Pernambuco

SEGURANÇA PÚBLICA

Vítimas de tiroteio aumentam em Pernambuco durante a pandemia, aponta Fogo Cruzado

Para especialista, isolamento social não pode ser apontado como o fator decisivo no aumento das mortes neste período

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Houve um aumento de 117% no número de feridos por tiros no estado de Pernambuco - Divulgação/SSP-BA

Segundo dados da plataforma Fogo Cruzado, no mês de julho houve um aumento de 117% no número de feridos por tiros no estado de Pernambuco, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em julho de 2020, foram registrados 160 tiroteios de arma de fogo na Região Metropolitana do Recife, que resultaram em 108 mortos e 72 feridos; enquanto isso, em julho de 2019, foram 84 disparos, deixando 64 pessoas mortas e 26 feridas.

Desde o início da pandemia vem sendo registrado um aumento crescente no número de tiroteios. Houve um aumento de 38% no período de 21 de março a 20 de abril, o que representa um total de 162 tiroteios que resultaram em 194 pessoas baleadas e 110 mortas. “A maioria não são crimes que aconteceram de repente, no calor da emoção, eles são crimes que são de certa medida premeditados, as vítimas são marcadas para morrer” afirmou Edna Jatobá, coordenadora do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop) e gestora local do Fogo Cruzado.

Ela ressalta que o isolamento social não pode ser apontado como o fator decisivo no aumento das mortes “O fato das pessoas serem encontradas mais facilmente, que é o que a pandemia preconiza talvez tenha influenciado nisso; mas a gente não pode atribuir o aumento da violência letal ao fato das pessoas estarem mais em casa e da pandemia.. A gente tem também com a pandemia, um aumento da desigualdade, o aprofundamento da crise econômica, mais pessoas com falta de oportunidades, um conjunto de situações, como o aumento no número de registros de armas de fogo, as pessoas estão se armando mais” explica a socióloga. 

Entre o total de 108 mortos no Grande Recife no mês de julho, 107 eram homens e apenas 1 era mulher; já entre os 72 feridos, 59 eram homens e 11 eram mulheres, de acordo com os dados levantados. Edna explica a metodologia “Os levantamentos que a gente faz a partir da plataforma, levam muito em consideração os registros que a gente encontra dessas situações na mídia. Então, com base nisso a gente pode dizer que a maioria são homens, são jovens; mas a gente não consegue ver a cor dessas pessoas, porque a gente não consegue encontrar essas informações com facilidade”.

As estatísticas poderiam ser melhor analisadas caso houvesse mais transparência dos órgãos públicos “Quando os dados eram abertos pela Secretaria de Defesa Social sobre os crimes de violências letais intencionais, a gente observou no período de 2007 a 2017, que em todos os tipos de violência, boa parte das vítimas, acima de 90%, era de pretos e pardos” recorda.

A nossa equipe entrou em contato com a Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco que informou que desconhece os dados, sua metodologia de coleta e, portanto, não comenta essas estatísticas e que “As forças de segurança, integradas pelo Pacto pela Vida, estão atuando para reduzir a criminalidade em todo o Estado. Seja por meio do reforço do policiamento nas ruas ou nas investigações policiais, que conseguiram identificar e prender quase 500 homicidas somente este ano”.

Fogo Cruzado

A plataforma Fogo Cruzado é um laboratório que analisa dados sobre violência armada informados por pessoas físicas e informados pela mídia, que agrega e disponibiliza dados e informações através de um aplicativo para tecnologia mobile combinado a um banco de dados. A plataforma digital colaborativa visa não só registrar a incidência de tiroteios, mas a prevalência de violência armada nas regiões metropolitanas nas cidades do Rio de Janeiro e Recife. 

O Fogo Cruzado é formado por uma equipe de especialistas em segurança pública, comunicação, coleta de informações e gestão de dados para garantir a consistência das informações disponibilizadas para o público, formando um banco de dados para uso da população e do poder público para que a análise desses dados baseie a criação de políticas públicas em diversas áreas. 

Edna aponta o desafio do diálogo com as instituições de segurança “O que a gente só consegue ver é a ponta do iceberg, que é a narrativa do governo se pronuncia para falar que está aumentando o número de policiais, mas a gente precisa saber o que tem sido feito de maneira articulada e não de maneira pontual para o combate à violência”.

Para a gestora é importante ter uma visão ampla do problema “É importante observar a segurança pública de uma forma bem transversal. A segurança pública passa por segurança, óbvio, mas ela passa também por saúde, por educação, por acesso à cidade, direito de exercer o lazer, política de implemento da renda, de abertura de vagas no mundo do trabalho, de aperfeiçoamento profissional, de oportunidades, de diminuição de desigualdades, de minimização da pobreza e da miséria ” conclui.

Edição: Vanessa Gonzaga