Paraná

LUTA LGBTI

"A LGBTIfobia está saindo do armário", diz um dos organizadores da Parada de Curitiba

20ª Parada da Diversidade LGBTI acontece neste domingo (01), às 12h, na Praça 19 de Dezembro

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Expectativa da organização é reunir cerca de 60 mil manifestantes na 20ª Parada da Diversidade LGBTI de Curitiba
Expectativa da organização é reunir cerca de 60 mil manifestantes na 20ª Parada da Diversidade LGBTI de Curitiba - Divulgação

O movimento LGBTI tem em 2019 um marco histórico: completam-se 50 anos da “revolta de Stonewall”, que deu força ao movimento organizado em luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais. A revolta, que começou em Nova York, nos Estados Unidos, se espalhou para diversas cidades ao redor do mundo e, até hoje, é lembrada como o marco inicial da luta LGBTI.

Para celebrar esse meio século de resistência, em Curitiba, a 20ª Parada da Diversidade LGBTI traz como tema e lema: “50 anos de Stonewall - E elas, Travestis, Transsexuais, Transgêneras, Drag Queens e Afeminadas continuam na luta!”. O evento acontece neste domingo (1), com início às 12h, na praça 19 de Dezembro, e marcha pela Avenida Cândido de Abreu até a Praça Nossa Senhora de Salete, no Centro de Curitiba.

Para Márcio Marins, coordenador geral da Associação Paranaense da Parada da Diversidade (Appad), o evento é um “grande manifesto” pela visibilidade e por respeito à comunidade LGBTI. “A parada vem para fazer enfrentamento. Não é carnaval fora de época nem micareta, é um evento de visibilidade dessa comunidade que há décadas, séculos vem sofrendo com a discriminação e a violência”, afirma.

Marins lembra que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTI no mundo. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, apenas neste ano, já foram mortas 141 pessoas LGBTI no país. Em 2018, foram 420 pessoas mortas pelo ódio à sua orientação sexual ou diversidade de gênero.

Para o coordenador geral da Appad, é notável que a guinada do país a um programa de governo ultraconservador e neoliberal, com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência, marca um período de retrocessos e ataques mais explícitos à comunidade LGBTI. Ele pondera que, mesmo que nos governos anteriores a pauta LGBTI tenha encontrado dificuldades de avanços, houve conquistas importantes. E cita como exemplos o Plano Nacional de Políticas Públicas para a População LGBT, a Conferência Nacional LGBT, a formação da Coordenação Nacional de Políticas Públicas para a População LGBT e a criação de um setor específico dentro do antigo Ministério dos Direitos Humanos.

"A coordenação LGBT ficou engessada. O Ministério que trabalhava com as nossas políticas públicas deixa de ter status de Ministério. Estamos vivendo retrocessos e, sem o menor exagero, nós tememos pela nossa segurança, porque o atual governo vem legitimando a caça e a execução das pessoas que não estão dentro do espectro da família tradicional brasileira. A LGBTIfobia está saindo do armário", diz Marins.

Corpos Invisíveis

A militante Renata Borges foi vítima de ameaças por sua atuação política em defesa dos direitos da comunidade trans. Em outubro, ela, que é transsexual e filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), teve sua casa invadida e duas facas foram deixadas em cima de sua cama. Para Renata, lembrar os 50 anos de Stonewall com um evento em praça pública é colocar em pauta a discussão de uma cidade que olhe para os “corpos invisíveis”. “Quando se faz uma parada LGBTI, coloca-se em questionamento que a sociedade precisa ser discutida e que novas políticas públicas precisam ser incorporadas”.

Para a militante, a 20ª Parada da Diversidade levar como lema a pauta trans é um reconhecimento necessário a essa identidade historicamente apagada dentro da sociedade como um todo e dentro do próprio movimento LGBTI.

Segundo dados do Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo (em números absolutos): nos últimos oito anos, foram mortas 868 travestis e transsexuais no país. A expectativa de vida para essa população, no Brasil, é de apenas 35 anos.

"Quando homossexualidade deixou de ser doença, a transexualidade entrou no CID [Classificação Estatística Internacional de Doenças] da OMS [Organização Mundial da Saúde]. Então, nós temos mais de 20 anos de atraso com a pauta LGBTI. Somos nós que estamos beirando o índice de 92% de prostituição, somos nós que temos a menor escolaridade. [O lema da 20ª Parada] coloca como protagonista aquilo que é invisível dentro do próprio movimento. É, para nós, uma esperança e também uma forma de denúncia", explica. A militante lembra também que no Brasil atual, em que o presidente Jair Bolsonaro coleciona declarações homofóbicas, “tudo se potencializou, o ódio, a perseguição”.

A expectativa da organização da 20ª Parada da Diversidade LGBTI de Curitiba é que estejam reunidas no evento cerca de 60 mil pessoas. 

Edição: Frédi Vasconcelos