Pernambuco

ELEIÇÕES 2020

Centro-esquerda perde três cidades e direita avança na região metropolitana do Recife

Metade das cidades da RMR escolheram mudar de gestão do Executivo Municipal, optando por candidatos de direita

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O PSB, que governava Recife, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Abreu e Lima e da Ilha de Itamaracá só conseguiu manter a capital e perdeu nas outras quatro cidades - Rodolfo Loepert

Na Região Metropolitana do Recife vivem mais de 4 milhões de pessoas, quase metade de toda a população pernambucana. A região litorânea também concentra boa parte da atividade econômica do estado. A RMR é composta por 15 municípios e é por eles que iniciaremos as análises sobre os avanços e derrotas dos partidos políticos em Pernambuco. Olhando apenas para a RMR, fica evidente a perda de espaço do maior partido do estado, o PSB. A sigla do governador Paulo Câmara (PSB) teve como maior trunfo manter a capital, Recife, onde elegeu João Campos (PSB). O PTB também perdeu espaço. Apenas sete cidades do total de 15 que compõem a região seguiram com as gestões atuais e nenhuma das cidades elegeu mulheres para o cargo do Executivo Municipal.

Avaliando a quantidade de população governada por cada partido, o PSB segue como mais importante grupo partidário da região – mas perdeu espaço. Se até o fim deste ano o partido governa para 2,3 milhões de habitantes, a partir de janeiro terá perdido meio milhão, caindo para 1,8 milhão de habitantes governados. O PSB tem atualmente as prefeituras do Recife, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Abreu e Lima e da Ilha de Itamaracá. No entanto, nas urnas o partido só conseguiu manter a capital e perdeu nas outras quatro. Por outro lado, ganhou em São Lourenço da Mata e em Moreno. Se formos contabilizar a centro-esquerda, podemos ainda colocar como perda a derrota do PDT em Araçoiaba, município de 20,5 mil habitantes.

O partido de direita PL foi o que mais ganhou, saltando de 700 mil para 900 mil habitantes governados. O partido conseguiu manter Jaboatão dos Guararapes, segunda maior cidade de Pernambuco, e ainda venceu a disputa na cidade vizinha, Cabo de Santo Agostinho, que também tem grande importância econômica, já que divide com Ipojuca os empreendimentos instalados no Complexo Portuário de Suape. O Solidariedade (SD) do prefeito de Olinda, Lupércio, segue com apenas uma prefeitura, mas mantém sua importância como terceiro maior partido em população governada na RMR.

O PTB é que, junto com o PSB, é o maior derrotado desta eleição na RMR. O partido tinha gerência sobre 390 mil habitantes, mas a partir de janeiro governará para 210 mil, uma perda de 46% da população governada. O partido tinha Igarassu, São Lourenço da Mata, Ipojuca e Moreno, mas manteve apenas Igarassu e Ipojuca – as duas mais importantes do ponto de vista econômico –, mas foi derrotado pelo PSB em São Lourenço e Moreno. De segundo partido mais forte na RMR, caiu para quarto. 

A sigla vive um momento de implosão interna desde 2018, quando teve seu principal nome no estado, Armando Monteiro, foi derrotado já no 1º turno da disputa pelo Governo do Estado e, de quebra, perdeu seu mandato a senador. Na ocasião o PTB também perdeu 100% de sua bancada de deputados federais, mas conseguiu eleger dois deputados estaduais. No Recife, este ano, o partido não elegeu vereadores. 

O MDB, que não tinha prefeituras na região metropolitana agora terá a gestão sobre 330 mil residentes do Paulista, com o prefeito eleito Yves Ribeiro. Destaca-se também o Republicanos (REP), do deputado federal Silvio Costa Filho. O partido da Igreja Universal conseguiu manter a gestão de Camaragibe (160 mil habitantes) com a prefeita Nadegi Queiroz. O REP e o MDB ainda têm a expectativa sobre a gestão da Ilha de Itamaracá, atualmente governada pelo PSB, mas que as urnas deram vitória do candidato do REP. O resultado, no entanto, ainda está sub-júdice. O segundo colocado é do MDB. A Justiça Eleitoral definirá o futuro prefeito da Ilha.

Quem também avançou na RMR foi o partido conservador PSL, do deputado federal Luciano Bivar. O partido já tinha a prefeitura de Goiana, cidade de 80 mil habitantes no litoral norte do estado e que tem crescido economicamente com o polo industrial encabeçado Fiat Chrysler, que também produz veículos Jeep. Este ano o PSL venceu também a prefeitura de Abreu e Lima. A cidade é hoje governada pelo PSB, mas os socialistas se dividiram na disputa municipal: enquanto o PSB municipal quis lançar candidatura, a direção estadual quis apoiar o PSL. A disputa foi parar na Justiça e o grupo municipal conseguiu manter a candidatura, mas foi derrotada nas urnas. O DEM não tinha prefeituras e agora também aparece no mapa da RMR, ainda que discretamente, com a gestão de Araçoiaba. O PSD manteve sua única prefeitura na região, a de Itapissuma.

A eleição de 2016 desenhou duas forças políticas claras na RMR: o PSB de Paulo Câmara (com 5 prefeituras) e o PTB (com 4) do ex-senador Armando Monteiro, que enfrentou Câmara duas vezes na disputa pelo Governo do Estado. PL, SD, REP, PSL, PSD e PDT tinham um município cada. Mas com o resultado das urnas em 2020, o cenário fica bem mais aberto e pulverizado. Além do PSB (3), destacam-se o PL (2), o PTB (2) e o PSL (2), MDB e REP (ambos com 1, mas um deles vai somar mais uma, a de Itamaracá), além de PSD (1) e DEM (1).

O cenário aponta um avanço das forças conservadoras, que pode servir ao prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL), que tem afirmado interesse em deixar a prefeitura para disputar o Governo do Estado em 2022. Um outro possível beneficiado seria Armando Monteiro, mas o ex-senador além de estar sem mandato, acabou de deixar o partido no qual fez sua vida política, o PTB, por desentendimentos com o presidente nacional da sigla, Roberto Jefferson, que agora é bolsonarista.
 

Edição: Vanessa Gonzaga