Rio Grande do Sul

Pandemia

Trabalhadores dos Correios afirmam haver um surto de covid no CDD Antônio de Carvalho

Os relatos são de 5 casos já confirmados e de assédio de gestores pela continuidade do trabalho e abafamento do caso

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Maior Centro de Distribuição do RS está fechado ao público por surto de covid, enquanto trabalhadores demonstram preocupação e reivindicam testagem - Divulgação

Trabalhadores dos Correios do Centro de Distribuição Domiciliar (CDD) Antônio de Carvalho, em Porto Alegre, relatam um surto de coronavírus em seu local de trabalho. Os funcionários, entrevistados pelo Brasil de Fato RS na condição de anonimato devido ao medo de assédio, relatam a confirmação de cinco casos de contaminação entre colegas, ao mesmo tempo em que são pressionados pela gerência para que sigam trabalhando normalmente.

Segundo um trabalhador atuante no Sindicato dos Trabalhadores em Correios do RS (Sintect-RS), o CDD Antônio de Carvalho atende toda a zona leste da Capital, sendo o maior Centro deste tipo do Rio Grande do Sul: "Tivemos na semana passada um caso confirmado e outro na segunda-feira (16). Ontem (17), tivemos mais dois casos confirmados, inclusive um deles passou mal e precisou ser levado ao hospital. Temos ainda uma colega que ainda não teve confirmada a infecção por covid, mas está muito mal em casa, afastada".

O dirigente sindical afirma que os trabalhadores resolveram pedir para a empresa providenciar testes rápidos junto à prefeitura. A resposta recebida pela empresa foi que continuassem trabalhando e que só fizesse o teste quem sentisse sintomas: "Acontece que estamos vivendo um surto, é uma unidade grande mas com um espaço de trabalho apertado, um vai passando o vírus pro outro. Como vamos continuar trabalhando?", questiona preocupado.

Pressão e testes por conta própria

Ele conta que uma parte da unidade se organizou para fazer testes testes por conta própria, nos postos de saúde, a fim de saber quem está contaminado ou não. Há o temor de que basta apenas um funcionário contaminado para que os outros estejam expostos ao risco, ao mesmo tempo em que os trabalhadores se vêm pressionados pela empresa para seguirem no trabalho: "Querem que a gente faça o teste e que siga trabalhando até que venha o resultado, infelizmente este é o protocolo que a empresa está adotando no momento".

Outro funcionário contatado pela reportagem relata o mesmo temor, afirmando que os próprios trabalhadores precisaram se organizar para garantir a testagem: "Quem positivou está afastado, tem mais uma pessoa que seria o sexto caso confirmado, está com todos os sintomas mas ainda não sabemos o resultado. Fizemos uma mobilização sobre a situação, chegou a vir um superior, mas não estão considerando como um surto o que está acontecendo na unidade. Por nossa própria conta fomos cada um até um posto de saúde, queremos fazer os testes."

O dirigente sindical relata ainda a grande preocupação dos trabalhadores com a transmissão continuada: "A empresa está escondendo a situação, além de estarmos contaminando uns aos outros, podemos estar levando o vírus para os clientes durante as entregas". Lembra que esta preocupação se deve ao fato de que todas as correspondências e entregas de comércio eletrônico da região passam pelas mãos desses funcionários, em uma área de abrangência que estima ter mais de 200 mil pessoas. Justifica que esse temor é o que motivou a movimentação dos funcionários em busca dos testes, afirmando que, no momento, o CDD Antônio de Carvalho interrompeu o atendimento devido ao risco de contaminação: "A parte mais perigosa certamente é o atendimento ao público, que tem duas pessoas que estão com o vírus, o Correios está tentando encobrir essa situação".

Relata que diversos funcionários seguem trabalhando sob pressão, com medo de represálias, e que sofrem assédios de gestores. "Quem quiser fazer o teste que faça, se estiver passando mal. Vocês ainda estão de serviço", afirma terem ouvido os trabalhadores, de um superior, na ocasião de uma conversa sobre a situação. "Toda essa intimidação tem sido normal dentro dos Correios, temos um surto que está escondido", afirma o dirigente sindical.  

Contatado pela reportagem, Alexandre Nunes, dirigente do Sintect-RS, confirma a existência do surto e que os funcionários precisaram buscar atendimento médico e testagem por conta própria: "É isso mesmo, a direção dos Correios não tomou nenhuma providencia. Hoje (18), os trabalhadores se reuniram e foram ao posto de saúde onde fizeram os testes e pegaram atestados. A empresa queria que a unidade ficasse funcionando normalmente".

Trabalhadores, familiares e clientes em risco


Trabalhadores dos Correios foram ao posto de saúde buscar testes por conta própria / Divulgação

O Sindicato informa ainda que mandou ofício aos Correios sobre o primeiro caso de covid no CDD Antônio de Carvalho, sem que providências fossem tomadas. Foi devido à gravidade da situação, que coloca suas vidas e de seus familiares em risco, que os trabalhadores agiram. O Sindicato foi contatado e, em reunião com a gerência, exigiu providências, que novamente foram tratadas com descaso, e, por isso, resolveram por conta própria procurar o posto de saúde.

Não fosse a cobrança dos funcionários, a empresa seguiria funcionando normalmente, somente realizando testes quem se sentisse mal, colocando a vida dos trabalhadores e clientes em risco permanente. Relata ainda que há a expectativa de que os gestores continuem exercendo pressão sobre os colegas para que sigam em seus postos e que deverão ser deslocados funcionários de outras unidades para o CDD Antônio de Carvalho, com o objetivo de não paralisar o serviço. O temor é de que, ao tomar esta medida, o vírus deve ser levado para outras unidades de trabalho dos Correios, proporcionando um contágio em cadeia.

A orientação do Sintect é que os trabalhadores que forem deslocados para o CDD Antônio de Carvalho devem se certificar "de que todos fizeram o teste, de que houve higienização adequada e, caso estes dois protocolos não tenham sido obedecidos, que se recusem a ir e entrem imediatamente em contato com o Sindicato". Ainda, que os trabalhadores de todas as unidades que tiverem casos de contaminação comuniquem ao Sindicato.


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Edição: Marcelo Ferreira