MACHISMO NO ESPORTE

Artigo | Robinho, o Santos e a naturalização da violência contra a mulher

Robinho, condenado na Itália por estupro, volta ao Santos e levanta debate sobre violência contra a mulher

Curitiba (PR) |
Robinho é o novo reforço do Santos - Divulgação

“O último capítulo de uma das maiores histórias do Santos. O Pedalada está de volta”. Foi com essas palavras que o Santos anunciou a contratação de Robinho, no último dia 10. Normalmente, o retorno de um ídolo seria motivo para comemoração. Mas você idolatraria alguém condenado (em primeira instância) por estupro?

O jogador recebeu a condenação por estupro coletivo pela corte de Milão (Itália) por um caso ocorrido em 2013, com uma mulher albanesa

Pois foi exatamente o que clube fez — e com apoio de torcedores. Em 2017, o jogador recebeu a condenação por estupro coletivo pela corte de Milão (Itália) por um caso ocorrido em 2013, com uma mulher albanesa. Para os que afirmam que “a denúncia encerra a carreira do jogador”, notamos que não é assim que a banda toca. 

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Claro, a naturalização da violência contra a mulher não é exclusividade santista, mas sim um problema do futebol. Só para ficar nos casos mais recentes, basta lembrar do goleiro Jean ou do atacante Dudu. O futebol não é só reflexo da sociedade — ele também constrói essa sociedade. E aí vem a pergunta: qual a mensagem que os clubes passam quando acolhem esses jogadores, sem problematizar a violência?

Para eles, a vida das mulheres não tem valor. Vale menos do que uma pedalada

Fica evidente que, para eles, a vida das mulheres não tem valor. Vale menos do que uma pedalada. Não estamos aqui para julgar ou reforçar uma sanha punitivista, mas para debater o caráter social dessa contratação e o machismo no esporte. 

Essa lógica machista que impera também dificulta a denúncia por parte das vítimas, pois as consequências geralmente pesam sobre elas. Assim, mais do que fazer posts em redes sociais, os clubes e federações precisam enfrentar de fato a violência contra as mulheres, e não compactuar com ela. Fica o chamado também para os homens se posicionarem neste momento e cobrarem, como muitos torcedores fizeram.

Em um país onde a cada quatro minutos uma mulher é agredida, isso é obrigação. Aliás, nesse mesmo país, esses jogadores são tratados como ídolos enquanto uma atleta, Carol Solberg, é censurada por gritar “Fora Bolsonaro”. Perguntamos novamente: quanto valem a vida e as palavras das mulheres? 

 

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato

Fonte: BdF Paraná

Edição: Gabriel Carriconde