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Ciência Popular | O que política tem a ver com a ciência?

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Testes da vacina contra a covid-19 foram autorizados mais uma vez pela Anvisa - Divulgação/Governo de São Paulo
Para a ciência pouco importa se a primeira vacina será a russa, chinesa, inglesa ou americana.

A semana que antecedeu as eleições municipais foi muito intensa. Não bastasse atravessar uma pandemia e ver um apagão em um de seus estados, vimos o Brasil viver uma campanha política  que beirou a normalidade com apertos de mão, beijos e passeatas como se desafiasse a segunda onda que já fez parar a Inglaterra e a Itália.   

Não menos que isso, vimos brasileiros comemorarem a paralisação dos testes da vacina chinesa desenvolvida em colaboração com o Brasil.  Ora, em um processo de validação de uma vacina são comuns paralisações como estas. Dada a existência de um evento adverso, segue-se a investigação. Chegando-se a uma explicação, define-se o retorno ou não dos testes. E os testes foram autorizados mais uma vez pela Anvisa. Percebam que isto é ciência – sequência de um procedimento. Não há de se tomar partido nem torcer por A ou B. A comemoração agride quem perdeu a vida ao mesmo tempo que agride toda uma nação que espera se ver livre de um vírus terrível, que já levou 160 mil brasileiros e brasileiras à morte.

A relação entre política e ciência precisa ser unidirecional: a política incentiva a ciência a partir de estratégias que fomentem o bem estar da população. Ponto. Por sua vez, a ciência não pode e não deve retornar nenhum tipo de resultado que forneça viés à política. É obrigação do Estado financiar a produção de conhecimento. Usar a ciência como ferramenta ideológica é desvirtuar a sua função de produzir soluções para a humanidade. Para a ciência pouco importa se a primeira vacina será a russa, chinesa, inglesa ou americana. Ela (a ciência) estabelece normas que norteiam o caminho a seguir. A que chegar primeiro será bem-vinda.  E claramente isto não deve ter relação com a eleição de 2022. O único sentido da seta é o de investimento do Estado na ciência. E a resposta é a melhor qualidade de vida da população. Quando se tenta incluir de alguma forma ideologia e vieses na ciência, se tem como fruto a prática da anticiência.  

E colocadas na luz se revelam como duas práticas que não se misturam. Resta à anticiência a prática do negacionismo, do insustentável terraplanismo, dos vermífugos e dos inimigos invisíveis. E contra esta cortina de fumaça segue a luta da boa ciência, que ainda depende excessivamente do apoio do Estado. Sem ciência viveremos sem vacina, sem curas, sem esperanças. Apenas na motivação curta e breve das bandeiras com números que balançam de dois em dois anos.  A política sem ciência é a urna sem votos, pois a humanidade só continuará a existir pelos avanços da ciência.

 

Edição: Vanessa Gonzaga