Pernambuco

FLEXIBILIZAÇÃO

Após segunda pior semana de contágios, Pernambuco reabre igrejas, shoppings e parques

Centros religiosos, de compras e equipamentos públicos voltaram a funcionar após semana com 6.852 novos casos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Sob constante pressão empresarial, o Governo do Estado decidiu já ampliar a lista dos estabelecimentos reabertos, incluindo na lista os shoppings centers - Divulgação/RioMar

No último fim de semana o estado de Pernambuco superou a marca de 50 mil casos confirmados de covid-19. A semana de 15 a 21 de junho registrou um aumento de 36,5% no número de novos contágios em comparação à semana anterior, interrompendo uma sequência de três semanas de queda entre o fim de maio e o meio de junho. Apesar disso, o Governo de Pernambuco confirmou a reabertura total do varejo, além de shoppings centers, centros religiosos e deu permissão aos municípios para reabrirem suas praças, parques e orlas.

No último domingo (21) Pernambuco fechou sua 14ª semana completa de disseminação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em seu território. A semana de 15 a 21 de junho foi a segunda pior em índice de contágios desde o início da pandemia no estado. Foram 6.852 novos casos confirmados, um aumento de 1.833 (ou 36,5%) em comparação à semana anterior. Também foram contabilizados novos 379 mortos por covid-19, uma redução de 171 (ou 31%) comparado à semana anterior. Outras 5.182 pessoas se recuperaram da doença. Com isso, o estado chegou aos 52.113 casos diagnosticados, dentre os quais 4.234 resultaram em morte (8,1%), outros 35.462 (65,2%) já estão recuperados e 13.927 se encontravam ainda em tratamento. Nesta segunda (22) o estado confirmou mais 381 novos casos e 18 mortes.


A semana de 15 a 21 de junho foi a segunda pior em índice de contágios desde o início da pandemia no estado / Vinícius Sobreira


O estado chegou aos 52.113 casos diagnosticados, dentre os quais 4.234 resultaram em morte / Vinícius Sobreira

Os gráficos do Brasil de Fato Pernambuco são atualizados semanalmente, fechando a semana a cada domingo e levando em consideração o período a partir de 16 de março, a primeira segunda-feira após início do isolamento social. Os primeiros casos em Pernambuco foram diagnosticados quatro dias antes, na quinta-feira (12 de março), um casal de pernambucanos que chegara da Itália. Até o momento se tem confirmação de que, dos 9 milhões e 500 mil pernambucanos, apenas 0,55% foram contaminados, entre os quais 65% (ou apenas 0,37% dos pernambucanos) estão recuperados e imunes ao vírus.

Como os testes têm sido feitos apenas com quem vai ao hospital, casos com gravidade razoável, ignorando os assintomáticos, estima-se que nacionalmente a subnotificação varia entre 7 vezes (UFPel) e 10 vezes (Abin). Se aplicada esta média a Pernambuco, o estado teria próximo a 5% de toda sua população atingida pelo vírus. A “imunidade de rebanho” só é alcançada quando 95% do grupo já está imune ao vírus. A Suécia assumiu esta tentativa, mas a consequência direta é um número elevadíssimo de mortes.

Cronograma

A despeito dos crescentes índices de contágio em Pernambuco, o plano de reabertura econômica segue avançando. Nas últimas semanas as autoridades estaduais repetiram por várias vezes que o retorno à “normalidade” poderia ser freado em caso de aumento do espalhamento do vírus. Ao contrário, o governo tem acelerado a reabertura. Pelo cronograma apresentado pelo Governo de Pernambuco no dia 5 de junho, nesta segunda-feira (22) estava prevista a entrada na 4ª etapa da retomada econômica. Eram previstas as reaberturas de todos os varejos dos bairros e centro da cidade, independentemente do tamanho da loja; e a construção civil passaria a trabalhar com 100% de seu contingente.

Veja o cronograma completo:

>> Sob pressão empresarial, Pernambuco acelera reabertura

Mas, sob constante pressão empresarial, o Governo do Estado decidiu já ampliar a lista dos estabelecimentos reabertos, incluindo na lista os shoppings centers. A reabertura dos grandes centros de compras – espaços com pouca circulação natural de ar e com amplo uso de ar-condicionado, elementos propícios para a disseminação do vírus – estava prevista para a 5ª etapa, caso se mantivesse uma redução do número de contágios no estado.

