Pernambuco

ECONOMIA

Em Pernambuco, número de endividados em maio é o maior desde 2014

Alta do desemprego, trabalho informal e pandemia podem ter sido causadores do aumento do endividamento

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Em números, o percentual de 74,0% equivale a 380.205 famílias endividadas - Marcos Santos / USP Imagens

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) pernambucano voltou a mostrar movimento na direção inversa do nacional, com percentual de endividados em maio (74,0%) subindo em relação a abril (71,1%). Este é a maior taxa de endividados para os meses de maio desde 2014, quando o número foi de 78,0%. Mesmo com o índice mais alto que o deste ano, há uma diferença entre os períodos de 2014 e 2020, já que o primeiro foi o ano pré recessão e ainda não se tinha clareza do que viria pela frente em relação à queda na produção. 


O endividamento de seis anos atrás é menos crítico do que atualmente, pois a população ainda apresentava condições menos restritivas de renda. Já o endividamento atual é puxado pela paralisação do setor produtivo e alta do desemprego, principalmente para a população informal, que não possui direitos que podem cobrir parte da queda da renda que estão vivendo.


Em números, o percentual de 74,0% equivale a 380.205 famílias endividadas, alta de 15.316 lares em um mês, já em relação ao mesmo período de 2019 houve uma alta de 20.280 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 31,1%, alta em relação a abril e quando comparado a maio do ano anterior, que registraram percentual de 30,3% e 30,4%, respectivamente. É importante lembrar que estas famílias já apresentavam maior dificuldade no pagamento de suas dívidas, com orçamento mais apertado, aumentando as dificuldades de honrar todos os pagamentos em um período de maior restrição devido a epidemia de covid-19. Atualmente no estado 159.833 famílias estão com alguma conta em atraso.


 Já a parcela da população com a situação mais crítica, que são aquelas que informam não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 15,8%, o que corresponde a 81.365 mil famílias inadimplentes. Este grupo apresentou alta significativa de famílias nesta situação, com acréscimo mensal e anual de 9.741 e 18.606 lares, respectivamente.


Quando se analisa o resultado por tipo de dívida, verifica-se que o tipo mais apontado continua sendo o cartão de crédito, atingindo 91,3%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 15,5%.  A maioria das famílias endividadas informam também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, valor considerado preocupante visto que após o pagamento das despesas correntes grande parte das famílias podem não apresentar recursos para investir, limitando a capacidade do crescimento familiar.

Coronavírus e endividamento


 A pandemia de coronavírus também tem relação com o índice. Isso porque aumentou o consumo de itens essenciais desde o início do isolamento social para conter a velocidade da epidemia da covid-19. Alguns itens apresentam variação positiva na inflação, em especial alimentos, e obrigam as famílias a recorrer ao crédito para manter as compras. 
 
Uma preocupação coletiva relacionada à economia é a possibilidade dos transtornos causados pela pandemia na saúde e na economia de todo o país contribuem para jogar o setor produtivo pernambucano em uma grave recessão, em especial o setor do Comércio e Serviços. Além disso, o momento é muito difícil e tem o poder de elevar o percentual de dados sociais críticos, como o número de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, visto que a maioria destas famílias sobrevivem na informalidade e com a restrição de isolamento, grande parte dos serviços e do comércio foi obrigado a fechar criando assim um ambiente danoso para a obtenção de renda por parte destas famílias.


Nesse contexto, um agravante é o atraso e as dificuldades para acessar o auxílio emergencial criado pelo governo federal, que apresenta um processo demorado para chegar até as famílias. Além disso, a necessidade de inscrição via internet é um impeditivo para aquela parte da população que é vulnerável e não possui conhecimento necessário a inscrição e nem equipamentos para se instruir, como TV, rádio ou até mesmo smartphones.


 Para o mês de junho se espera uma continuidade da elevação no endividamento das famílias, isto porque as demissões, paralisações dos setores e o ritmo baixo de contratação já criou uma restrição orçamentária crítica, levando as famílias a continuar utilizando o crédito para manter o consumo de bens essenciais neste momento de quarentena, além disso, o mês de junho possui datas importantes como o dia dos namorados e os festejos juninos que mesmo não apresentando comemoração a nível de anos anteriores, tende a apresentar um consumo mais elevados das famílias em quarentena.

Edição: Monyse Ravena