Paraíba

PARALISAÇÃO

Atos públicos e diálogo com a população marcam greve dos Correios na Paraíba

De carta aberta a doação de sangue, ações dos trabalhadores alertam para o risco de privatização e retirada de direitos

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Greve dos Correios em João Pessoa - 03.09.2020 / Davi Silva - Foto

A greve dos Correios na Paraíba segue firme para mais uma semana. Iniciada no dia 18 de agosto, a paralisação das trabalhadoras e trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem como principal objetivo denunciar a retirada de direitos e a tentativa de privatização da empresa por parte do Governo Federal.

Na Paraíba,desde a primeira semana de paralisação o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (SINTECT-PB) tem percorrido as cidades do estado promovendo atos públicos e atividades de conscientização e mobilização junto à população. Depois das ações em João Pessoa, Patos, Sousa, Cajazeiras e Campina Grande, esta semana, na quinta-feira (3), foi a vez do município de Guarabira.

De acordo com a carta aberta que tem sido entregue pelo sindicato durante os atos, a principal reivindicação é a manutenção do Dissídio Coletivo de Trabalho firmado pelo Tribunal Superior de Trabalho (TST) em outubro de 2019. O acordo, que teria validade até 2021, foi suspenso este ano pela direção dos Correios após liminar do ministro Dias Toffoli, do Superior Tribunal Federal (STF). Na prática, a suspensão implica diretamente na perda de direitos como vale-alimentação, licença maternidade de 180 dias, indenização de morte, auxílio para filhos com necessidades especiais e, de forma indireta, na possibilidade de redução de salários.

Diálogo com a população


Panfletagem durante dia de mobilização dos Correios em JP / Foto: Caroline Leite

Segundo o secretário-geral do Sintect-PB, Tony Sérgio, é fundamental que o povo paraibano compreenda os motivos da greve e se integre à luta dos trabalhadores dos Correios. Para isso, além dos atos e da divulgação da carta aberta, outras ações também tem sido realizadas no sentido de fortalecer os laços de solidariedade entre os trabalhadores e a população. No último dia 27, por exemplo, por inicativa do sindicato, um grupo de trabalhadores foi ao Hemocentro em João Pessoa para doar sangue e plasma e, assim, aumentar os estoques dos bancos de sangue que tem diminuído durante a pandemia.


Correios - Doação de Sangue / Foto: Caroline Leite

Na avaliação do secretário-geral, a greve segue forte nos âmbitos regional e nacional. Prova disso foi a reunião convocada pelo TST ainda em agosto para apresentar uma proposta de manutenção do Dissídio. Contudo, a direção da empresa mais uma vez se negou a negociar com os trabalhadores. “A única coisa que o Governo apresentou, através do general Floriano Peixoto, que é o presidente da ECT, foi a retirada dos direitos dos trabalhadores. Nosso acordo coletivo tem 79 cláusulas. O general Floriano apresentou apenas nove, retirando as outras setenta sob alegação de dificuldade financeira. Isso poderia gerar uma redução geral de 40% a 60% do nosso salário”, detalhou Tony.

Riscos da privatização


Correios em greve em JP / Foto:Caroline Leite

Além da defesa dos direitos dos trabalhadores, a defesa da manutenção da ECT como empresa pública é outro ponto-chave da greve. Como explica Tony, os Correios atuam como instrumento de integração nacional, sendo o único ente federal ativo presente em todos os municípios do país: “A gente tem que esclarecer a população que dos 5.570 municípios em todo o país, apenas 324 que são lucrativos. Caso ocorra uma privatização, todos os municípios que não são lucrativos para as empresas privadas terão suas agências e centros de distribuição (CDDs) fechados e haverá um forte processo de demissão”.

Ainda sobre o papel social dos Correios, o secretário-geral destaca algumas responsabilidades da empresa pública como a distribuição de livros didáticos em escolas públicas, a coleta e distribuição de urnas eletrônicas nas eleições e as parcerias com institutos de pesquisas através da coleta e distribuição de medicamentos, vacinas, remédios e equipamentos médicos. Por fim, Tony Sérgio também faz questão de esclarecer que, diferente do que tem sido anunciado pelo Governo, a ECT é hoje uma empresa altamente lucrativa. Segundo ele: “Entre 2017 e 2019 a ECT teve R$935 milhões de lucro. E de janeiro a julho deste ano, em menos de sete meses, ela teve um lucro de R$614 milhões. Houve um aumento de 25% na incrementação das postagens e a empresa não aponta nada de alternativa para os trabalhadores a não ser a retirada de direitos”.

“O processo de privatização além de promover a demissão de milhares de trabalhadores, significa entregar o segredo comercial brasileiro a empresas privadas internacionais, desmontando o sistema de logística, dificultando a integração nacional e fechando mais de cinco mil agências no país”, finalizou.

Edição: Maria Franco