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ENTRETENIMENTO

Opinião | Feminismo em foco no BBB 20

Reality vem abordando temas como machismo, assédio, racismo e fome

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O feminismo apresentado por mulheres consideradas femininas, com beleza padrão e com discursos calmos e bem elaborados foi bem recebido - Reprodução

Depois de uma versão considerada morna no ano passado, a Rede Globo investiu em convidar digitais influencers para a vigésima edição do Big Brother Brasil. Entre as preocupações dos espectadores se os convidados lavariam a louça e fariam sua própria comida, o grupo surpreendeu colocando em foco temáticas importantes como machismo, assédio, feminismo e sororidade. 

Na divisão natural dos grupos na casa, a maioria dos homens se uniu e iniciaram uma narrativa altamente machista objetificando o corpo das sisters e criando teorias de como manchar a imagem das influencers fora da casa. A ideia era seduzir duas participantes comprometidas, a empresária Bianca Andrade e a influencer Mari Gonzalez, para que o público as eliminasse pelo deslize. A estratégia machista era ousada, pois mesmo tendo namoradas, os participantes não se intimidaram sabendo que as mulheres seriam mais julgadas. 

Enquanto o plano se desenrolava, o ginasta brasileiro Petrix Barbosa – que ganhou destaque ao denunciar seu ex-treinador por abuso sexual – foi acusado nas redes sociais de ter assediado Bianca e, posteriormente a cantora Flayslane da Silva. O caso foi investigado pela polícia e o ginasta teve que prestar depoimento ao sair do confinamento. 

Sem concordar com o plano, a obstetra Marcela Gowan e a advogada Gizelly Bicalho revelaram o plano para as outras mulheres na casa, que se uniram para tirar satisfação com o ex jogador de futebol Hadson Nery e seus companheiros de estratégia. Estava criada uma das cenas mais icônicas da edição onde as mulheres se juntaram para brigar por respeito dentro da casa. 

No confronto, Hadson negou as informações em um caso clássico de gaslighting – uma forma de abuso psicológico onde as informações são distorcidas para favorecer o abusador, fazendo com que a vítima duvide de sua própria memória. O ato enfraqueceu a revolução feminina na casa, mas que foi reestabelecida após a chegada de dois novos participantes que tinham informações externas que o público concordava e apoiava as mulheres.

Em uma das discussões, a atriz Manu Gavassi falou sobre sororidade e aumentou 250% as buscas no Google sobre o termo. Enquanto isso, os telespectadores se revoltaram com Bianca que ofendeu a luta feminina – mesmo tendo ganho o prêmio Girl Power da Capricho em 2016. 

Em outro episódio o participante Lucas Gallina, que tinha como missão seduzir Mari antes de ser descoberto, não contribuiu com estalecas (moeda do programa) para compra de alimentos na casa. A estratégia visava desestabilizar os participantes ou deixá-los aptos à ter atendimento médico fora da casa e sair do programa. Uma das ideias seria usar todo dinheiro para comprar somente carne e afetar as participantes vegetarianas. 

Uma parte do público clamava pela permanência do emparedado, afirmando que sua dinâmica movimentava a casa, até que a médica Thelma Assis chorou de fome e revoltou a internet que se manifestou com a hashtag “fome não é entretenimento”. A simpatia pelo núcleo machista da casa, mostra que o feminismo pode perder força na casa.

O feminismo apresentado por mulheres consideradas femininas, com beleza padrão e com discursos calmos e bem elaborados foi bem recebido pelo público. Na edição passada as mesmas questões foram levantadas, não receberam tanta atenção e quem recebeu o prêmio foi Paula von Sperling - que foi acusada de racismo, homofobia e processada por intolerância religiosa após o programa. Nesse edição o público vibrou com os desdobramentos que eliminaram os principais homens machistas da casa semana a semana – sendo inclusive a primeira vez que isso acontece no reality. 

*Ellen Lapa é jornalista, designer e produtora de conteúdo para redes sociais

 

Edição: Vanessa Gonzaga