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Profissionais da saúde comentam significado do Dia das Mães em meio à pandemia

Entre plantões e cuidado com os filhos, as mães profissionais da saúde esperam que data seja um momento de união

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Ana Paula (seg. à dir.) e equipe de técnicas de enfermagem do Hospital da Restauração - Arquivo Pessoal

O dia das mães é, sem dúvida, uma das principais datas comerciais no Brasil. A comemoração movimenta bilhões de reais e neste ano, com a pandemia do coronavírus, o prognóstico para as vendas não é positivo: a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta uma queda de 59,2% no faturamento real do setor e outras entidades falam e adiamento da data comercial. A verdade é que neste domingo (10), mais do que presentes, festas e homenagens, o momento é de valorização da presença e a união entre mães e filhos.

E entre aqueles que mais compreendem o valor da presença neste momento de pandemia estão as profissionais da saúde. Por conta da crise sanitária gerada pelo novo coronavírus, as mães médicas, enfermeiras, técnicas de enfermagem e de várias outras especialidades lidam com a tensão constante entre os plantões e a vida doméstica, expostas constantemente ao risco de contaminação, também com a exposição de suas famílias.

Contratada para trabalhar no combate ao coronavírus, a técnica em enfermagem Angela Santa Rosa atua em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital da Restauração (HR), em Recife. Mãe de duas meninas, a profissional afirma a importância dos cuidados no atual momento e celebra sua contratação.

“Tenho todos os cuidados possíveis, tudo que é pra ser feito eu faço. Com toda certeza, tenho medo, peço proteção a Deus em todos os momentos. Fui chamada para trabalhar por conta da pandemia, passei no concurso da Secretaria Estadual de Saúde. Nos plantões em que trabalhei, graças a Deus, não tiveram nenhum problema”, diz Angela.

O medo da técnica não é descabido. Na última semana, Pernambucano chegou a mais de 12 mil casos confirmados, com 972 mortes por coronavírus. O estado, que tem um protocolo próprio para a testagem de profissionais de saúde, registra um alto número de trabalhadores da área infectados: 2532 profissionais tiveram os testes confirmados e precisaram se ausentar da linha de frente de combate ao vírus para cuidar da própria saúde.

Além disso, a rede de saúde do estado já está no seu limite, com a taxa de ocupação dos leitos de UTI em 98%, sendo que, na últimas semanas, a Secretaria Estadual de Saúde registrou um aumento de mais de 400% nas internações de casos suspeitos de covid-19, o que representa um crescimento do número de pacientes em um momento de redução das equipes de saúde devido ao afastamento dos profissionais contaminados, o que gera uma maior carga de trabalho para os que ficam.

O ideal para evitar que essas profissionais contaminem suas próprias famílias, seria mais do que isolamento em um cômodo da casa, mas morar longe da família durante esse período, o que não é a realidade da maioria dos profissionais, especialmente as mães e chefes de família, como é o caso da técnica em enfermagem Bárbara Sobrinho. Mãe de  Felipe, de 27 anos; Gabriel, de 17 anos e Fernanda, de 15 anos, o protocolo para entrar em casa é repetido diariamente “Ao chegar em casa deixo tudo na área de fora pra ser higienizado e corro pro banheiro pra tomar outro banho, mesmo já tendo tomado um no hospital e coloco a roupa pra lavar. Tenho muito medo de trazer contaminação para casa”.

Com três filhos, Felipe (27), Gabriel (17) e Fernanda (15), a profissional passa, diariamente, por um protocolo para entrar em casa.

"Ao chegar em casa, deixo tudo na área de fora para ser higienizado, corro para o banheiro, tomo outro banho - depois de ter tomado no hospital - e coloco a roupa pra lavar. Tenho muito medo de contaminar a casa".

Para esquecer por alguns momentos o medo e a incerteza gerados pela pandemia, as profissionais que conversaram com o Brasil de Fato esperam que a data seja um momento de valorização da família, tanto para quem está perto fisicamente, quanto para aqueles que podem estar juntos virtualmente, como comenta Ana Paula Costa Gomes.

A técnica em enfermagem atua há cinco anos no Hospital da Restauração, é mãe de três filhos, Carlos Manoel (28), Marcos Paulo, (26), e Ana Gabrielly (20). Também é avó de Arthur, de seis anos.

“Para mim, esse dia das mães vai ser muito diferente. Vou conseguir ficar com meus filhos, não com minha mãe, pois não quero que ela passe pelo risco de se contaminar. Também não quero que meus filhos se preocupem em sair para comprar presentes, o meu maior presente é a saúde da minha família, quero que fiquem seguros. Dia das mães é todo dia”, expressa.

Quando questionadas sobre quais conselhos dariam às mães e filhos neste dia de celebração, atípico, as recomendações das profissionais se assemelham. Todas reafirmam que o essencial agora é valorizar a presença com o cuidado coletivo, como reforça Ana Paula: “a preocupação agora é se cuidar, se amar, ter respeito um pelo outro. É mais importante ficar em casa do que nas ruas ou de loja em loja se arriscando”.

Bárbara comenta que o momento em casa pode ser aproveitado para se aproximar dos filhos: “Que aproveitemos esses dias de quarentena para dar mais atenção aos filhos. Curtam seus filhos, aproveitem esse tempo pra isso”.
Angela, que vai estar junto dos filhos presencialmente e, com o restante da família através de videochamada, diz que, neste dia das mães, a festa será para celebrar o amor diante do momento difícil.

“Vou passar junto com minhas filhas, elas são minha vida. Os familiares só videoconferência por enquanto. Aproveitem cada segundo, minuto e hora para falarmos o quanto amamos uns aos outros, pois não sabemos o que será do amanhã”, pede.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Luiza Mançano e Monyse Ravena