Coluna

O futuro nos reserva a volta da fome a milhões de pessoas

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 Me deparei com imagens, relatos e rostos que falam de um mundo ao qual conheci de perto
Me deparei com imagens, relatos e rostos que falam de um mundo ao qual conheci de perto - Reprodução YouTube
O documentário “Histórias da fome no Brasil” deveria ser recomendado pelo MEC

Tudo sofre e não resiste 
este fardo tão pesado, 
no Nordeste flagelado 
em tudo a tristeza existe. 
Mas a tristeza mais triste 
que faz tudo entristecer, 
é a mãe chorosa, a gemer, 
lágrimas dos olhos correndo, 
vendo seu filho dizendo: 
mamãe, eu quero morrer
(ABC do Nordeste Flagelado, Patativa do Assaré) 

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É com esse verso declamado pelo próprio autor, Patativa do Assaré, que se inicia o documentário Histórias da Fome no Brasil (2017), produzido sob a direção de Camilo Tavares. Um documentário que deveria ser recomendado pelo Ministério da Educação como ferramenta para compor a proposta político pedagógica das escolas brasileiras, ao invés de se orientar que a comunidade escolar cante o Hino Nacional em frente ao pavilhão da bandeira nacional. Certamente a realidade histórica apresentada de forma harmoniosa nessa obra, é capaz de gerar uma tomada de consciência sobre nossa história e projetar o que reserva o futuro para os trabalhadores desse país.


Em cada uma das cinco vezes que assisti ao documentário, me deparei com imagens, relatos e rostos que falam de um mundo ao qual conheci de perto, em minha terra natal Jabitacá, pequeno distrito do município de Iguaraci no Sertão do Pajeú, em Pernambuco. Uma realidade que quando cheguei à capital em janeiro de 1990, também estava presente. Deparei-me com calçadas, esquinas e marquises de lojas repletas de pessoas em situação de rua, morando, pedindo comida ou alguma ajuda para se alimentar. As cenas vistas pelas ruas do centro do Recife, naquele momento eram muitas vezes mais fortes, pelo número absoluto de pessoas, quando comparada com a realidade que por vezes parecia ter deixado no sertão pernambucano.


Se no Recife as pessoas iam às ruas pedir algum tipo de ajuda, no sertão os dias das feiras livres e as portas das prefeituras, eram os únicos lugares capazes de se conseguir algo para matar a fome. Realidade essa que foi aos poucos sendo esquecida. Imagens que foram se apagando de nossas mentes, a partir doa acesso a políticas públicas que favoreceram melhores condições de vida das pessoas. Entre as medidas tomadas para garantir melhores condições de vida às pessoas, a política de valorização do salário mínimo, a geração de emprego e a valorização da agricultura familiar e programas de distribuição de renda ampliaram as condições de acesso aos alimentos.


O momento que vivemos no Brasil, e o avanço de setores conservadores da Direita na América Latina, apontam para um momento de retorno acelerado à extrema pobreza e consequentemente à fome em nosso país. É urgente que nossos processos de formação e mobilização social possamos usar esse documentário Histórias da Fome no Brasil, para que as pessoas conheçam e se reconheçam nessas histórias, tomem consciência do momento em que vivem, e assim possam resistir e lutar para que no orçamento público sejam contemplados recursos para políticas e programas que atendam as diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.


Acesso o endereço e assista ao documentário: https://www.youtube.com/watch?v=xcVLG-hEb9s 

Edição: Monyse Ravenna