Pernambuco

FIM DE ANO

Editorial Pernambuco | Um Natal sem fartura para as famílias brasileiras

Aumento do preço da carne e reajuste do salário mínimo abaixo do esperado marcam fim do ano do governo Bolsonaro

Brasil de Fato | Recife (PE) |
104 milhões de brasileiros, vive com apenas R$413 por mês, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
104 milhões de brasileiros, vive com apenas R$413 por mês, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - William West/AFP

“É muito difícil viver com 33 mil reais por mês”. Essa frase foi dita por Heloisa Wolf, esposa de Eduardo Bolsonaro, em vídeo veiculado em suas redes sociais. Os R$33 mil correspondem ao valor mensal que Eduardo, deputado federal do PSL/SP e filho do atual presidente Jair Bolsonaro, recebe pelo exercício do cargo político. Enquanto isso, a metade mais pobre da população, cerca de 104 milhões de brasileiros, vive com apenas R$413 por mês, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2018 e divulgada em outubro deste ano. 
A mesma pesquisa revelou o aumento da desigualdade e da concentração de renda no país, chegando a índices recordes desde que a pesquisa começou a ser realizada em 2012. Enquanto o 1% dos brasileiros mais ricos teve aumento real de 8,4% no rendimento médio mensal em 2018, os 5% mais pobres tiveram queda nos rendimentos de 3,2%. Ao mesmo tempo, os 10% da população mais pobre detém apenas 0,8% do rendimento, ao passo que os 10% mais ricos concentram 43,1%. 
O projeto de austeridade e de desmonte do Estado, que se iniciou com o golpe que levou Michel Temer à presidência da República e se aprofunda no atual governo de Jair Bolsonaro, materializado na reforma trabalhista, reforma da previdência, privatização das empresas públicas, entrega dos bens comuns, como terra, água e petróleo, e cortes em investimentos em educação, saúde e demais políticas públicas, serve justamente ao aumento da pobreza, da desigualdade e da concentração de renda. 
Sem acesso ao emprego formal, aos direitos trabalhistas e às políticas públicas, a maioria da população brasileira vai vivenciando o “aperto”, se submetendo à formas cada vez mais precárias de trabalho e de moradia e tirando itens da feira. Enquanto a esposa do deputado federal e filho do presidente da República se queixa, o que a teria feito “economizar” com lanches na rua em suas viagens à turismo pelo exterior, a maioria trabalhadora da população brasileira volta a viver com o risco do aumento da fome. 
A atual Ministra da Agricultura, Tereza Cristina afirma que não é papel do Estado interferir no preço da carne que subiu em média 20% esse mês devido ao aumento da demanda de exportação para a China. Ao mesmo tempo, pela segunda vez, o governo reduziu o valor do reajuste do salário mínimo do próximo ano. Não nos enganemos, o projeto do atual governo, subordinado aos interesses do capital internacional e do imperialismo, é desvalorizar a moeda nacional em benefício ao setor exportador, a exemplo do agronegócio. 
Final de ano é tempo de descanso, reencontros entre amigos e familiares, e deveria ser de fartura, paz e solidariedade na mesa da classe trabalhadora. Mas o que percebemos nessa reta final de 2019 é a aplicação de um projeto de carestia e de piora da vida da maioria dos brasileiros. 

Edição: Marcos Barbosa