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LAZER

Opinião | A prefeitura de Paulista não salvou a quadra do mangueirão

O argumento da prefeitura é de que o local estava abandonado. Para nós, moradores, o abandono é do poder público

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Foram inúmeras as ações de manutenção realizadas e custeadas pelos próprios moradores nos últimos 10 anos
Foram inúmeras as ações de manutenção realizadas e custeadas pelos próprios moradores nos últimos 10 anos - Escambo Coletivo

Os bairros de Paratibe e Arthur Lundgren 1 localizados na cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife, não são diferentes dos demais bairros das periferias do Brasil. Por aqui falta bastante coisa: acesso adequado a água, saneamento básico, saúde, lazer, etc. Entre os dois bairros temos uma área livre chamada carinhosamente pelos moradores de Mangueirão. Esse espaço livre de lazer tem sido moeda de troca em período eleitoral por muitos atores políticos desde meados dos anos 1980, quando as chaves do habitacional Arthur Lundgren 1 foram entregues aos moradores, onde a área do mangueirão era identificada como área verde. 
Muitos já sentaram na Câmara dos Vereadores e Prefeitura prometendo sua transformação e até hoje vemos que isso não aconteceu. Em julho de 2018 as moradoras e moradores de Paratibe e Arthur 1 acordaram com o barulho das máquinas demolindo a quadra do Mangueirão por ordem do poder público municipal. A Destruição da quadra foi realizada para construção de uma Unidade Básica de Saúde. Para surpresa da atual gestão, o Escambo Coletivo junto com demais moradores da comunidade organizaram o movimento popular “Salve a Quadra do Mangueirão”, colocando-se contra o processo atropelado que não realizou uma consulta popular para decidir o futuro de uma área reconhecida como Território Afetivo dos moradores. 
Mas afinal, o que pensa um povo que “rechaça” um dispositivo de saúde do seu território? O direito ao lazer é uma garantia constitucional. O direito à saúde também. A saúde pública na perspectiva coletiva e integral entende que a melhor forma de não gerar doenças é promover qualidade de vida e bem estar, logo, lazer e cultura são expressões da garantia de saúde de determinada população. O mangueirão sempre foi o espaço que acolheu as atividades das comunidades, as peças de teatro, campeonatos de futebol, quadrilha juninas, entre outros. 
O argumento da prefeitura é de que o local estava abandonado. Para nós, moradores dos bairros, o abandono existiu por parte do poder público. Foram inúmeras as ações de manutenção realizadas e custeadas pelos próprios moradores nos últimos 10 anos. O Movimento Salve a Quadra do Mangueirão demonstrou a força do poder popular, promovendo debates em assembleias nas ruas e praças do bairro expondo a história afetiva da quadra e provando que é possível construir um complexo de lazer e esportes no local.
* Integrante do Escambo Coletivo

Edição: Monyse Ravenna