Pernambuco

ENTREVISTA

“A comunicação popular, que sempre foi muito necessária, se torna ainda mais”

Joana Tavares fala sobre comunicação e hegemonia, tema da próxima aula do Curso de Comunicação Popular e Rede Sociais

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Joana Tavares é diretora do Sindicato dos Jornalista de Minas Gerais e jornalista e editora do Brasil de Fato MG - UFMG

Nesse sábado (18) acontece a segunda etapa do curso “Comunicação Popular e Redes Sociais”, que trata nesta etapa do tema “Comunicação e a Disputa pela Hegemonia” com Joana Tavares, que é diretora do Sindicato dos Jornalista de Minas Gerais e jornalista e editora do Brasil de Fato MG. Em entrevista, a comunicadora aponta a importância do jornalismo na atual conjuntura e a importância da comunicação popular na disputa ideológica.

Joana entende que a atual conjuntura do país é uma convergência dos fatos que vem acontecendo desde o início do governo Bolsonaro somado a um elemento surpresa, que seria a pandemia de Covid-19. “Esse presidente que foi eleito num contexto de golpe no Brasil e ganhou através também daquela farsa de prender o principal oponente, ele tem sistematicamente, desde o início da campanha, apostado em mentiras, né? Tem esse nome de ‘fake news’, mas é a boa e velha circulação de boatos, de mentiras, para criar aquele clima de medo e ele se colocar como uma saída possível”, afirmou a comunicadora.

No entanto, com a pandemia, ela percebe que o presidente se mantém em seu posicionamento que utiliza da desinformação como estratégia política. “Todas as pessoas especialistas em saúde pública entendem que a informação seria um dos pilares no tratamento das doenças, junto com as pesquisas científicas, para deixar a população ciente. Já o Bolsonaro se mantém na tática anterior de governar com desinformação, na disseminação de mentiras para se manter nesse poder que ele conquistou com violência também”, destaca.

Com isso, é percebida uma desvalorização da informação principalmente por parte do presidente, que é, segundo dados da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), responsável por 58% dos ataques à imprensa em 2019, o que representa 121 casos. Em 2019, foram registrados 208 ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, o que representa um aumento de 54% em relação aos registros de 2018. Desse número, 114 foram contra a credibilidade da imprensa e 94 de agressões diretas a profissionais.

No dia 2 de julho, a Fenaj divulgou dados atualizados sobre o monitoramento de ataques de Jair Bolsonaro contra a imprensa no primeiro semestre de 2020. Até então, foram registradas 245 ocorrências de janeiro a junho de 2020, sendo 211 categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e 2 ataques contra a própria Federação. São em média dez ataques ao trabalho jornalístico por semana no apenas no primeiro semestre deste ano. “A Fenaj colhe esses dados frequentemente e isso expressa a opção dele por governar com desinformação, atacando a imprensa e os trabalhadores da imprensa, preferencialmente as mulheres, o que mostra um aspecto gravíssimo na forma dele governar, que é o da misoginia, o que vai ao lado do ódio dele pelo povo brasileiro, porque ele odeia mulher, odeia negros, odeia trabalhador. É a contradição dele usar o slogan Brasil acima de todos, mas que Brasil?”, afirmou a jornalista.

E aí está o papel da comunicação popular, o de representar essa população que é historicamente oprimida e esquecida “A comunicação popular tem esse adjetivo, porque ela já parte do pressuposto que não é neutra e que tem um lado e um compromisso de buscar essas informações com esse ponto de vista. Nós somos um dos países mais desiguais, violentos, racistas e machistas, como então com esse contexto olhar as informações, pautar as notícias, quem entrevistar, como enquadrar essa informação?” disse Joana, que percebe o potencial da comunicação popular durante essa crise econômica, social e sanitária “a comunicação popular que sempre foi muito necessária se torna ainda mais, porque a gente precisa fazer junto muitas perguntas: como chegamos aqui? como fazer para superar esse cenário? e a comunicação popular entendida como um todo, veículos e meios de comunicação”.

Além de lembrar do papel do jornalismo como um todo, Joana fala de defender a liberdade de imprensa em um momento em que ela vem sendo colocada em questão. “O jornalismo feito por uma imprensa comercial volta a ter uma relevância, isso é algo de grande reflexão para nós do campo popular, uma vez que frente a inimigo tão violento, a gente tem que defender valores de civilização e democracia, inclusive a importância de ter uma imprensa atuando com alguma liberdade”, acredita Joana, que alerta “mas nós, do campo popular, não podemos esquecer que foi essa mesma imprensa que criou uma narrativa que permitiu que ele fosse eleito. Bolsonaro tem todos os defeitos, mas esse de ter enganado e ter mentido sobre quem ele era não, ele deixou muito claro na sua trajetória toda. Então essa imprensa comercial precisaria refletir também sobre como ela atuou, principalmente nos últimos anos”. 

A aula do “Comunicação Popular e Redes Sociais”  com Joana Tavares acontece a partir das 14h no canal do YouTube do Brasil de Fato Pernambuco. O curso é uma iniciativa da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), em parceria com o Brasil de Fato, a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), as campanhas Mãos Solidárias e Periferia Viva e a Frente Brasil Popular. As inscrições já foram encerradas, mas a aula é aberta.  

 

Edição: Vanessa Gonzaga