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Em Pernambuco, vereador bolsonarista já se mostra frustrado

Líder do PSL em Petrolina sente que governo tem mandado recados de que práticas corruptas continuam

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O vereador se sente diretamente atingido pelo suposto esquema de candidaturas laranjas
O vereador se sente diretamente atingido pelo suposto esquema de candidaturas laranjas - Adriano Machado/Reuters

O vereador Gabriel Menezes (PSL), da cidade de Petrolina, no sertão de Pernambuco, está frustrado com algumas decisões do seu colega de partido e presidente da República, Jair Bolsonaro. Entre as críticas, estão a divisão de recursos do PSL, as possíveis candidaturas laranjas e a proximidade estabelecida pelo Governo Federal com o senador Fernando Bezerra Coelho, adversário de Menezes na política local.

Gabriel Menezes está no PSL desde 2016, quando se filiou para a bem sucedida candidatura à Câmara de Petrolina. "Já votei em Lula e Dilma, até fiz campanha, mas nunca fui do PT. E simpatizo com Ciro [Gomes, hoje no PDT], por ser nordestino. Mas a entrada de Bolsonaro no PSL determinou meu apoio a sua candidatura", conta ele, que já gostava das ideias de Bolsonaro no campo da segurança pública. Ele lembra com orgulho que foi a única liderança na região no ato de filiação de Bolsonaro ao PSL, em Brasília.

No primeiro semestre de 2018 ficou acordado que, após as eleições, Gabriel Menezes assumiria a presidência do Diretório Municipal do PSL em Petrolina. Passado o pleito, o vereador encontrou o presidente estadual do PSL, Marcos Amaral, que gravou um vídeo anunciando Menezes como presidente do PSL Petrolina. Mas a nomeação não foi efetuada oficialmente. E nem será, já que Gabriel tem dito publicamente que, por enquanto, não quer mais assumir a direção do partido.

Isso porque, poucos dias após o encontro com Marcos Amaral, reportagem da Folha de S. Paulo revelou um suposto esquema de candidaturas laranjas em Pernambuco, que receberam até R$400 mil e obtiveram pouquíssimos votos. Os valores são superiores até mesmo aos repassados pelo partido para a campanha de Bolsonaro e teriam servido para "turbinar" a única campanha bem sucedida no estado, a do deputado federal reeleito Luciano Bivar (PSL). "Veio à tona essas informações sobre o suposto laranjal, foi quando fiquei sabendo sobre os valores expressivos recebidos por essas candidatas", lamenta.

Menezes recebeu R$55 mil do fundo partidário, R$15 mil de Bivar e colocou mais R$10 mil do próprio bolso na sua campanha a deputado estadual, quando obteve 14 mil e 600 votos, sendo o 85º candidato mais votado, longe das 49 vagas na Alepe, mas o 2º mais votado do PSL, que em Pernambuco não elegeu deputado estadual. Menezes também foi aliado de primeira hora de Luciano Bivar.

O vereador se sente diretamente atingido pelo suposto esquema de candidaturas laranjas, pois avalia que, com mais recursos, sua candidatura a Alepe teria chances reais. "O partido me disse que não poderia colaborar financeiramente como combinado. Mas não faltava dinheiro. Havia dinheiro sobrando", reclama. "Não posso deixar o partido agora, porque arriscaria perder o mandato por infidelidade partidária. Quero muito que as coisas se esclareçam. Se os ilícitos do PSL se confirmarem, ficará evidente que o partido enterrou minha candidatura a estadual", diz, em tom de decepção.

Gabriel Menezes foi o principal cabo eleitoral de Bolsonaro em Petrolina. Ele aparece em vídeos dizendo que sob a gestão Bolsonaro "o Nordeste viverá um tempo de prosperidade como nunca viveu". A campanha em Petrolina deu a Bolsonaro 30% dos votos da cidade no 1º turno e 32% no 2º turno. A adesão local reúne pouco mais de 40 mil eleitores, ou 20% da população.

No fim de janeiro ele esteve num congresso que reuniu em Serra Talhada as lideranças do PSL no sertão do estado. O próximo evento do partido na região estava agendado para maio, em Petrolina, onde Gabriel Menezes estaria responsável pela organização do evento. Mas ao Brasil de Fato PE o vereador afirma que não sabe se o evento está mantido. "E se houver, não terei qualquer participação".

Família Coelho

O clima de Gabriel Menezes no PSL azedou de vez no último dia 19 de fevereiro, ao ver Bolsonaro escolher como líder do governo no Senado o também petrolinense Fernando Bezerra Coelho (MDB). "Eu gostaria muito de comemorar a indicação de um nordestino para a liderança do governo no senado, sobretudo por ser da minha cidade. Porém, conhecendo a fundo o indicado, limito-me a registrar minha profunda indignação", lamenta. Na política local Gabriel Menezes faz oposição ao prefeito Miguel Coelho e a toda a família Bezerra Coelho.

Em suas expetativas sobre o novo governo, "políticos assim [como Fernando Bezerra] não teriam espaço no Brasil que acreditamos e queremos". Sua nota, publicada em redes sociais com uma bandeira do Brasil em preto e branco, encerra dizendo para si mesmo: "esqueça a nova política, ela não existe". Representante de uma verdadeira oligarquia familiar de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho é também investigado por suposto desvio de R$ 41,5 milhões em esquema com construtoras no período em que FBC presidiu o Complexo Portuário de Suape.

Na opinião do vereador, a nomeação é frustrante para muitos petrolinenses. "Bolsonaro foi eleito com a bandeira do combate a corrupção. E nomeou para líder do governo na Casa Alta alguém que tem cinco inquéritos. Lamentavelmente é um recado de continuísmo das práticas que a população tanto esperou para se libertar", opina.

Existe ainda a possibilidade de o PSL pernambucano dar abrigo ao prefeito Miguel Coelho (PSB) e ao pai e senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), que estão em conflito com as direções estaduais de seus respectivos partidos. “Se essa porta for aberta para o prefeito, vou procurar uma janela para sair. No cenário local onde houver a presença do grupo do senador Fernando Bezerra Coelho, não haverá a minha", garante Gabriel Menezes.

No entanto, ele não se diz contra - e até exalta - a família Coelho, mas é contra os Bezerra Coelho, parcela da família que detém quatro mandatos atualmente. "Petrolina deve muito a família Coelho: a Nilo, Osvaldo, Geraldo. As pessoas sentem saudades deles, mas não se sentem representadas pelo grupo do senador Bezerra Coelho. As pessoas separam os Coelho dos Bezerra Coelho. Fernando está enterrando a história de sua família", avalia Gabriel Menezes.

Gabriel está em seu primeiro mandato como vereador e se posiciona publicamente contra a reeleição. Alguns blogs da região do Vale do São Francisco apontam Gabriel Menezes como possível candidato a Prefeitura de Petrolina em oposição aos Bezerra Coelho, o que seria inviável se a legenda for entregue ao clã familiar. Mas como a janela para migração para outros partidos só será aberta no início de 2020, o vereador deixou a decisão para o futuro.

Apesar dos percalços, o vereador segue acreditando que o governo de Jair Bolsonaro pode dar certo. Ele reconhece alguns erros, mas também vê a imprensa com suspeita. E, por fim, torce para que alguma parte de suas expectativas se efetivem. "Espero que os acertos comecem".

Edição: Monyse Ravenna