Rio de Janeiro

Ciência

Pesquisadores da UFRRJ criam sistema digital para diagnóstico da covid-19

Análise de radiografias do pulmão através de inteligência artificial pode evitar aumento nas subnotificações da doença

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
professores da UFRRJ
Em quarentena, professores Leandro Alvim e Filipe Braida, do departamento de Ciência da Computação da UFRRJ, desenvolveram o programa remotamente - Divulgação

Como alternativa ao custo alto dos testes para o coronavírus, dois pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) encontraram um modo de diagnosticar a covid-19 por meio de inteligência artificial. O sistema criado pelos professores Leandro Alvim e Filipe Braida, ambos do departamento de Ciência da Computação, analisa radiografias que mostram um pulmão afetado por pneumonia comum e pela covid-19.

O sistema, ainda em fase de testes e com acesso aberto na internet, permite que médicos enviem o raio-x do tórax do paciente para análise. Quanto mais dados o sistema tiver acumulado, mais eficiente ele se torna no diagnóstico. Os pesquisadores explicam que o objetivo não é substituir o médico no resultado final de detecção da covid-19, mas sim ajudá-lo na avaliação de um somatório de sintomas que aparecem com a doença. O banco de dados foi programado para manter o sigilo e o anonimato do paciente.

Em parceria com alguns médicos pneumologistas, a dupla de pesquisadores soube também que nem sempre o diagnóstico definitivo da doença provocada pelo coronavírus ocorre apenas pela radiografia. Por isso, o XRayCovid-19, como o sistema vem sendo chamado, vai possibilitar que exames de tomografias também sejam enviados e que a inteligência artificial possa confrontar os resultados para facilitar o reconhecimento.

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Em entrevista ao Brasil de Fato, Leandro Alvim, que está vinculado ao programa de pós-graduação interdisciplinar de Humanidades Digitais, no campus da UFRRJ em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, disse que ele e o professor Filipe Braida já atuam na área e que a ideia surgiu durante o período da quarentena, por isso os pesquisadores tiveram que trabalhar remotamente. Mas ele explica que o programa tem uma finalidade maior:

“A ideia não é só ter um diagnóstico para a covid-19, cujo resultado do exame pelo kit demora muito a sair. É também construir uma ampla base para estatísticas inclusive de outras doenças respiratórias e saber, por exemplo, em tempo real o que está acontecendo no país em termos de evolução dessas doenças. O fato de o sistema não ficar limitado a um hospital e poder ser usado no celular permite também que se construa essa base nacional de radiografias que vai ajudar os médicos”, afirma Alvim.

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Implementação

Diante do avanço da pandemia, que em menos de quatro meses provocou quase 200 mil mortes no mundo e 3 mil mortes confirmadas no Brasil, sem que ainda tenha chegado ao auge de infecções por aqui, os órgãos de saúde mundiais tem insistido na importância do diagnóstico. Segundo Alvim, para ampliar o sistema, a UFRRJ tenta fechar uma parceria com outros departamentos dentro da universidade e também fora, com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

“Estamos trabalhando em parceria o professor Erito Marques, médico especialista em telemedicina e professor do departamento de Matemática, e com Rodrigo Tavares, professor de Direito que nos dá apoio na questão da privacidade de dados. Existe a parte burocrática de testes para verificar a utilidade, tem o caminho acadêmico de ter uma base científica para outros cientistas estudarem e o caminho da prática para chegar ao sistema de saúde”, explica o pesquisador. 

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Subnotificação

A falta de diagnósticos para a covid-19 vem provocando casos de subnotificação - quando a doença não entra para as estatísticas e inviabiliza aos órgãos públicos de saúde tomarem decisões e medidas com base em dados factuais. Segundo o boletim semanal do sistema InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), até o último dia 12, o Brasil teve 32,3 mil internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).

Para efeito de comparação, desde 2010 o país vinha registrando uma média de 3,9 mil casos. Nem mesmo o surto de H1N1 em 2010 registrou um percentual tão elevado de SRAG quanto agora. Na gripe H1N1, foram 10,4 mil no mesmo período do ano, menos de 30% das notificações de agora, na pandemia da covid-19. Os sintomas da SRAG são febre, tosse ou dor de garganta e dificuldade de respirar. A hospitalização ou óbito por SRAG tem notificação obrigatória.

Edição: Mariana Pitasse