em tempos de repressão, retirada de direitos e ataques à democracia, nós trazemos o debate político para dentro da universidade e mostramos que somos filhos deste momento histórico, uma época que pede política. É colocar a política no centro do debate”, diz Manuella. “Precisamos politizar a universidade. Este é o nosso maior desafio e será o nosso maior ganho”, completa a estudante, que fez questão de lembrar da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 395, de 2014, que propõe o pagamento de mensalidades nas universidades públicas.

Inquietações

Ela destaca ainda que, no contexto da UNE Volante, algumas universidades do estado também sediam o Festival Inquietações. “O festival também dialoga muito com a temática escolhida pela UNE para Pernambuco, porque apontamos a ausência de espaços de cultura nas universidades. Outras têm esses espaços, mas os estudantes não podem utilizá-los. É algo que precisa ser regulamentado, porque no momento muitas universidades não permitem atividades culturais”, diz Manuella. “E no nosso estado isso é fundamental, porque temos uma relação muito forte com o que já foi chamado de ‘folclore’, mas que hoje é reconhecido como cultura popular. Essa cultura é um caminho para debatermos nossa história e a política”, completa.

Para ambas as entrevistadas, construir na UFPE a passagem da principal entidade de representação estudantil do país é um desafio extra, porque a UFPE, apesar de sua importância, não tem um histórico recente positivo em relação à representatividade estudantil. “A UFPE é uma universidade que está há mais de 7 anos sem Diretório Central de Estudantes (DCE). E esta universidade receber a UNE Volante neste momento é dizer para os estudantes que este é o momento de nos organizarmos, de escutarmos uns dos outros as principais questões que envolvem a nossa vida na universidade”, diz Rosa. “Precisamos fazer o debate político através da arte e cultura enquanto despertamos o sonho de uma nova sociedade”, avalia Amorim, que também é militante do Levante Popular da Juventude.

Para ela, já passou da hora de os estudantes se organizarem para enfrentar os desafios. “O momento do Brasil é de extremo ataque a esse projeto de educação que busca incluir as camadas mais pobres na universidade. Então precisamos retomar o movimento estudantil, porque precisamos impedir a retirada de direitos na educação. Não podemos ficar parados assistindo isso acontecer”, reclama Amorim. “Marcar esse espaço na UFPE mostra que queremos construir um DCE também aqui. Através de um Diretório Central é muito mais fácil dialogar com os estudantes”, completa Manuella, que milita na União da Juventude Socialista (UJS).

De acordo com as entrevistadas, durante a semana haverá atividades de mobilização de estudantes para participarem do evento na sexta-feira (27). E a mobilização não se restringe à UFPE. Na vizinha UFRPE já foi realizado, na última quinta-feira (19), o Festival Inquietações. Segundo a presidenta da UEP, também está confirmada a chegada de um ônibus saindo de Caruaru e trazendo estudantes da região Agreste para participar do evento.

A UNE Volante surgiu na década de 1960, durante o governo popular de João Goulart, já no contexto de polarização e tensão pré-golpe militar. Naquele momento a UNE circulou o Brasil debatendo a reforma universitária e, na opinião de Rosa Amorim, “praticamente fundando o movimento estudantil em vários centros de ensino”, já que teve centralidade em estimular a fundação de centros acadêmicos (CAs), diretórios acadêmicos (DAs) e diretórios centrais de estudantes (DCEs). Como a atividade deste ano está inserida no contexto da campanha em defesa de universidades públicas, gratuitas e de qualidade, os locais escolhidos para sediar a UNE Volante são as universidades públicas.

UEP Itinerante reproduzirá modelo

A entrevistada Manuella Mirela pontuou ainda que a entidade estadual deve circular todas as regiões de Pernambuco realizando festivais culturais e trazendo debates políticos urgentes para os estudantes. “Sabemos as dificuldades da UNE para circular todas as universidades do país. Então também cabe a nós fazer com que o debate alcance os estudantes que não poderão participar da UNE Volante”, diz a estudante. O lançamento da UEP Itinerante ocorre no dia de atividades da UNE Volante, passando posteriormente noutras cidades. De acordo com a entrevistada, o roteiro ainda não está fechado, mas o plano é passar em pelo menos uma universidade de cada região.

Edição: Catarina de Angola