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INTERNACIONAL

Editorial | Vitória do povo venezuelano

Não é possível afirmar que o risco de golpe foi dissipado completamente. É preciso permanecer alerta

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Espera-se que a oposição venezuelana entenda definitivamente que é o povo quem mais sofre com as tentativas de golpe
Espera-se que a oposição venezuelana entenda definitivamente que é o povo quem mais sofre com as tentativas de golpe - Eneas de Troya

Ao que parece, depois de semanas de intensos ataques, ameaças e sanções, o ímpeto golpista dos Estados Unidos contra a Venezuela deu uma diminuída. Certamente que não por um lapso de democracia por parte do presidente Donald Trump e seus aliados. Mas, pela brava resistência do povo venezuelano, que não sucumbiu e permaneceu de pé, apesar da crise e das dificuldades instaladas naquele país.
A Venezuela vive uma crise, é bem verdade, mas não é de hoje. Há anos o país vive sob ataques e ameaças, mesmo quando o presidente estadunidense ainda era Obama. E há várias raízes para esta crise. A principal delas é uma brutal guerra econômica imposta ao país e que vem de dentro e de fora. De dentro podemos citar o intenso contrabando de produtos básicos com higiene e alimentação para países vizinhos, como a Colômbia, por exemplo. Tal contrabando objetiva, entre outras coisas, promover o desabastecimento dos mercados locais. De fora, houve a forte desvalorização do petróleo no mercado internacional que atingiu em cheio a Venezuela, mas também outros países considerados desafetos pelos EUA como o Irã e a Rússia.
A clara intenção dos Estados Unidos em derrubar o presidente Nicolas Maduro ficou ainda mais evidente quando deram condições para que o político venezuelano Juan Guaidó se autoproclamasse presidente de seu país no dia 23 de janeiro. Esperava com isso receber amplo apoio popular, de países aliados e do próprio exército venezuelano. Nada disso aconteceu como esperado. Apesar do apoio de setores da elite, o povo não embarcou nesta aventura. No exército foram mínimas as deserções. E, no cenário internacional, pouco mais de uma dezena de países reconheceram, como foi o caso do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro no Brasil.
Como se ainda fosse possível, no dia 30 de abril o Juan Guaidó e as forças que queriam derrubar Maduro foram para o tudo ou nada, apostando num levante popular. Chegaram ao cúmulo de libertar Leopoldo López, fiel símbolo das elites venezuelanas, golpista assumido, mas que também tentou e não conseguiu derrubar o governo.
É preciso que se diga que defender a democracia Venezuelana e o governo de Nicolas Maduro não se trata somente de concordar com todas as suas ações ou afirmar que não houve erros. Trata-se, na realidade, de reafirmar que quem deve definir o futuro da Venezuela é o povo venezuelano. Que a solução para a crise passa longe de ser a partir das vontades e dos desejos de Donald Trump, seus secretários, ou qualquer outro presidente ou empresa estrangeira.
Não é possível afirmar que o risco de golpe foi dissipado completamente. É preciso permanecer alerta. Porém, espera-se que a oposição venezuelana entenda definitivamente que é o povo quem mais sofre com as tentativas de golpe e a intensificação da guerra econômica. 
 

Edição: Monyse Ravenna