Rio Grande do Sul

SAÚDE

CNS recomenda medidas de proteção ao trabalho no SUS em Porto Alegre

Documento foi elaborado após demissão em massa de trabalhadores do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Protesto realizados por trabalhadores e trabalhadores do IMESF em frente à prefeitura de Porto Alegre - Giulia Cassol/Sul21

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) publicou, na última sexta-feira (09), uma recomendação que orienta medidas de proteção ao trabalho e à Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Porto Alegre (RS). A instituição critica as demissões em massa provocadas pela gestão municipal, além da privatização de postos de saúde.

De acordo com o documento, o fato do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) ter anunciado a demissão de concursados do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), em 24 de setembro de 2020, representa o desligamento em massa de mais de 1,2 mil profissionais e o repasse da gestão de mais 61 postos de saúde da Capital para instituições privadas.

Para o CNS esta ação do gestor da área da saúde de Porto Alegre (RS) viola a Decisão Liminar da Justiça do Trabalho, de 17 de setembro de 2020, em ação ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho para a execução de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que determina que não haja substituição dos empregados concursados do município por terceirizados, até que haja outra decisão a respeito da matéria.

A entidade recomenda ao prefeito de Porto Alegre que revogue os avisos prévios aos trabalhadores e trabalhadoras, considerando os fatores dispostos na recomendação, especialmente agravados neste momento da pandemia por covid-19. E ao Ministério Público do Trabalho do Estado do Rio Grande do Sul, que nos limites de suas atribuições, tome as providências cabíveis para proteção dos trabalhadores e trabalhadoras em saúde no Estado do Rio Grande do Sul.

Veja abaixo a recomendação completa 

RECOMENDAÇÃO Nº 065, DE 09 DE OUTUBRO DE 2020.

  • Recomenda medidas de proteção ao trabalho e à Atenção Básica no Sistema Único de Saúde no munícipio de Porto Alegre.
  • O Presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), no uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pelo Regimento Interno do CNS e garantidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990; pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990; pela Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012; pelo Decreto nº 5.839, de 11 de julho de 2006; cumprindo as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e da legislação brasileira correlata; e 
  • Considerando que a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 196 e 198, prevê que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e  econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” e que “as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único”;
  • Considerando a afirmação do Sistema Único de Saúde (SUS) como modelo de sistema universal de saúde instituído pela Constituição Federal de 1988, em seus princípios e diretrizes garantidores da universalidade, integralidade e equidade do acesso às ações e serviços públicos de saúde, incluindo a gestão descentralizada, hierarquizada, regionalizada e com a participação da comunidade;
  • Considerando as diretrizes e moções aprovadas na 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8ª), publicadas por meio da Resolução CNS nº 617, de 23 de agosto de 2019;
  • Considerando que o atual prefeito da cidade de Porto Alegre/RS anunciou a demissão de concursados do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (IMESF), em 24 de setembro de 2020, o que representa o desligamento em massa de mais de 1,2 mil profissionais e o repasse da gestão de mais 61 postos de saúde da Capital para instituições privadas; 
  • Considerando que esta ação do gestor da área da saúde de Porto Alegre/RS viola a Decisão Liminar da Justiça do Trabalho, de 17 de setembro de 2020, em ação ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho para a execução de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que determina que não haja substituição dos empregados concursados do município por terceirizados, até que haja outra decisão a respeito da matéria; Ministério da Saúde / Conselho Nacional de Saúde 2/3
  • Considerando que além de descumprir a Recomendação nº 07 de 2020, do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE/RS), que indica a suspensão, enquanto vigente o Estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, de qualquer demissão de funcionários do IMESF ou substituição de seus serviços;
  • Considerando que a decisão do Executivo Municipal também contraria a Recomendação nº 2/2020, do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre (CMS/POA), que orienta, entre outras coisas, que sejam reabertas as 7 Unidades de Saúde fechadas no ano corrente e que não haja mais nenhum fechamento, em especial durante o período da pandemia da Covid-19 e, além disso, que qualquer alteração referente à ampliação ou diminuição de equipes existentes seja apresentada para apreciação prévia do CMS/POA, conforme Lei Complementar nº 277 de 1992 e decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4);
  • Considerando que a administração municipal de Porto Alegre/RS desconsidera o período eleitoral e as barreiras estabelecidas pelo Art. 73 da Lei Eleitoral nº 9505 de 1997, quanto à transferência de trabalhadores e equipes e repasse de recursos não previstos no orçamento, caracterizando situação de fragilidade e insegurança legal;
  • Considerando que a defesa dos trabalhadores significa defender o SUS e a saúde como direito e que essa preocupação orientou os debates entre a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) que, em conjunto com a Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho (CIRHRT), ambas do Conselho Nacional de Saúde, propuseram a presente recomendação; e
  • Considerando as atribuições conferidas ao presidente do Conselho Nacional de Saúde pela Resolução CNS nº 407, de 12 de setembro de 2008, Art. 13, Inciso VI, que lhe possibilita decidir, ad referendum, acerca de assuntos emergenciais, quando houver impossibilidade de consulta ao Plenário, submetendo o seu ato à deliberação do Pleno em reunião subsequente. 
  • Recomenda ad referendum do Pleno do Conselho Nacional de Saúde:
  • Ao Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre/RS: Que divulgue a nota técnica como forma de incidir politicamente junto aos poderes executivo, legislativo e judiciário sobre a importância da proteção ao trabalho no Sistema Único de Saúde, público e de qualidade, e a garantia da Ministério da Saúde / Conselho Nacional de Saúde 3/3 continuidade do acesso a Atenção Básica no município de Porto Alegre fortalecendo a agenda política em defesa do Sistema Único de Saúde;
  • Ao Prefeito Municipal de Porto Alegre/RS: Que revogue os avisos prévios aos trabalhadores e trabalhadoras, considerando os fatores dispostos nesta Recomendação, especialmente agravados neste momento da pandemia por COVID-19; 
  • Ao Ministério Público do Trabalho do Estado do Rio Grande do Sul: Que, nos limites de suas atribuições, tome as providências cabíveis para a proteção dos trabalhadores e trabalhadoras em saúde no Estado do Rio Grande do Sul.

FERNANDO ZASSO PIGATTO
Presidente do Conselho Nacional de Saúde

*Com informações da Assessoria do CNS

 

Edição: Marcelo Ferreira