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Aqui Pra Nós

Jessy Dayane: “Estão dando passos concretos para o fechamento de um regime”

Ex vice-presidenta da UNE explica como a luta antirracista e antifascista somam forças contra o bolsonarismo

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Jessy Dayane é miltiante do Levante Popular da Juventude e já foi vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes - UNE

Jessy Dayane, militante do Levante Popular da Juventude e ex-vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) foi a entrevistada na última terça-feira (09), no programa Aqui pra Nós. Ela explicou como o levante antirracista nos EUA, combinado a episódios de violência policial no Brasil, colocaram a luta antirracista em destaque nesse momento de crise política no país. O programa Aqui pra Nós vai ao ar todas as terças no YouTube, sempre a partir das 19:30h. Confira os destaques da conversa:

Racismo nos EUA e Brasil
Para Jessy, a pauta anti racista deveria ter ainda mais relevância no contexto das lutas da esquerda no BrasiL. “O racismo estrutura as desigualdades sociais, é uma herança do nosso passado colonial e da formação do capitalismo no Brasil. É impossível ignorar que o racismo estrutura as relações de classe no nosso país”. Ela reafirma que, em determinados momentos, a pauta ganha mais relevância, como no contexto atual. Após o assassinato de George Floyd ,“nos outros países, os atos tiveram um tom de solidariedade. Mas, no Brasil, a morte de João Pedro, assassinado dentro de casa, ampliou a projeção da luta dos movimentos antirracistas no país. Essas movimentações têm tomado uma força grande não só pela solidariedade, mas contra o genocídio cotidiano contra a população negra que se arrasta há anos, como a história de Ágatha Félix, Marielle Franco... Por isso essa bandeira mobiliza tanto a sociedade”, explica.

Antifascismo e antirracismo
“O bolsonarismo tem, há tempos, organizado atos semanais com o próprio presidente no meio de uma pandemia, sem máscara e desrespeitando o isolamento”. Jessy aponta que o fechamento do regime é apoiado pela base que organiza essas movimentações e explica que o vídeo da reunião ministerial, divulgado no fim do mês de maio, foi a fissura para o despertar do alerta antifascista para a sociedade brasileira, junto com a milícia dos 300, que fez um ato de rua em Brasília evocando símbolos da seita racista estadunidense Ku Klux Klan. 

Para ela, “isso tudo deu um impacto na sociedade e pressionou para que as pessoas se posicionem com mais força". "Não é mais uma ameaça à democracia, eles estão dando passos concretos para o fechamento de um regime. Aqui em São Paulo, as ações das torcidas já aconteciam, mas há 15 dias elas tomaram uma proporção muito maior do que as anteriores. Os atos despertaram a consciência das pessoas para se posicionar”, reforça. 

Há alguns dias, Jessy escreveu um artigo ao Brasil de Fato explicando como o avanço do fascismo contém elementos do racismo. “Combater o racismo e fascismo não são opostos, se combinam. Por outro lado, é bom afirmar que nem todo antifascista é antirracista. O racismo é secular e nós ainda não o superamos. Conter o fascismo agora não significa que vamos acabar com a estrutura do racismo do pais” projeta. 

Com a controvérsia nas redes da possibilidade pauta antifascista encobrir as manifestações contra o racismo, Jessy explica que a esquerda organizada e os movimento antifascista devem somar forças à pauta, e não segmentá-la. “Nosso papel não é fazer o combate aos movimentos auto organizados, porque existe uma crítica real de que a esquerda precisa ter a bandeira do antirracismo reafirmada o tempo todo nas suas ações. É necessário dialogar com habilidade, entendendo a crítica e fazer esse convencimento de que ambas as lutas devem ser combinadas e que essa pode ser uma saída para fazer um combate mais efetivo ao sistema capitalista”. 

Protestos e Isolamento
Jessy reafirma que a questão de furar o isolamento para participar dos atos é uma questão complexa: “Na verdade, as pessoas estão lutando para viver. garantir o isolamento social não é uma luta abstrata. Os setores que se mobilizaram para o ato tem uma presença marcante da população negra, que não é dominante nos atos da esquerda organizada. Quem foi pra esses protestos é basicamente quem está sendo obrigado a trabalhar, que já está se expondo ao risco, que vive nas periferias, e tá sendo ameaçada todos os dias pela violência policial. Mesmo fazendo isolamento, essas mesmas pessoas podem morrer dentro de casa.”

Para ela, quem não se soma aos atos pode contribuir de outras formas “eu compreendo, apoio e entendo que essas pessoas estão lutando pelas suas vidas. Acho que podemos nos somar de várias formas, pressionando nas redes, fazendo o convencimento, e não combatendo essas ações”.

Frente Popular e Fora Bolsonaro
A ex vice-presidenta da UNE afirma que a luta antirracista ajuda a aglutinar novos setores para a luta contra o bolsonarismo “Esse processo é importante para construir uma frente popular e a luta antirracista contribui nesse sentido de identificar quem são nossos aliados contra o nosso inimigo, que é o Bolsonaro”. 

Ela também afirma que a crise sanitária diminuiu a popularidade do presidente “a pandemia agrava a crise política que estava já em curso. No começo já era visível que a pandemia teria um impacto dramático no Brasil e agora isso se consolida”. Jessy avalia a base de apoio ao governo “os 30% que são a base de apoio ao governo é muito fiel, ainda que seja pequena. O apoio dessa parcela é ideológico, eles vão até o fim para defender Bolsonaro e isso acirra o momento político. Podemos ter um impeachment, mas também é possível ter um fechamento democrático ainda maior” reflete.

Formação
O Levante Popular da Juventude está realizando o Curso Racismo e Fascismo,que se com inscrições abertas “nós fizemos essa reflexão de que as pessoas estão se posicionando, mas que é necessário estudar e compreender tanto como o fascismo se desenvolveu na história e como se apresenta hoje, tanto quanto o racismo, para atuar e combater melhor”.  A próxima etapa é sobre a onda neofascista no Brasil. Ainda é possível se inscrever e acessar as leituras de apoio para o curso através de um formulário online. O curso emitirá certificado pela Escola Paulo Freire.

Edição: Marcos Barbosa