Pernambuco

QUARENTENA

No Recife, empresas de transporte demitem mais de 200 e ônibus circulam cheios

Trabalhadores protestaram nas garagens e pedem ajuda ao governo; empresas reduziram frotas e têm mantido ônibus cheios

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Empresários do transporte público têm reduzindo a frota de transporte nas ruas e mantendo os ônibus lotados - Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco

Nesta terça-feira (31) os trabalhadores de empresas rodoviárias foram surpreendidos com demissões em massa de mais de 200 funcionários. Houve protesto de motoristas e cobradores em frente à garagem da empresa Transcol, no bairro da Guabiraba, Recife. O sindicato dos trabalhadores do setor denuncia que as demissões ocorreram na Pedrosa, Globo, Vera Cruz e Itamaracá, somando cerca de 250 demissões. Eles também acusam as empresas de descumprirem medidas para evitar o contágio do coronavírus.

O Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco denuncia que os empresários do transporte público têm reduzindo a frota de transporte nas ruas e mantendo os ônibus lotados, o que inevitavelmente expõe passageiros, motoristas e cobradores. A informação é que há semanas as empresas têm circulado com frotas reduzidas, equivalentes às frotas de domingos.

Os trabalhadores acusam os empresários - organizados no sindicato patronal de empresas de transporte Urbana - de estarem se aproveitando da situação para implementarem desejos antigos. "A Urbana-PE se aproveita da crise causada pela pandemia do novo coronavírus para demitir, retirar direitos e, consequentemente, ampliar seus lucros", afirma a nota, lembrando ainda que nos últimos anos as empresas têm demitido cobradores e colocado os motoristas para acumular função de receber o dinheiro e dar o troco, acrescentando apenas R$200 nos salários destes motoristas.

O sindicato também cobra posicionamento do Governo de Pernambuco, proprietário da empresa pública Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano e, portanto, responsável pela gerência das empresas privadas contratadas para prestação de serviço de transporte público. "Paulo Câmara precisa chamar uma reunião entre os patrões e os trabalhadores rodoviários para intermediar uma saída que signifique proteção da saúde e do emprego", diz o sindicato através de nota pública.

Os rodoviários pedem que a população e organizações sociais se solidarizem e enviem e-mail para [email protected] pedindo que o Governo do Estado atue ativamente para impedir as demissões. "Falar em demissão neste momento é contribuir concretamente para aprofundar o quadro de crise do coronavírus", avaliam.

Em nota, o sindicato patronal das empresas de transporte, Urbana-PE, alega que tem enfrentado um "quadro de dificuldades sem precedentes em sua história" devido à pandemia do coronavírus. "Esse cenário de crise repercute diretamente na operação do serviço, uma vez que o modelo de custeio atualmente adotado depende, quase que exclusivamente, da quantidade de passageiros transportados e da arrecadação tarifária", diz a nota.

O Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco também acusa as empresas de estarem descumprindo medida publicada pelo Governo do Estado na última terça-feira (24), indicando que os ônibus devem circular apenas com passageiros sentados. A publicação à qual o sindicato se refere é a Portaria Conjunta da Secretaria de Saúde e da Empresa Pernambucana de Transporte Intermunicipal (EPTI), que se trata especificamente ao transporte de trabalhadores residentes fora da Região Metropolitana, mas que precisam ir à RMR para trabalhar.

A portaria indica que as empresas de transporte intermunicipal devem operar com até 10% da frota; todos os passageiros sentados; deslocamento exclusivamente para fins de trabalho; idosos com 60 anos ou mais estão impedidos de ser transportados; as empresas devem ter disponível material de higienização das mãos; e a relação com nomes e CPF de todos os transportados deve ser enviada à EPTI via e-mail em no máximo 24 horas após a viagem. A publicação na verdade afrouxa um decreto do dia 20, que suspendia todo o transporte intermunicipal no estado.

No transporte metropolitano a medida de segurança tem sido implementada parcialmente com a ajuda de funcionários terceirizados do Consórcio Grande Recife que atuam nos terminais integrados de passageiros. Eles têm controlando a lotação dos ônibus que seguirão em viagem. Mas não há controle sobre os passageiros que embarcam no trajeto, o que pode ocasionar lotação.

O Brasil de Fato questionou o consórcio Grande Recife sobre normas de higiene, superlotação, frotas e sobre a portaria à qual os trabalhadores rodoviários se referem, mas o consórcio não respondeu à reportagem.

Edição: Marcos Barbosa