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Opinião | Lutas nos bairros

Durante o período de repressão militar, as organizações populares de bairros se mostraram centros de enfrentamento

Brasil de Fato |Recife (PE) |
Um dos bairro onde a Frente Brasil Popular tem organizado atividades é Peixinhos, na cidade de Olinda.
Um dos bairro onde a Frente Brasil Popular tem organizado atividades é Peixinhos, na cidade de Olinda. - MMM PE

Recife é uma cidade caracterizada por grandes confrontos em suas divisas e agravos nas condições de vida de seu povo. No ano de 1938, representava a cidade com a maior densidade demográfica do país. No mesmo ano, havia 45.581 mocambos em que viviam 164.387 pessoas. Em 1950, das 104.804 moradias, 30.319 possuíam água encanada; 52.958 instalações elétricas, e 56.365 aparelhos sanitários.

Marcante também foi a intensidade da organização popular local. Em 1963, foi criada a Federação das Associações de Bairros do Estado de Pernambuco (FABEP), época na qual surgiram dezenas destas, entre os anos de 1978 e 1982, ao ponto que em 1985 a região metropolitana do Recife já contava com 151 associações de bairro, sendo 75% de seus participantes mulheres. O fechamento democrático instaurado pelo golpe militar de 1964 foi responsável por perseguir, invadir e destruir os documentos de muitas dessas associações.

Em 1965, Dom Helder Câmara e a Igreja Progressista incentivaram a reorganização popular a partir da “Operação Esperança Urbana no Recife” e, em 1969, através do “Encontro de Irmãos.” Durante o período de repressão militar e tentativa de silenciamento da política, as organizações populares de bairros no Recife se mostraram centros fecundos de debates e enfrentamentos dos problemas cotidianos das comunidades, caracterizando-se como espaços possíveis de se exercer o diálogo e a democracia dentro do regime de exceção.

A organização popular engendrou lutas de enfrentamento à miséria e vitórias concretas na vida cotidiana do povo. Como exemplo, tem-se a conquista do conjunto habitacional mediante a ocupação do terreno e luta contra o transbordo de lixo em Peixinhos; a saída de centenas de famílias que moravam em palafitas no bairro de Brasília Teimosa e a conquista de água encanada, energia, creches, criação de escolas e postos de saúde.

Pode-se citar ainda a luta contra o muro da vergonha que cercava uma praça pública, no Ibura; a luta pela padaria comunitária em Chão de Estrelas; a luta por escadarias nos morros de Casa Amarela, por causa do escorregamento das pessoas nas barreiras durante o inverno; a luta e construção da ponte da Amizade, na divisa entre Recife e Olinda; denúncias de casos de violência contra as mulheres a partir de 'apitaços', em Nova Descoberta, além da redução do preço da carne devido ao boicote de donas de casa de vários bairros durante a campanha contra o alto custo de vida.

Neste momento difícil da conjuntura brasileira, completados dois anos de golpe de Estado no país, medidas como o congelamento de investimentos na saúde, educação e assistência social públicas e a privatização de estatais e bens comuns seguem a todo vapor. Do lado de cá, as organizações populares resistem em suas lutas cotidianas por sobrevivência e melhores condições de vida.

Em consonância a estas corajosas iniciativas locais, a Frente Brasil Popular tem se dedicado à construção do Congresso do Povo, com o objetivo de se engajar ao ininterrupto trabalho das organizações populares, contribuir com a politização do cotidiano onde vivem as pessoas, estimular a criação de comitês populares em defesa da democracia e libertação de Lula, construir um projeto soberano de nação e reacender fagulhas de lutas unitárias e massivas no país.

*Militante da Marcha Mundial das Mulheres e da Frente Brasil Popular.

Edição: Catarina de Angola