Pernambuco

DIREITOS TRABALHISTAS

Mais de 35 marcas de moda estão envolvidas com trabalho escravo no Brasil

Aplicativo foi desenvolvido para ajudar a monitorar as condições de trabalho na moda brasileira

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Recentemente a grife Amissima, que vende roupas com valores acima de R$ 1000,00 foi denunciada por trabalho análogo á escravidão
Recentemente a grife Amissima, que vende roupas com valores acima de R$ 1000,00 foi denunciada por trabalho análogo á escravidão - Reprodução

Durante as últimas semanas, o caso envolvendo a grife Amissima, que comercializa luxuosos vestidos femininos, soma-se a outras 37 marcas que utilizaram mão de obra análoga à escravidão. Todas as informações sobre elas podem ser conferidas no aplicativo Moda Livre, que avalia desde 2013 as ações adotadas para combater o trabalho escravo entre os fornecedores e que acaba de ser atualizado.

A fiscalização do Ministério do Trabalho resgatou 14 trabalhadores em duas oficinas que produziam roupas para a Amissima. A operação, realizada em novembro de 2018, constatou que a jornada chegava a 14 horas diárias, que os trabalhadores não tinham carteira assinada e recebiam menos do que o salário mínimo.  Procurada pelo Moda Livre, a Amissima se negou a informar se adota medidas para combater a precarização trabalhista em sua cadeia de fornecimento. Das 132 marcas atualmente avaliadas pelo aplicativo, mais de 40% estão na mesma situação.

Mais de 400 costureiros e costureiras foram encontrados em condições análogas às de escravos no Brasil. A maioria dos casos ocorre em pequenas confecções terceirizadas. As vítimas mais comuns são migrantes sul-americanos que trabalham em oficinas em condições degradantes. São locais suscetíveis a incêndios, marcados pela falta de higiene e que muitas vezes também servem de moradia aos trabalhadores. 

Mais transparência

Apesar dos recorrentes problemas, o Moda Livre também mostra que ações de transparência estão crescendo entre alguns varejistas.  Medidas como estas são uma tendência internacional. Adidas, Calvin Klein, Levis, Nike e Puma divulgam o nome de seus fornecedores na internet. Atualmente, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) também publica a relação de confecções aprovadas pelo seu programa de certificação. Marcas como Brooksfield, Le Lis Blanc, Hering, Renner e Riachuelo informam que trabalham com fornecedores certificados pela Abvtex, mas não explicita quais são.   

 

Como funciona o aplicativo

Um questionário-padrão é enviado para as marcas e grupos varejistas de moda em atividade no Brasil. As respostas geram uma pontuação que classifica as empresas em três categorias: verde, amarela e vermelha. As empresas que não respondem ao questionário são automaticamente colocadas na cor vermelha devido à falta de transparência.

Na categoria verde estão empresas que demonstram ter mecanismos de acompanhamento sobre sua cadeia produtiva, e que possuem histórico favorável em relação ao tema. Na categoria intermediária estão inseridas as marcas que demonstraram ter mecanismos de acompanhamento, mas que têm histórico desfavorável em casos de trabalho escravo e/ou precisam aprimorar seus mecanismos.

Além das que não são transparentes, também entram na cor vermelha as marcas com pior avaliação. São aquelas que não demonstraram ou não informaram adotar ações minimamente adequadas para evitar situações de escravidão moderna na produção de suas roupas.

O objetivo do questionário-padrão é avaliar como as empresas monitoram as condições de trabalho de seus fornecedores a partir de quatro indicadores básicos: Políticas, Monitoramento, Transparência e Histórico. O aplicativo não recomenda que o consumidor compre ou deixe de comprar de determinada marca ou loja, apenas garante informação e transparência.

Edição: Vanessa Gonzaga