Pernambuco

INTERCÂMBIO

Agricultores e agricultoras vão à África e América Central para trocar experiências

Proposta é inspirar práticas de convivência com o Semiárido em outras regiões do mundo

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
Outras etapas do intercâmbio já foram realizadas, como a visita de delegações de Honduras, El Salvador e Guatemala ao Semiárido brasileiro
Outras etapas do intercâmbio já foram realizadas, como a visita de delegações de Honduras, El Salvador e Guatemala ao Semiárido brasileiro - Vanessa Gonzaga

A seca no Semiárido brasileiro, que foi de 2012 a 2017, foi uma das mais longa da história do Brasil, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mesmo sem períodos significativos de chuva, a última seca também é apontada como uma das que menos trouxe mazelas ou danos sociais que eram comuns em períodos de estiagem, como o alto índice de mortes por inanição, migrações para outras regiões e saques a estabelecimentos comerciais.

Para organizações ligadas à promoção de políticas sociais no Semiárido, isso é reflexo da implantação de projetos como o Programa 1 Milhão de Cisternas, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a chegada do Bolsa Família na zona rural e várias outras políticas de Estado que possibilitaram o acesso à agua para consumo humano e produção de alimentos, assim como o incentivo a comercialização da produção vinda da agricultura familiar e agroecológica.

Para intercambiar experiências baseadas nessas políticas e vários outros projetos, a partir dessa segunda (5) até a próxima terça (13), um grupo de 13 brasileiros do Semiárido vão atravessar o oceano Atlântico para encontrar com as famílias agricultoras senegalenses na região do Sahel. A população do Senegal vive desde outubro do ano passado uma crise alimentícia resultante da falta de chuva. Segundo a organização não governamental Ação Contra a Fome, estima-se que falta de chuva deixou mais de 245 mil pessoas sem alimentos no país. E uma em cada cinco crianças sofre de desnutrição aguda.

Um dos objetivos da viagem, além de levar as experiências brasileiras, é aprender as formas desenvolvidas em outras regiões do mundo para diminuir os impactos dos períodos de estiagem causados não apenas pelas condições climáticas das regiões semiáridas, mas também pelo aquecimento global, que acentua e prolonga as secas e processos de desertificação.

O evento, organizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) busca de medidas que, de fato, tragam soluções sistêmicas para essas questões que impactam não apenas a produção de alimentos, mas a qualidade de vida das populações que habitam essa região. Para Cícero Félix, coordenador da ASA, a viagem é mais do que a troca de métodos e técnicas “Ir para o Senegal é para nós uma volta as raízes, para beber de novo da fonte do povo africano. Isso está num contexto maior que é a adaptação dos povos em regiões semiáridas com essas mudanças climáticas, já que a perspectiva é que essas regiões fiquem cada vez mais áridas, por isso precisamos aprender com os povos a como nos adaptar. Estamos indo com muita esperança, entusiasmo e alegria para a aprendizagem coletiva”.

Nesse mesmo período, também acontece a terceira etapa do intercâmbio com os campesinos e campesinas da Guatelama e El Salvador, que vivem no Corredor Seco da América Central. De 5 a 14 de novembro, um grupo de 10 pessoas - entre elas mulheres cisterneiras, como são conhecidas as pedreiras que constroem cisternas de placa de cimento - vão realizar oficinas de construção desta tecnologia social que tem possibilitado o acesso à água de milhares de famílias no Semiárido brasileiro. A proposta é que aos poucos, as técnicas que tiveram êxito sejam implantadas em outros países como políticas de Estado, como explica Cícero “Aqui no Brasil, o Programa 1 Milhão de Cisternas e o Água Para Todos, que são os mais conhecidos, são políticas de Estado, não são de um prefeito, governador ou presidente. A sociedade brasileira precisa defendê-las independente do governante. Já existe a perspectiva de instalar em regiões da África o Programa 1 Milhão de Cisternas, o que é bastante animador e traz esperança para que o povo amplie suas conquistas para ter condições dignas de vida em diversos lugares do planeta”.

Edição: Monyse Ravenna