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VISIBILIDADE BI

Artigo | A bissexualidade e a sua primavera nos dentes

Dia 23 de setembro é dia de luta pela liberdade para viver a bissexualidade livre de preconceitos

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Vários movimentos de bissexuais têm lutado contra o apagamento e a exclusão e buscado reconhecimento - Getty

Primeiro é necessário compreender a conjuntura atual, a sociedade em que estamos inseridos/as e as relações de opressão de classe, raça/etnia e gênero - que alimentam esta sociedade capitalista-racista-patriarcal. Essa atitude é um grande avanço no entendimento das opressões, mas é necessário ir além percebendo os limites que esta sociedade impõe para a desconstrução das opressões, especialmente no que diz respeito às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis.

Quando falamos sobre a população LGBT temos a expressão dessas opressões de várias maneiras, tanto em relação às diversas identidades de gêneros como também às diversas orientações sexuais.

Esta sociedade identifica a orientação sexual das pessoas pela lógica monossexista, ou seja, uma sociedade onde existe uma crença em que todas as pessoas têm que, automaticamente, se relacionar com apenas um gênero, explicitando uma orientação sexual homossexual ou heterossexual. Legitima-se ainda mais as relações monossexuais (heterossexualidade, homossexualidade e lesbianidade) do que as não monossexuais (bissexualidade, pansexualidade, sexualidades fluídas e outros). A partir do momento que se identifica como bissexual, ou outras formas não monossexuais, esses padrões já determinados extrapolam.

A bissexualidade, quando não é invisibilizada nessa cultura cis-heteronormativa e binária, é vista como uma orientação sexual duvidosa, que se encontra “em cima do muro”, ou seja, um estágio de desenvolvimento sexual. Além do mais, ela tem sido associada a comportamento de risco, pela compreensão de que uma pessoa bissexual deve se relacionar com um número muito maior de pessoas, gerando um aumento da exposição e do risco de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Machismo e LGBTfobia se retroalimentam e as mulheres bissexuais sofrem ainda mais esse tipo de opressão. As mulheres bissexuais se deparam com os relacionamentos abusivos, especialmente quando se relacionam com homens, que a todo o momento ou colocam à prova sua fidelidade ou buscam inserir outras mulheres nas relações sexuais visando garantir apenas o seu próprio prazer.

Apesar do avanço conquistado com a Política Nacional de Saúde da População LGBT, sua implementação ainda encontra uma série de desafios e a quantidade de serviços de saúde especializados ou capacitados ainda é bastante insuficiente. Um exemplo recorrente desse desafio é o caso das mulheres lésbicas e bissexuais, que encontram de forma recorrente atendimentos ginecológicos que tem assistências baseadas no pressuposto de que todas as mulheres são heterossexuais e que, por isto, precisam de atenção ligada estritamente à reprodução - o que também é um grande equívoco.

A ausência de reconhecimento da bissexualidade também acontece no movimento feminista e no movimento LGBT, ao não darem visibilidade ao enfrentamento da bifobia dentro e fora dos movimentos.

Em síntese, a vivência do silêncio e da invisibilidade da bissexualidade é constante na vida das pessoas que se reconhecem como bissexuais. Com isso, vários movimentos de autoorganizados têm lutado contra o apagamento e a exclusão e buscado reconhecimento tanto no contexto heterossexual, como nos espaços do movimento LGBT. Para isso, têm proposto discussões sobre o tema e reivindicado a inclusão de suas pautas nos espaços, e têm exigido também o reconhecimento do termo bifobia para se referir às discriminações específicas dirigidas às pessoas que se entendem como bissexuais.

Queremos visibilidade, mas queremos que esta se faça na luta! Queremos que entendam que as pessoas Bissexuais não estão confusas, que não é um momento ou fase, que não somos meio lésbicas/gays e meio heterossexuais. Nossa sexualidade não é promiscuidade. Dia 23 de setembro é dia de luta pela liberdade para viver nossa bissexualidade livre de preconceitos! É dia de garantir nosso direito de existir e manifestar, denunciar as violências cometidas cotidianamente e registrar que seremos sempre flores dentro desse arco-íris de resistência e luta.
 

Edição: Vanessa Gonzaga