Caso inédito

Estado de saúde de infectado pelo “superfungo” é estável; entenda a doença

Fungo Candida auris é resistente aos medicamentos existentes e considerado ameaça à saúde pública

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Os sintomas vão desde febre, dores e fadiga até a chance de óbito em 60% dos casos - Centers for Disease Control and Prevention/EUA

O estado de saúde do paciente infectado pelo fungo Candida auris, em um hospital particular em Salvador, na Bahia, é estável. A infecção foi confirmada nesta segunda-feira (7) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como o primeiro caso de infecção pelo fungo no Brasil.

Conhecido por ser super resistente aos medicamentos existentes, ele foi encontrado em um catéter utilizado no paciente que se recupera de um estado grave de covid-19. 

Segundo Antônio Bandeira, que faz parte da Diretoria da Vigilância Epidemiológica da Bahia e membro diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), ainda não se sabe como esse fungo chegou ao Brasil, visto que o paciente não tem registro de viagem para o exterior.

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Apesar de ser encontrado com mais frequência em hospitais, também pode ser registrado fora desse ambiente. “A gente não sabe se esse paciente se contaminou a nível de hospital, com algum outro paciente, por exemplo, ou se ele já veio colonizado”, afirma o infectologista. 

Como se dá a infecção?

A contaminação se dá por meio do contato com pessoas, equipamentos ou superfícies contaminadas, e atinge principalmente pessoas com o sistema imunológico enfraquecido e pacientes internados em hospitais, como é o caso do paciente de Salvador, que preenche esses dois requisitos.

“Esse fungo tem a característica de poder se espalhar dentro do hospital, através das mãos de profissionais de saúde para outros pacientes, especialmente em pacientes mais debilitados”, afirma Bandeira. 

O que o fungo pode causar?

No organismo, o fungo pode causar desde infecções relacionadas a feridas cirúrgicas até infecções generalizadas, pela possibilidade de atingir a corrente sanguínea. Nesse sentido, os sintomas vão desde febre, dores e fadiga até a chance de óbito em 60% dos casos, principalmente se o paciente já estiver com alguma outra doença. 

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“O grande problema é que ele pode ficar colonizando alguns pacientes, ou seja, não necessariamente causa doença, mas coloniza e aí esses pacientes passam a ser uma espécie de transmissores dentro do hospital para outros pacientes”, explica Bandeira. 

Tratamento

O Candida auris é resistente, em alguma medida, às três classes de drogas disponíveis para tratar infecções fúngicas sistêmicas (polienos, azóis e equinocandinas), motivo pelo qual o tratamento é uma das maiores preocupações de autoridades da classe médica. Por isso, em caso de infecção, o recomendável é aumentar a dose e usar, paralelamente, medicações diferentes, todas prescritas por um profissional da área. 

Para evitar a transmissão, é necessário manter os pacientes infectados em isolamento, bem como a limpeza do ambiente, que deve ser feita com desinfetantes mais fortes do que o comum. Também é importante realizar a “identificação precoce de todos os materiais em que possa estar presente o fungo, através de exames de laboratório”.

Fora do hospital, explica Bandeira, não é necessário ter os mesmos cuidados. “É um esforço que se faz mais direcionado”, afirma. 

“Ameaça à saúde pública”

A Anvisa, ao confirmar a infecção, lançou um comunicado sobre o caso, no qual classifica o Candida auris como “um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública”, considerando que é resistente aos medicamentos existentes; tem o potencial de levar o paciente à óbito; sua identificação pode ser confundida com outras espécies de fungos, levando à possibilidade de causar surtos; e por permanecer ativo por longos período no ambiente, entre semanas e até mesmo meses. 

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Por isso, foi realizada uma força tarefa em âmbito nacional para acompanhar a situação e realizar uma investigação epidemiológica para verificar a suposta existência de infecção em outras pessoas. 

Diferente da pandemia de covid-19, a contaminação pelo fungo é mais localizada, diante da qual há mais condições de controle “para tentar eliminar completamente a possibilidade de que isso possa começar a colonizar os pacientes nas nossas instituições”, afirma Bandeira.

Histórico de contaminação 

O fungo foi identificado pela primeira vez na parte interna do ouvido de uma paciente, em 2009, no Japão. De lá para cá, a infecção já foi registrada em outros países, como Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Israel, Paquistão, Quênia, Kuwait, Reino Unido e Espanha.

Em 2017, a Anvisa publicou um documento no qual definiu a Rede Nacional para identificação de Candida auris em serviços de saúde, com orientações para profissionais em caso de atendimento de pacientes contaminados. 

Edição: Leandro Melito