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Tabagismo: caminhamos em direção ao passado

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Tabagismo volta a crescer, especialmente entre os mais jovens - Agência Brasil
Pesquisas mais recentes mostram que este aumento é maior na faixa etária entre 18 e 24 anos

Não é só na política que o Brasil parece caminhar para trás, retrocedendo em conquistas alcançadas durante décadas. Este parece ser um fenômeno observável em outros aspectos do nosso cotidiano. Por exemplo, estamos hoje, enquanto país, retrocedendo muitos anos em todos os avanços relacionados à queda do tabagismo dentro da nossa população.

Podemos dizer que nas duas últimas décadas conseguimos diminuir consideravelmente o número de fumantes. Para isso, foram necessárias políticas públicas que deram conta de, por um lado, limitar a propaganda da indústria do tabaco e, por outro, alcançar as pessoas no sistema de saúde com o oferecimento de tratamentos, com ou sem medicamentos, para quem desejasse parar de fumar.

Entretanto, dados mais recentes apontam para um dado alarmante: o tabagismo volta a crescer, especialmente entre os mais jovens. Pesquisas mais recentes mostram que este aumento é maior na faixa etária entre 18 e 24 anos.

Chamam a atenção também dados que apontam considerável crescimento em outras formas de tabagismo, como os famosos narguilés e cigarros eletrônicos. Muitas vezes vendidos como menos prejudicais à saúde, estes dispositivos são agressivos à saúde sim e as propagandas que negam isto estão enganando a nossa população. Isso é facilmente perceptível ao constatarmos que uma sessão de narguilé pode representar uma exposição à componentes tóxicos equivalentes a cerca de 100 a 200 cigarros!

Enquanto isso, o governo federal parece não ter a mínima preocupação com esta realidade. O ministro da justiça, o Sergio Moro, chegou a anunciar no ano passado que iria diminuir o imposto sobre os cigarros como forma de combate ao contrabando. Isso é absurdo e vai contra todas as evidências científicas que comprovam que esta política incentivaria ainda mais o hábito de fumar.

É preciso aprofundar a análise do que pode estar ocorrendo. Sei que não há explicação fácil e vários são os fatores que potencialmente interferem nesta situação. Mas sei também, e falo isso com propriedade, que não se trata de um discurso moralista. Os impactos negativos individuais e coletivos são enormes e as novas gerações precisam ter isso sempre evidente para que não tenhamos mais prejuízos na saúde, na economia e na consciência de nossa sociedade. E sem investimento público, ficamos à mercê das grandes indústrias que lucram com a nossa doença.

Edição: Monyse Ravena