Rio de Janeiro

MOBILIDADE

Em Queimados (RJ), projeto disponibiliza bicicletas compartilhadas a baixo custo

A bicicleta é uma alternativa de transporte seguro para quem precisa se locomover durante a pandemia

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
O “PedalAr” faz parte de uma ideia maior que é a construção de um espaço que forneça o serviço de mecânica de bikes e um local de convivência para os clientes - Pedala Queimados

A pandemia já mostrou a necessidade de mudança do modelo de desenvolvimento global que tem causado sérios danos à população e ao meio ambiente. Na Europa, os países que já passaram pela fase mais crítica da covid-19 e começaram a retomar as atividades de maneira gradual apostam na mobilidade ativa como alternativa para evitar a disseminação do vírus.

Na cidade de Queimados, na Baixada Fluminense, a realidade é muito distante da Europa. No levantamento de 2019 realizado pelo Atlas da Violência, o município ocupa o quinto lugar com maior número de homicídios no Brasil. No entanto, é também em Queimados onde a bicicleta tem sido usada como alternativa de transporte e renda durante a pandemia.

O Brasil de Fato tratou sobre a iniciativa em uma reportagem em 2018. O projeto Pedala Queimados criou um sistema de compartilhamento de bicicletas para a população do Conjunto Habitacional Valdariosa, do programa Minha Casa Minha Vida no município. Agora, o presidente da Associação Pedala Queimados, Carlos Leandro, tenta criar o sistema de compartilhamento de bikes de baixo custo para os cerca de quatro mil moradores dos bairros São Miguel e Valdariosa, localizados na periferia do município. A ideia é permitir que as pessoas que precisam sair para serviços essenciais durante o período de isolamento social tenham a bicicleta como opção barata e segura para o deslocamento em curtas e médias distâncias. 

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“Decidimos abrir um negócio de impacto social que possa gerar renda e possamos trabalhar enquanto MEI [Microempreendedor Individual] e empresa em paralelo com os projetos sociais. O aluguel de bicicleta, que é o ‘PedalAr’, vem como negócio. A pessoa vai pagar R$ 5 para usar a bicicleta por duas horas. Aqui, de moto-táxi gasta-se pelo menos R$ 10 para ir ao centro e voltar e de ônibus R$ 8. Então, se ela for em até duas horas, ela vai gastar R$ 5. Vamos trabalhar fortemente a higienização das bikes, é um transporte individual, além de ser saudável para as pessoas vai ser seguro”, explica. 

Necessidade

Leandro conta que a ideia de ampliar a linha de atuação do Pedala Queimados surgiu a partir da necessidade de sobrevivência trazida pela pandemia. O ciclista atualmente mora na cidade de São Gonçalo, na região metropolitana, e trabalha em Queimados. Por conta das medidas de restrição de circulação, Leandro, como muitos brasileiros, passou a enfrentar dificuldades para manter as contas em dia. 

“O meu filho de quatro anos estava me pedindo pão e eu não tinha dinheiro para comprar. Eu não podia mais ir pro Rio e mesmo que eu pudesse passar na barca, não tinha R$ 6,50 para pagar a passagem. Eu pego uma das bicicletas que a ‘TemBici’ doou para a gente e vou para Magé, pego o Arco Metropolitano e vou para Queimados. Foram 100 quilômetros em seis horas, era uma bike desconfortável por conta da longa distância e meu tamanho e decidi que eu não voltaria mais para casa sem recurso para comprar pão para os meus filhos”, ressalta.

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O compartilhamento de bicicletas está previsto para começar no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Ao todo serão 40 bikes, doadas pelo TemBici, disponíveis para uso. O PedalAr faz parte de uma ideia maior que é a construção de um espaço que forneça o serviço de mecânica de bikes e um local de convivência para os clientes. 

A inciativa envolve, além de Leandro, outras três pessoas. Sem retorno financeiro por hora, o idealizador depende para sobreviver do auxílio emergencial de R$ 600 e de cestas básicas arrecadadas pelo próprio Pedala Queimados que integra a ação Rio Contra o Coronavírus.

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“Na minha casa, o alimento mesmo eu tenho levado a partir dessa cesta básica que distribuo na cidade, como eu não posso passar no trem, eu tenho um primo que me leva de carro para lá [São Gonçalo] e a cada 15 dias eu levo duas cestas básicas para casa. Então, eu não preciso comprar comida, o arroz e feijão, o recurso que entra eu compro uma mistura, fralda, leite e o que eu movimento aqui eu invisto no projeto”, conta.

Edição: Mariana Pitasse