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Brasileirão de 1987 em disputa?

A disputa é pela narrativa de um Campeonato definido pelo regulamento e pela Justiça

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em 1987, o Sport entrou em campo em todas as partidas previstas pelo regulamento e sagrou-se o único Campeão Brasileiro da edição
Em 1987, o Sport entrou em campo em todas as partidas previstas pelo regulamento e sagrou-se o único Campeão Brasileiro da edição - Divulgação/Sport Recife

Entrando em campo 38 vezes, o Flamengo confirma a condição absoluta do título do Brasileirão de 2019. Entretanto, ao se autointitular “hepta”, o time da Gávea desrespeita a história de ter abandonado um Brasileirão antes do término. Em 1987, o Sport entrou em campo em todas as partidas previstas pelo regulamento e sagrou-se o único Campeão Brasileiro da edição. 

O cenário de organização do Campeonato de 1987 era complexo em questões financeiras e políticas. Apesar das dificuldades, há registros de um regulamento (não cumprido pelo Flamengo) que contemplava mais diversidade e representatividade nacional da competição. Oficialmente, o Brasileiro de 1987 previa o cruzamento entre os módulos Amarelo e Verde, evitando as propostas de critérios exclusivos formulados por uma elite política de apenas 13 clubes.  

Em 1987, o Flamengo integrou o Módulo Verde, organizado a partir de critérios e interesses políticos e econômicos de um grupo que tentava romper com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O Módulo Verde também foi chamado de Copa União e contou com 16 clubes, sendo 13 das regiões sul e sudeste. O Sport disputou o Módulo Amarelo, organizado pela CBF e contemplando os clubes que não entraram nos critérios do “racha” feito pelo chamado Clube dos 13.  

A Copa União pode ser vista como um marco do elitismo no futebol brasileiro, ao contar com patrocinadores que traziam novas perspectivas na organização do campeonato. O interesse no Módulo Verde envolvia também os interesses de empresas do setor de comunicação, alimentos e até uma antiga companhia aérea. Ao mesmo tempo, não existia nitidez de critérios e desempenhos das equipes para intitular uma hierarquia de divisões no campeonato nacional. O Guarani, por exemplo, foi vice-campeão em 1986 e vice-campeão em 1987, integrando o Módulo Amarelo.        

Entre histórias contadas e histórias vividas, o fato é que o Flamengo e Internacional, representantes do Módulo Verde, não entraram em campo contra Guarani e Sport, respectivamente, e perderam por W.O. os jogos do quadrangular final do Brasileiro de 1987. Por sua vez, os confrontos entre Guarani e Sport registram um empate em 1x1, em Campinas, no dia 31 de janeiro de 1988, e uma vitória do Sport, por 1x0, no Recife, em 7 de fevereiro de 1988.   

O termo “polêmica” sobre 1987 poderia ser utilizado até o ano de 1999, quando o juízo da 10ª Vara Federal de Pernambuco aceitou o pedido e o trânsito em julgado favorável ao título do Sport. A decisão judicial ratificou o fato do time carioca descumprir o regulamento que previa o quadrangular final entre os módulos Amarelo e Verde. Ou seja, ao contrário das chamadas “viradas de mesa”, a Justiça decidiu pelo cumprimento de critérios pré-estabelecidos nos campeonatos. 

Atualmente, o Flamengo ostenta a taça do Módulo Verde, concedida por uma revista esportiva. O Sport mantém a taça oficial do Brasileirão de 1987, e disputou junto com o Guarani a edição da Libertadores da América de 1988, representando a condição de campeão e vice-campeão brasileiros, respectivamente. 

Além do próprio Flamengo, algumas empresas de comunicação permanecem desconsiderando o título do Sport e utilizando critérios subjetivos no juízo de valor sobre o tema. A atual diretoria do Sport se manifestou contrária aos recentes anúncios de “hepta” do Flamengo, prometendo acionar a Justiça por conta de prejuízos financeiros decorrentes do não reconhecimento do título pernambucano. 

Edição: Marcos Barbosa