Paraíba

ENTREVISTA

Adiamento do Enem, vitória dos estudantes e perspectivas de luta da educação

Conversamos com o estudante Kevyn Kel, presidente do Grêmio Wilma dos Santos Pereira - ECIT Francisca Ascensão Cunha

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Circulação - Foto

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2020 sofreu adiamento das provas por um prazo entre 30 e 60 dias, anunciado nesta quarta-feira(20) pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). O exame é uma das principais formas de ingresso no ensino superior do país, e também é utilizado para outros fins e ingresso em várias instituições. As provas seriam aplicadas em novembro.

Com a pandemia, as aulas foram suspensas em todo país e métodos de ensino à distância vêm sendo utilizados, embora representantes da sociedade civil e autoridades apontam que há desigualdade para os alunos de baixa renda, visto que muitos não têm acesso a computadores e internet.

A Paraíba contabilizou 147.182 inscritos em 2019 e em todo o Brasil foram 5.095.388 de inscrições no exame, com uma taxa de cerca de 23% de faltosos. Diversos parlamentares haviam pedido o adiamento, além da  DPU e do movimento estudantil. Conversamos com o estudante Kevyn Kel, que também é presidente do Grêmio Wilma dos Santos Pereira, na ECIT Francisca Ascensão Cunha - Bancários. Ele também é membro do Levante Popular da Juventude. Perguntamos sobre a reação dos estudantes diante do adiamento do exame e as perspectivas de luta para além da pauta do Enem.


Kevyn Kel, presidente do Grêmio Wilma dos Santos Pereira / Foto arquivo Pessoal

Brasil de Fato: O adiamento do Enem foi uma pauta estabelecida pelos estudantes, portanto, isso se configura uma vitória?

Kevyn Kel: Sim, a princípio, é uma vitória. Eu acredito que, majoritariamente falando, os alunos gostaram também porque muitos estudantes de periferia não têm acesso a computador, nem à internet de qualidade e nem a celular de qualidade. Não temos professor à nossa disposição para estar nos ajudando, principalmente agora nessa pandemia que estamos tentando estudar online. E nem é tanto eficaz. Então, sim, foi bastante eficiente o adiamento.

BdF: O Enem tem um caráter competitivo, então como fica a questão psicológica, porque o aluno não se prepara somente nos estudos e, na pandemia, se agrava um pouco essa pressão...

K.K.: Olha a meu ver, e de muitos estudantes, percebemos que o ENEM é uma peneira seletiva.

A gente vê que as pessoas que têm mais condições financeira, até porque vivemos numa desigualdade social, têm mais chance de entrar na faculdade do que a gente que não tem tanto acesso a meios tecnológicos mais eficazes de estudos, principalmente agora nessa pandemia.

Então a gente precisa se preparar psicologicamente também para os estudos. Porque o Enem é uma prova muito difícil. Então, precisa estudar bastante, principalmente a gente que não tem acesso a esses meios.

BdF: O tamanho da prova torna-a exaustiva; é uma prova complexa e enorme. Há ainda fatores como diferença territorial, então fazer uma prova tão complexa, que já é ruim do ponto de vista das diferenças culturais e de acesso, fica mais difícil ainda na pandemia?

K.K.: Sim, a gente considera também os estudantes que moram no interior, tanto do campo, que inclusive, eu já participei de muitas reuniões online com o pessoal do campo. Eles têm muita dificuldade na questão da internet, na questão desses meios, e o pessoal que mora no interior, que tem que se virar para poder vir morar na capital, ou em outra cidade do interior onde tem universidade. Nesse momento, também, a maioria não está conseguindo estudar justamente por conta disso, por causa dessa pandemia igual a gente, que é de periferia. Então existe essa desigualdade, sem falar que o Brasil é o sétimo país mais desigual do mundo.

E realmente a prova é muito grande, muito ampla, e chega a ser exaustiva porque tem muita coisa sem necessidade, e não tem motivo ser tão grande como ela é. Sem falar que a gente acaba tendo o psicológico abalado porque você passa a tarde inteira sentado numa cadeira respondendo a 90 questões. Então não tem necessidade de ser tudo isso, poderia ser bem menos tempo (questões) para facilitar. E acaba sendo estressante para a gente e você acaba se perdendo muita vezes.

BdF: E como vai ficar a organização da luta estudantil para que a educação permaneça pública e gratuita diante da crescente retirada dos direitos e os ataques ao Estado Democrático de Direito?

K.K.: Meu posicionamento é de que a gente vai continuar lutando, sim, contra essa direita conservadora que só quer destruir o ensino público, principalmente, destruir os sonhos dos estudantes da comunidade.

Que o ensino público seja de qualidade, que todos tenham acesso e possam estudar, possam entrar e que a gente não se cale jamais.

Que mais estudantes se posicionem cada vez mais e tenham mais acesso a políticas públicas. A gente vai continuar lutando, desistir  jamais!

 

 

 

Edição: Heloisa de Sousa