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Arbitrariedades da Lava Jato geraram candidatura autoritária de Bolsonaro

Avaliação foi feita pelo jornalista Daniel Giovanaz durante o lançamento do livro “Dossiê Lava Jato”

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Daniel Giovanaz durante o lançamento de seu livro na Vigília Lula Livre, em Curitiba
Daniel Giovanaz durante o lançamento de seu livro na Vigília Lula Livre, em Curitiba - Foto: Mauro Calove

A Operação Lava Jato foi a semente do autoritarismo político que cresce no Brasil. É o que defende Daniel Giovanaz, jornalista do Brasil de Fato, no lançamento de seu livro “Dossiê Lava Jato: um ano de cobertura crítica”, nesta terça (16), na Vigília Lula Livre, em Curitiba. 

Através de uma série de reportagens, publicadas pelo Brasil de Fato Paraná, Giovanaz discute os abusos, as violações e os impactos econômicos que aconteceram como consequência da força tarefa capitaneada pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro. 

Para o jornalista, a partidarização do sistema judiciário e a cobertura midiática tendenciosa deram início ao processo de instabilidade institucional que favoreceu a ascensão de uma figura política autoritária como Jair Bolsonaro (PSL). 

“Ao se atropelar uma Constituição Cidadã, que está completando 30 anos, a gente está colocando em risco vários precedentes e abrindo caminho para o autoritarismo, que, na minha leitura, a candidatura de Jair Bolsonaro sintetiza todo esse processo”, afirma Giovanaz.

Além do impacto político, o jornalista entende que a Operação Lava Jato desencadeou impactos econômicos e sociais, como o acirramento da polarização política, “a estagnação do parque industrial brasileiro, o desemprego gerado a partir disso, e a entrega do pré-sal” ao investimento estrangeiro.

Para Giovanaz, desde 2014, quando se iniciou a Operação Lava Jato, mídia e judiciário cumpriram o papel de transformar a investigação policial em uma “luta do bem contra o mal”, ao invés de “debater e questionar as contradições da própria Operação”. 

“Nós não estamos questionando se houve ou não corrupção, mas a forma como isso é combatido, a partidarização dos processos e também as consequências que podem advir de uma cobertura midiática que apenas enaltece a operação e fecha os olhos para os seus problemas e para os riscos à Constituição”, explica o jornalista.

Giovanaz afirma que o livro é um instrumento de disputa de narrativa, que traz uma visão sobre a Operação Lava Jato diferente daquela empregada pela mídia comercial. Ele diz também que seu objetivo é colocar a Lava Jato na linha do tempo da conjuntura política atual e, a partir disso, “alertar para o que pode vir depois da Lava Jato”: um processo autoritário de “corte de direitos, de violações da Constituição, dos direitos trabalhista e sociais”. 

“Tudo isso estava plantado lá em 2014, naquela semente que foi o início da Operação Lava Jato, a não aceitação da eleição da Dilma Rousseff, que resultou no golpe, no afastamento do ex-presidente Lula da corrida presidencial e na consequente ascensão do Bolsonaro enquanto representante do campo da direita, do campo empresarial e do mercado financeiro especulativo”, explica.

Local de resistência

Para Giovanaz, lançar o “Dossiê” na Vigília Lula Livre tem uma importância simbólica, pois o local representa uma mobilização permanente contra a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Vigília teve início há 192 dias, quando Lula foi detido na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. 

“Aqui é local de luta, de resistência e o ex-presidente Lula foi o grande símbolo da partidarização da Operação, ele foi o grande alvo desses processos. A relação que se criou do juiz Sergio Moro com o Lula, foi uma relação binária de herói e vilão, construída pela mídia comercial”, diz Giovanaz.

Edição: Diego Sartorato