As regras para a reabertura destes centros de compras após 3 meses fechados são o funcionamento das 12h às 20h; e que cada loja só receba um número de clientes proporcional ao tamanho do estabelecimento: a cada 20 metros quadrados de loja, um cliente é permitido. A regra também se aplica às lojas de varejo nos bairros e centro da cidade. As praças de alimentação funcionam apenas no sistema de entrega (delivery) ou compra “para viagem”, não sendo permitido o consumo no local. Segue em vigor o decreto que torna obrigatório o uso de máscaras por todos os cidadãos em espaços coletivos.

Nenhuma das mudanças mencionadas neste texto se aplicam a 85 municípios das regiões Agreste e Zona da Mata do estado. Nestes, os índices de disseminação do vírus seguem superiores à média estadual, de modo que o estado os mantém na ainda na Etapa 2 da retomada, onde só estão permitidos os serviços essenciais; o comércio atacadista; o funcionamento de lojas de shoppings e outros centros de compras exclusivamente no sistema delivery ou de coletas presenciais; o atendimento médico, odontológico, fisioterápico, psicológico e veterinário; e a construção civil (com 50% dos trabalhadores).

Centros religiosos

Para completar o Governo do Estado também autorizou a reabertura de igrejas e demais templos religiosos a partir desta segunda-feira (22), desde que sejam utilizados apenas 30% da capacidade de cada local, distância mínima de 1 metro e meio entre cada pessoa, disponibilidade de pias com água, sabão e álcool 70%, além de um intervalo mínimo de 3 horas entre as celebrações. Idosos (mais de 60 anos), gestantes, crianças, pessoas com comorbidades (duas ou mais doenças associadas) não devem ir aos templos. O poder público, no entanto, dificilmente conseguirá fiscalizar o cumprimento de tais regras, de modo que conta principalmente com o bom senso das lideranças religiosas e da população.

Praias e parques

Na sexta-feira (19) o Governo de Pernambuco também deu aos municípios a permissão para decidir sobre a reabertura de espaços públicos como parques e orlas. De pronto as prefeituras dos maiores municípios liberaram já para o fim de semana o uso destes equipamentos para caminhadas, corridas, ciclismo e demais práticas esportivas individuais nessas áreas. Ainda não é permitida a permanência no local ou se banhar nas praias e rios. O Recife também retomou as ciclofaixas de turismo e lazer que funcionam aos domingos.

Em todos estes locais fica proibido o consumo de alimentos ou bebidas, o uso de cadeiras, isopores ou guarda-sol, assim como prática de esportes coletivos e outras aglomerações. Nos parques, os brinquedos infantis seguem fechados. “A prática esportiva é muito importante para a saúde física e mental das pessoas. Mas segue fundamental o uso da máscara, medidas de higiene, o distanciamento físico”, disse o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), ao anunciar a reabertura. Ele usou como justificativa a redução no índice de ocupação dos leitos de enfermaria e UTIs, mas o fez mencionando os números estaduais, que não necessariamente refletem a situação na capital pernambucana, responsável sozinha por mais de 30% dos casos do estado.

Bares e restaurantes

O Governo do Estado também cedeu à pressão dos grupos empresariais de bares e restaurantes, decidindo antecipar também a retomada destes em uma semana. A reabertura destes estabelecimentos (com apenas 50% de sua capacidade) estava prevista para a 7ª etapa de retomada, pensada para meados de 13 de julho. Após a Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) pressionar por uma reabertura antes do São João (pedido foi para esta segunda, 22), o Executivo estadual cedeu e antecipou para 6 de julho.

O governador Paulo Câmara (PSB) busca atenuar os riscos da reabertura. “Isso não quer dizer que podemos relaxar com os cuidados. Ao contrário, é hora de termos ainda mais atenção com a higiene, o distanciamento social e só sair de casa se realmente for necessário”, pediu, mencionando ainda que a vida terá que “voltar ao normal” mesmo com a disseminação do coronavírus. “O nosso desafio é aprender a conviver com esse vírus enquanto não existe vacina para combate-lo”, pontua.

Petrolina

Na 5ª maior cidade do estado, a sertaneja Petrolina, o prefeito Miguel Coelho (MDB) decidiu reabrir tudo isso – comércio, shoppings, igrejas, administração pública, parques e orla – ainda no dia 1º de junho, violando o decreto estadual. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) reagiu, movendo uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI). Mas só 18 dias após a reabertura o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) derrubou o decreto do prefeito petrolinense. De pouco adiantou, visto que no dia seguinte o Governo do Estado autorizou a reabertura dos equipamentos. No período de 3 semanas os casos na cidade saltaram 117%.

 

Edição: Vanessa Gonzaga