Pernambuco

CHUVAS

Pernambuco em situação de emergência: “Se não chover, no final do mês não tem água”

98 municípios do estado já sentem efeitos da estiagem, mas Defesa Civil não tem plano de ação de abastecimento

Brasil de Fato | Recife (PE) |
A Operação Pipa é uma das ações emergenciais previstas, mas Defesa Civil não informou onde e quando operação atuará - Anderson Barbosa

No mês de janeiro, 98 dos 184 municípios de Pernambuco tiveram situação de emergência decretada por causa da estiagem através das Portarias nº 140 e 141, de 26 de janeiro de 2021. Agora, os municípios do sertão e agreste do estado podem ter acesso a recursos federais de socorro, assistência, restabelecimento de serviços essenciais à população e recuperação de infraestruturas danificadas, com a situação decretada pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). 

:: Receba notícias de Pernambuco no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Um dos municípios contemplados pela medida é Salgueiro, no sertão pernambucano. A cidade, que está a 518km da capital tem 60 mil habitantes, que já vêem o desabastecimento de água como um problema estrutural, como explica a dona de casa Socorro Barros “São 10 anos que a situação aqui tem sido complicada em vários aspectos. Nós chegamos a ficar sem água por 10 dias na minha casa, que é privilegiada, porque é numa zona baixa da cidade e com o abastecimento a água vem logo para cá, mas em outros bairros são 20, 25 dias sem água”, afirma. 

A irregularidade das chuvas e os períodos de estiagem são características do clima das cidades do sertão pernambucano, que fazem parte do Semiárido Brasileiro. Só nos últimos 100 anos foram cinco períodos de seca extrema, onde o índice de chuvas nos territórios ficaram abaixo do índice médio de 800mm. De acordo com o Monitor de Secas, em dezembro de 2020 Pernambuco teve um aumento na área que atravessa um período de seca demorada, especialmente na região leste do estado, onde ficam a cidades contempladas com a situação de emergência. 

A situação é semelhante em Bodocó, município sertanejo que tem cerca de 38 mil habitantes. É na zona rural da cidade, na comunidade rural de Bom Lugar, que vive Janete Souza, camponesa e tecnóloga em agroecologia, que afirma que a reserva de água da comunidade só é suficiente pelos próximos 30 dias. “Já é uma preocupação, porque as famílias já estão precisando de água, mas a operação pipa não está funcionando ainda aqui, os barreiros estão no limite. Se não chover, no final do mês não tem água”, projeta a agricultora. 


Na zona rural de Bodocó, sertão pernambucano, agricultores começaram o plantio, mas temem que estiagem gere perdas na produção / Janete Sousa

Com a gestão da água prejudicada pela falta de chuvas e de políticas estruturais para garantir água de forma permanente, a saída são as políticas emergenciais, a exemplo da Operação Pipa, que há mais de 20 opera nos períodos de estiagem levando água potável para as populações rurais e urbanas atingidas por estiagem com prioridade para os municípios que encontram-se em situação de emergência ou estado de calamidade pública. A operação é uma política federal executada em parceria pelo Exército Brasileiro que já deveria estar sendo executada diante da situação de emergência dos municípios, mas não há registros de que a operação esteja em ação. 

Ações estruturais como a construção de cisternas e barreiros, que podem armazenar água por meses para o consumo doméstico e para a agricultura e criação de animais não é prevista como política de emergência, ainda que a iniciativas brasileiras como o Programa Um Milhão de Cisternas, o P1MC, tenha sido premiado internacionalmente como uma alternativa sustentável, barata e efetiva para que as famílias mantenham sua produção mesmo em períodos de estiagem. 

Se no campo as famílias lidam com relativa autonomia para a gestão da água, nas zonas urbanas o rodízio de água é uma política comum nas cidades, que fora dos períodos de estiagem tem um melhor equilíbrio entre os dias com e sem água. Mas, para lidar com a irregularidade do período de chuvas, a saída é reforçar o armazenamento, como decidiu fazer Socorro “Depois de muito tempo eu vi que não tinha o que fazer, juntei alguns recursos e comprei uma caixa d'água de mil litros. Mas até três meses atrás eu só tinha dois baldes pequenos de 50L e um um pouco maior, isso quando faltava água por cinco dias e tínhamos água por dois dias e meio”, relembra a moradora da zona central da cidade. 

Sem previsão para a ação do Governo Federal, Janete afirma que a criação de animais e a plantação deste ano será prejudicada “o município é parte da bacia leiteira da região, então a pecuária é bem forte. Com essa falta de água, os camponeses fizeram o plantio nas primeiras chuvas, que começam em novembro, mas já tem perdas por falta de água. Se não tem chuva, a produção é bem limitada”. 

A falta de ações emergenciais também prejudica quem mora nas cidades, já que sem o abastecimento de água feito pelo Estado, as famílias acabam desequilibrando o orçamento mensal para comprar água “Quem tem condições, algumas pessoas compram mesmo a água de carro pipa”, afirma Socorro. Uma das medidas estruturais que pode resolver a falta de água na região do município de Salgueiro é a implantação do novo Sistema Adutor de Salgueiro, a partir do Eixo Norte da Transposição do Rio São Francisco, que já está em andamento. Com custo orçado em R$ 6,4 milhões, a previsão é que a obra seja finalizada em ainda em 2021 e beneficie 60 mil pessoas no município de Salgueiro.

Já sobre as ações emergenciais de socorro aos municípios em estado de emergência, a equipe de reportagem do Brasil de Fato Pernambuco tentou contato com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), questionando quais ações seriam executadas e a partir de quando as operações iniciarão, mas a secretaria não respondeu até o fechamento desta matéria.

Edição: Monyse Ravena