Rio de Janeiro

Repúdio

"Bolsonaro não tem compromisso com a humanidade", diz mãe de Marielle Franco

Família da ex-vereadora mostrou indignação com o pronunciamento de Bolsonaro na última sexta-feira (24)

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
No próximo dia 14, o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa dois anos e dois meses sem respostas - Renan Olaz/ Câmara Municipal do Rio

No próximo dia 14, o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa dois anos e dois meses sem respostas sobre quem mandou matar Marielle. O crime político, que ganhou repercussão mundial nos últimos anos, fez parte do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última sexta-feira (24). O discurso foi feito em meio a crise política causada pela saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública e gerou repúdio por parte da família de Marielle.

Durante o anúncio de demissão, Moro declarou que o presidente Bolsonaro estava tentando interferir no trabalho da Polícia Federal (PF) para ter acesso a informações de inquéritos sobre seus filhos. Na última segunda-feira (27), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello autorizou a abertura de inquérito para apurar as declarações de Sergio Moro. De acordo com a decisão do decano do STF, os fatos apresentados por Sérgio Moro têm relação com o exercício do cargo, o que permite a investigação do presidente da República. 

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Rejeição

As falas do presidente sobre o caso Marielle geraram manifestações de repúdio da família da ex-vereadora nas redes sociais. Ao Brasil de Fato, Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco, se mostrou indignada com as declarações e reforçou que as investigações do crime não podem ser federalizadas, que devem permanecer no Rio de Janeiro.

“Foi um discurso que é mais uma prova que ele fala sem base legal. Marielle não estava no meio dessa confusão e ele faz uma comparação absurda porque o processo dele foi concluído, um é na esfera federal que foi investigado [Bolsonaro], o outro é na esfera estadual, que é o da minha filha. Não tem motivo dele usar o nome da minha filha numa situação dessas. Ele não tem compromisso com a humanidade e não tem compromisso também com a memória da minha filha”, destacou Marinete, que agradeceu também o apoio nacional e internacional recebido após as declarações de Bolsonaro.

A Anistia Internacional também se pronunciou sobre a fala do presidente. Por meio de nota no site oficial, a organização lamentou a exposição da família da ex-vereadora assassinada no meio de uma pandemia e crise política e destacou que Bolsonaro não preza pela isonomia das instituições.

“Ao comparar as investigações da facada que sofreu em 2018, durante a campanha eleitoral, às investigações do crime contra Marielle, criticando os esforços imparciais das instituições brasileiras nas apurações sobre a execução da defensora de direitos humanos, ele parece considerar sua vida mais importante do que a de outros cidadãos, além de deixar clara a falta de compreensão sobre a isonomia das instituições e diminuir a importância dos defensores e defensoras de direitos humanos no Brasil”, ressaltou a nota.

As investigações do caso de Marielle e Anderson permanecem com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ) e a Polícia Civil. A linha atual aponta para o envolvimento de milicianos no crime. Diferente do presidente, que já tem as respostas a respeito do atentado que sofreu, as famílias seguem sem saber quem mandou matar Marielle e Anderson. 

Pronunciamento

Durante 46 minutos de pronunciamento, em resposta ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Bolsonaro abordou em diferentes momentos o caso da ex-vereadora assassinada alegando que o crime tinha maior importância do que o atentado que ele próprio sofreu durante a campanha eleitoral. “Será que é interferir na Polícia Federal quase que implorar a Sergio Moro investigue quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe de Estado. [Pessoas] de bem no Brasil querem saber", disse ele.

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O presidente ainda disse que teve acesso ao relatório sigiloso da PF sobre o policial militar da reserva Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle Franco e Anderson Gomes na noite do dia 14 de março de 2018. A primeira parte da investigação apontou que o filho mais novo de Bolsonaro, Jair Renan, teve um relacionamento amoroso com a filha de Lessa.

“Eu fiz um pedido à PF. Quase com um por favor: chegue em Mossoró e interrogue o ex-sargento. Foram lá, a PF fez o seu trabalho e interrogou e está comigo a cópia do interrogatório. Onde ele diz o seguinte: ‘A minha filha nunca namorou o filho do presidente Jair Bolsonaro, porque a minha filha sempre morou nos Estados Unidos’”, complementou.

Edição: Mariana Pitasse