Pernambuco

MEIO AMBIENTE

Contaminação do Rio São Francisco pode afetar os diversos usos da água

Lama tóxica vinda do crime da Vale em Brumadinho pode restringir uso da água para consumo humano

Brasil de Fato | Petrolina (PE) |
A água, contaminada com metais pesados como cromo e mercúrio, pode ocasionar doenças neurológicas
A água, contaminada com metais pesados como cromo e mercúrio, pode ocasionar doenças neurológicas - Antônio Silva

Após a chegada da lama tóxica da Vale nas barragens de Três Marias e Retiro Baixo, uma das preocupações tem sido a contaminação do Rio São Francisco, que em algumas cidades já vem apresentando sinais de contaminação, como a turbidez da água. Caso a suspeita de contaminação se concretize, serão mais de 500 municípios afetados social e economicamente.

Impactos na pesca artesanal

Para quem trabalha com a pesca artesanal, são diversos impactos de diferentes dimensões, desde a contaminação e extinção de algumas espécies de pescado até o adoecimento físico e mental dos pescadores e pescadoras, como explica Elionice Sacramento, do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais. “A contaminação impacta as espécies de pescado e impacta os pescadores e as pescadoras na saúde física, porque são corpos que estão em imersos nessas águas contaminadas e que tem o rio como um ambiente de trabalho. Há também o adoecimento mental porque aqueles trabalhadores vêem o seu território de vida, identidade e sustento impactado”, afirma.

Um outro problema elencado é a falta de comunicação do Estado sobre os níveis e locais de contaminação, o que gera desinformação sobre as áreas ainda disponíveis para a pesca: “A nossa missão, que é colocar na mesa de todo brasileiro alimentos de qualidade fica comprometida quando a gente não tem o apoio do Estado no sentido de tentar políticas públicas com seriedade, porque existe um conflito em relação a divulgação ou não, a confirmação ou não dessas notícias [sobre a contaminação]. O Estado fica tentando dissimular o problema porque não quer tratar e ás vezes a gente fica na situação de ter que compactuar com esse silenciamento” ressalta.

Impactos para a população

Se a contaminação das águas do Velho Chico com o esgoto vindo das cidades já preocupa, a chegada dos resíduos tóxicos pode impedir a população de consumir a água, como explica João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco: “Existem tecnologias nas estações de tratamento que deixam a água contaminada com o esgoto potável, mas água com rejeitos não, porque os metais pesados não são retirados com a tecnologia atual das estações de tratamento”. Um dos maiores problemas relacionados ao consumo da água com metais pesados como chumbo, zinco, ferro, mercúrio e outras substâncias é o comprometimento da saúde da população. “Eles são muito prejudiciais para a vida das pessoas. Esses metais podem ocasionar problemas neurológicos, por isso o cuidado com esse tema”, explica.

Hoje, a lama tóxica está no curso do Rio Paraopeba e nas barragens que vão em direção ao São Francisco, assim, frequentemente as chuvas nessa região podem misturar novamente o resíduo tóxico com a água. Uma solução apontada por João é a retirada mecânica dos resíduos, mas isso pode gerar outros problemas: “O que a gente não pode é transferir problemas. O rejeito tem que ser tirado, mas vamos botar aonde? dependendo de onde esse rejeito for colocado, ele vai contaminar outro afluente do rio” questiona.

Impactos para a agricultura familiar

Na produção de alimentos, o principal problema é a contaminação. Levando em consideração que os alimentos agroecológicos e vindos da agricultura familiar são uma opção saudável e segura, a contaminação desses alimentos com metais pesados pode causar o mesmo impacto do que o consumo direto da água. Um outro problema na produção dos alimentos com a água são os possíveis problemas de saúde aos produtores, que terão contato diário com água contaminada e também aos alimentos, que podem reduzir em quantidade e qualidade, já que a água utilizada na irrigação estará imprópria.

Além disso, Cícero Félix, da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), reforça o impacto na vida da população que consome os alimentos e das comunidades que os produzem: “Em cadeia, toda a população está sendo atingida. São impactos ambientais, econômicos e sociais, porque a capacidade de produção e a qualidade desses alimentos fica comprometida. Os impactos ainda são imensuráveis. A vida das pessoas é afetada nessa instabilidade de não saber que tipo de água estão usando para diversas finalidades. São águas que vem para promover a vida ou para provocar a morte de plantas, peixes e até pessoas?

Edição: Marcos Barbosa