Paraná

LITERATURA

LUZES DA CIDADE I Fada sonolenta, por Andréia Carvalho Gavita

Terra, cinza, pasto pobre de poder, treva lenta. Poderiam beber a pérola do luar paralisando suas begônias bizantinas

Curitiba (PR) |
Luzes da cidade - Reprodução

Sempre uns olhos de fada sonolenta, lenta treva, em máscara aborígene, filtrando o mundo que nos alimenta com visões. Horrores em pergaminhos. Desastres em pérgolas. Tribos soterradas. Terra, cinza, pasto pobre de poder, treva lenta. Poderiam beber a pérola do luar paralisando suas begônias bizantinas, os olhos fadados.

Poderiam relembrar bisontes ainda vivos nas savanas dos primeiros passos noturnos, tão terríveis, magníficos e incompreensíveis quanto o sedoso pano de fundo para um campo de estrelas paleolíticas. Mas recusam-se à estadia visionária ofertada, trocando-a por modelos hospitaleiros de óptica opiacea, tão instantânea e ansiosa sua esfera. Os olhos de fada anestesiada, dadivoso breu, rústica retina, não desistem de projetar-se em mortífera matéria por nossos cílios maquiados.

E a película empoeirada de sua prateada sensação nos arrasta para a teia dos desentendimentos imagéticos, para o lugar onde o terror da sobrevivência é apenas uma miragem inofensiva, uma cênica hostilidade para narcótica nebulosa. Lentamente repetem, enquanto piscam, treva a treva. E não a veem. 

Edição: Gabriel Carriconde