Minas Gerais

EDITORIAL

Nem uma coisa nem outra

O que seria do povo sem o auxílio de R$ 600? Depois de imaginar, não esqueça que o governo defendia apenas R$ 200

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
casal no bar de máscara
A mídia comercial proclama o retorno à normalidade: clubes, academias, estádios de futebol, faculdades e escolas. Tudo aberto para os usuários e o vírus." - Créditos da foto: Reprodução

Nem a economia tampouco a vida. Seis meses de pandemia, 140 mil falecidos e quase cinco milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro - medida do tamanho da riqueza de um território nacional - deve diminuir 5% em 2020. Para um governo que, perante as Nações Unidas, arrogou ter dado boas soluções para a crise sanitária e a crise econômica, a realidade mostra que não foi nem uma coisa nem outra.

Com a pandemia governo já pode culpar o vírus e os chineses, os governadores e prefeitos, os gays e comunistas, os índios e caboclos

Na economia, Bolsonaro chegou como Temer, anunciando o “milagre do crescimento” com base na retirada de direitos, entrega de patrimônio brasileiro aos monopólios internacionais (no que os economistas do governo e também os da TV Globo carinhosamente chamam de privatizações), redução de investimentos na área social e congelamento dos salários.

Os números, se bem interpretados, não mentem. Temer entregou a faixa presidencial com altas taxas de desemprego e informalidade, combustíveis caros, tarifas públicas nas alturas. Com muito orgulho, Bolsonaro recebeu a faixa festejando o magnífico crescimento de 2019 que, por fim, não veio. Ou alguém acredita que um PIB de 1,1% seja motivo para comemorações? 

Paulo Guedes é insaciável. Agora prega a reforma administrativa, que vai suprimir direitos dos servidores, aumentar a farra das indicações políticas e reduzir políticas sociais

Porém, chegou 2020 e, com ele, a pandemia. Então, o governo já pode culpar o vírus e os chineses, os governadores e prefeitos, os gays e comunistas, os índios e caboclos. A indústria nacional segue sendo desmontada, o desemprego não para de crescer e os preços dos alimentos estão cada vez mais salgados. Na pandemia, o Brasil é o 4º pior país em investimentos, entre 31 economias emergentes. Os dados são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

Somos o segundo pior país do mundo quando o assunto é covid-19, com 14% de todos os óbitos, embora tenhamos menos de 3% da população mundial!

Agora, imagine o que seria do povo sem o auxílio de R$ 600, criado pelo Congresso em abril, sob pressão popular! Depois de imaginar, não esqueça que o governo defendia publicamente que o benefício fosse de apenas R$ 200. Perdeu em abril, mas, em setembro, já conseguiu reduzir o valor para R$ 300. Ele tarda, mas não falha!

O que é ruim sempre pode piorar, pois estamos há mais de quatro anos sob doses cavalares de política neoliberal e o ministro Paulo Guedes é insaciável. Após a reforma da Previdência, ele agora prega a reforma administrativa, que vai suprimir direitos dos servidores, aumentar a farra das indicações políticas e institucionalizar o suborno e a perseguição no serviço público. É igual à cloroquina: se não cura, o governo manda comprar ainda mais.

No ranking da morte, acima do Brasil, só mesmo os Estados Unidos, aquele país cujo governo “nosso” presidente adora como se fosse o próprio Deus

Para quem está afundando na economia, a situação do ponto de vista da saúde até que não vai nada bem. Somos o segundo pior país do mundo quando o assunto é covid-19, com 14% de todos os óbitos, embora tenhamos menos de 3% da população mundial! No ranking da morte, acima do Brasil, só mesmo os Estados Unidos, aquele país cujo governo “nosso” presidente adora como se fosse o próprio Deus. 

Nesse cenário nada animador, a mídia comercial proclama o retorno à normalidade: clubes, academias, estádios de futebol, faculdades e escolas. Tudo aberto para os usuários e o vírus. Para não perder o bonde, Zema, orienta a volta às aulas nas próximas semanas. Pouco importa se as contaminações continuam ocorrendo e as pessoas não param de morrer. Quem sabe na semana que vem já não estamos todos tomando a vacina, não é mesmo?

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Edição: Elis Almeida