Rio Grande do Sul

CARNAVAL

Bloco da Laje abre carnaval de rua de Porto Alegre

Saída do grupo que festeja resistência e luta reuniu mais de 20 mil foliões; demais blocos seguem com data indefinida

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Cortejo partiu da Ponte de Pedra, região histórica da cidade, de antiga ocupação do povo negro
Cortejo partiu da Ponte de Pedra, região histórica da cidade, de antiga ocupação do povo negro - Fotos: Josemar Afrovulto

Um mar de brincantes coloriu o centro de Porto Alegre, no domingo (26), em um dos cortejos mais aguardados da cidade, a saída do Bloco da Laje. Mais de 20 mil pessoas participaram da 9ª saída do coletivo conhecido por abrir de forma extraoficial o carnaval de rua da Capital, fazendo da alegria, da liberdade dos corpos e da manifestação cultural um estandarte de resistência.

Por volta das 9h, o cortejo iniciou na Ponte de Pedra, localizada no Largo dos Açorianos. Cruzou o viaduto e seguiu pela Avenida Borges de Medeiros em direção à praça Isabel, a Católica, atual área de prédios públicos que no início do Século XX foi território do povo negro. Por lá, onde havia uma estrutura aguardando, a festa seguiu até o início da noite. A cada ano, o Bloco escolhe um local diferente da cidade para abrigar seu carnaval.

Percurso encerrou na Praça Isabel, a Católica, mas foliões seguiram em festa na praça até início da noite

Músico e ritmista do Bloco Vini Silva conta que a escolha da região explora a entrada da antiga Porto Alegre. “A Ponte de Pedra foi aonde tudo começou por aqui. Logo ali do lado, tem a Augusto de Carvalho, lugar sagrado que por muitos anos tivemos os desfiles das escolas de samba. Mais pra lá tem a Rua da Margem, o Areal da Baronesa, a Cidade Baixa. Estarmos aqui é, de fato, estabelecer conexão com muita coisa da cidade”, explica.

O Bloco da Laje tem uma linguagem muito particular, é um grupo cênico musical carnavalizado, com músicas autorais. Nos meses anteriores à saída, o grupo realiza ensaios abertos no Parque da Redenção, sempre tendo em vista o poder da palavra, da alegria e da ocupação dos espaços públicos. Em 2019, lançou um álbum visual “As Quatro Estações”, produzido pelo grupo com financiamento da Natura Musical, que traz quatro sucessos do grupo: O que tu tem cidadão, Pregadão, Deixa Brincar e Recanto Africano.

Bloco da Laje ocupa as ruas com música, arte, brincadeira e crítica social

Vini destaca que a saída atingiu níveis muito impressionantes, “desde a quantidade de público, infraestrutura, demandas de produção, gastos, custos. A gente vem aprendendo a fazer a cada ano”. É realizado de forma independente, sem apoio do poder público. A captação de recursos vem de financiamento coletivo, trabalho e comunicação em rede, formato inspirado em produções e organizações independentes espalhados pelo Brasil. “Sem dúvida, somos o resultado de muitos outros que vieram antes de nós, e seremos sementes aos próximos que virão”, afirma o ritmista.

“A nossa investigação, quando fazemos carnaval na rua, é justamente revelar a história que não é contada nas placas das ruas, nos monumentos históricos, pela televisão e até mesmo na universidade. Criar novas narrativas é fundamental para essa nova cidade que se abre a uma nova década. Não é possível não considerar mais todos esses lugares de fala. Queremos viver outros anos 20, não mais os do século passado”, afirma Vini, posicionando-se de acordo com as letras do Bloco, que são carregadas de contestação ao conservadorismo. “A Laje é essa imensa massa sonora carregada de energia que passa como uma avalanche. Quem foi domingo, certamente viu e sentiu isso”.

Carnaval de rua de Porto Alegre

A programação oficial do Carnaval de rua de Porto Alegre vai contar com a saída de 24 blocos. A previsão era começar no dia 1º de fevereiro, mas a prefeitura adiou o início para o dia 15, já que o pregão para seleção da empresa promotora não teve vencedor. A Secretaria Municipal da Cultura está tratando com a Opinião Produtora sobre a realização do evento. Para isso, está sendo discutida a flexibilização de alguns itens do edital.

Conforme a prefeitura, as saídas vão ocorrer sempre nos sábados, domingos e feriados. Os circuitos centralizados serão Cidade Baixa (avenida Aureliano de Figueiredo Pinto - Praça Garibaldi), Circuito Centro Histórico e Circuito Orla (Trecho 1). Além desses circuitos, 12 regiões descentralizadas terão programação. Foram 27 os blocos habilitados:

Afro Tchê

Ai, que Saudade do meu Ex

Areal da Baronesa do Futuro

Bah Guri

Bloco B Loukos

Bloco da Amizade TK

Bloco da Malvina

Bloco do Bartira

Bloco do Fusca Azul

Bloco do Isopor

Bloco do OP

Bloco do Zé

Bloco Infantil dos Anjos

Bloco Não Era Amor

Cia. do Trago

Deixa Falar

Do Jeito que Tá Vai

Filhos do Cumpadi Washington

Galo do Porto

Gonhas da Folia

Império da Lã

Maria do Bairro

Os Dinobico’s

Panela do Samba

Panteras do Samba

Puxa que é Peruca

Ziriguidum Batucada Social

Há ainda outros blocos independentes, como a Turucutá Batucada Coletiva Independente, que tem saída prevista para o dia 14 de março e está com financiamento coletivo aberto.

Desfile das escolas de samba

Desde 2017 sem apoio da prefeitura, o desfile das escolas de samba do Carnaval de Porto Alegre vai contar com patrocínio e infraestrutura em 2020, através de uma parceria privada com a empresa Bah! Entretenimento, que realiza os carnavais de Cruz Alta, Pelotas e Uruguaiana. Será realizado entre os dias 6 e 7 de março, no Complexo Cultural Porto Seco, com ingressos que vão de R$ 10 a R$ 300.

Segundo informações da prefeitura, de um total de recurso de R$ 982 mil, as 13 escolas de samba dos grupos ouro e prata receberão, cada uma, cerca de R$ 75 mil. A verba será entregue em parcelas, conforme prestação de contas, entre fevereiro e outubro deste ano.

Edição: Katia Marko