Com mediação de Leonardo Melgarejo e Katia Marko, o militante da reforma agrária falou sobre o tema “Arte, Ciência, Ética e Soberania” no último programa do ano, nesta quinta-feira (17). Durante uma hora e meia, João Pedro Stédile discorreu sobre diversos temas. Mas iniciou a conversa falando sobre a questão dos agrotóxicos e o seu posicionamento contra o Projeto de Lei 260/2020. Enviado pelo governador Eduardo Leite (PSDB), o PL tem por objetivo flexibilizar a Lei dos Agrotóxicos no Rio Grande do Sul e liberar diversos produtos proibidos desde a década de 1980.

Contudo, Stédile salientou que o estado, que é pioneiro na legislação contra os venenos, possui forças sociais capazes de pressionar para impedir que o PL seja aprovado. Depois, Melgarejo e Stédile discorreram sobre a possiblidade do agronegócio conseguir liberar o trigo transgênico e as ameaças do milho geneticamente modificado, que já corresponde a 90% do grão disponível no Brasil.

Posteriormente, Stédile comentou sobre Sebastião Pinheiro e suas denúncias acerca dos agrotóxicos pulverizados na cultura do tabaco, que comprovadamente afetam a capacidade neurológica das pessoas e resulta, muitas vezes, em suicídio. Ele cita que as regiões fumageiras do Rio Grande do Sul e do Paraná são os lugares do mundo com maior índice de suicídios entre camponeses, causados pela utilização de venenos.

O militante também falou sobre os livros que escreveu ou organizou, incluindo uma obra com todos os projetos de Reforma Agrária que passaram pelo Brasil, apesar de nenhum ter sido colocado em prática, e outro sobre as experiências de reforma agrária ao redor do mundo. Stédile conta que um dos privilégios de ter se tornado popular dentro do MST foi de ter conhecido grandes personagens da história brasileira, vários deles intelectuais que contribuíram na elaboração dos livros.

Stédile ainda tratou sobre a realização de uma audiência pública na Comissão Interamericana de Direitos Humanos com o tema da paralisação da Reforma Agrária e as medidas contra a mesma, como o despejo. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) era a acusação. Um dos ataques sofridos foi a destruição, por policiais, da Escola Eduardo Galeano em Minas Gerais, a única do acampamento Quilombo Campo Grande, no interior do município de Campo do Meio. O julgamento ainda está em processo, mas o MST já está em vias de reconstruir a escola derrubada.          

Por último, o convidado relacionou os pilares “Arte, Ciência, Ética e Soberania”, ao frisar que todas as áreas representam a amplitude da vida humana, pois, segundo ele, todo indivíduo tem direito a arte, conforme a sua cultura, e tem direito ao conhecimento científico por meio da escola e da academia, para assim formar uma sociedade soberana com relação a seu destino.

Stédile citou o exemplo da biodiversidade no Rio Grande do Sul, que pertence ao povo gaúcho e que, caso o PL 260/2020 seja aprovado, a mesma estará em perigo com a liberação de mais agrotóxicos. “O Projeto de Lei irá tirar a soberania do povo rio-grandense sobre ela e gerar mais lucro para as empresas produtoras de venenos.” Ao concluir, ele defende que a ética está pautada, sobretudo, em garantir vida igualitária para todos, no que reside o sentido maior da vivência em sociedade.   

O "Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato" retorna no dia 7 de janeiro, com a participação da atriz e professora do Departamento de Expressão e Movimento do Colégio de Aplicação da UFRGS, na área de Teatro, Dedy Ricardo. Ela integra o Coletivo Atinuké, que estuda o pensamento das mulheres negras, e atua, desde 2000, no grupo Usina do Trabalho do Ator, em Porto Alegre.

Confira a íntegra da live com João Pedro Stédile.

 

Todos os programas de 2020 do Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato podem ser acessados aqui.

Edição: Katia Marko