Pernambuco

AUDIOVISUAL

Vídeos registram os anseios do povo nas cartas para Lula

Projeto ouve e grava o que a população tem a dizer para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O projeto pretende percorrer diversos bairros e cidades pernambucanas
O projeto pretende percorrer diversos bairros e cidades pernambucanas - Rani de Mendonça

"Como é que a gente começa essa carta?"
"Meu amor de presidente".

A carta é um instrumento de comunicação bastante antigo. Muita coisa do que se sabe sobre os períodos históricos do país e do mundo foi escrito em alguma carta por ícones importantes na história. Mas, as cartas também dizem desejos, anseios e visões individuais. É dessa ferramenta que profissionais do audiovisual recifenses se apropriaram para estimular o debate político do país.

Com a prisão política do ex-presidente Lula, militantes estimularam o envio de cartas para a sede da Polícia Federal, onde ele está preso desde o dia 7 de abril. Nasceu então o projeto #CartasparaLulaLivre com o intuito de ouvir o que a população tem a dizer para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como forma de disputar a narrativa de que o povo está alheio ao cenário político nacional.

Cláudio Ferrario e Nilton Pereira tiveram a ideia, junto com o Coletivo Jacaré, de sair nas ruas gravando o que o povo escreveria para Lula em uma carta. Ao que parece, coisa simples: uma mesa, dois bancos, duas câmeras e uma plaquinha “escreva uma carta para Lula”, mas que é de um significado imensurável. Homens e mulheres param, sentam e ditam tudo que diriam para o presidente que mudou a história do país. Para Bruna Leite, produtora do projeto, tem sido bastante emancipador o impacto dos discursos das pessoas que sentam para falar. “Quando colocamos uma câmera na mão, vamos para rua e nos deparamos com um tipo de discurso totalmente consciente e ainda de uma mulher negra, que se acha que não participa da política, ficamos extremamente impactados. E é isso a alma do projeto”, diz.

O episódio ao qual Bruna se refere é de um dos trechos da primeira carta que diz: "Lula tem que vir 'pra' rua, minha gente! Tem que todo mundo se unir, correr atrás 'pra' ajudar esse homem. Esse homem ajudou nós, a gente tem que ajudar ele. Tem arrumadinho por trás disso, porque não querem que o pobre vá 'pra' frente, querem que o pobre peça esmola. Onde era que pobre fazia faculdade? Pobre nunca fez faculdade no Brasil. Eles querem que o pobre seja escravo novamente".

Ator e responsável por convidar e, muitas vezes, escrever o que as pessoas ditam para que se transforme em carta, Cláudio Ferrario afirma que o projeto quer chegar na liberdade de Lula não somente pela injustiça que está sendo feita com o presidente, mas também pelos próximos passos do país. “Queremos dar voz às pessoas que querem Lula livre também e que não têm voz na mídia tradicional. E nós fazemos isso filmando o povo e deixando o povo falar. Sempre se colocam muito bem. O povo sabe das coisas, sabe o que quer, sabe onde quer chegar. Essa história de que o povo não sabe das coisas é 'balela'”, conta.

"#CartasparaLula" começou com foco na prisão do presidente Lula, mas agora visualiza novos fronts de luta. “Queremos continuar com o mesmo nome, mas com novas lutas, como o caso Marielle, por exemplo. Vamos fazer com que Lula seja essa ideia e que sejam cartas de um projeto de sociedade que a gente quer”, ressalta Bruna.

O projeto pretende percorrer muitos bairros e cidades do estado. Já foi feito na área central do Recife e no bairro de Brasília Teimosa, primeiro bairro que Lula visitou quando se tornou presidente do Brasil. “Queremos ocupar espaços de resistência historicamente e não os espaços que já combatem o projeto político hegemônico, como as passeatas pró Lula, por exemplo. Queremos mostrar de fato que esses territórios, que são os bairros populares, e essas pessoas têm consciência política da injustiça que está acontecendo”, conta Bruna.

Agora, o projeto se organiza para visitar o sertão pernambucano, mais especificamente a cidade de São José do Egito.

Edição: Catarina de Angola