Bahia

AMEAÇA

Petroleiros organizam greve contra a privatização da Petrobras

Direção da estatal anunciou finalização da venda da Refinaria Landulpho Alves na Bahia

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Localizada em São Francisco do Conde, na Bahia, a RLAM é a primeira refinaria da Petrobras. - Sindipetro BA

Na manhã desta quarta-feira (10), os petroleiros realizam um ato de preparação para a greve no Trevo da Resistência, na BA 523, via de acesso à Refinaria Landulpho Alves (Rlam). Os trabalhadores próprios e terceirizados da refinaria, além moradores, comerciantes e parlamentares das cidades de São Francisco do Conde, Candeias, Madre de Deus e São Sebastião do Passé, que terão a sua economia afetada com a venda da refinaria, foram convocados. 

A ação acontece devido ao contexto de privatização da estatal. Na última segunda-feira (08), a direção da Petrobrás anunciou a finalização da venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), primeira refinaria do sistema Petrobrás, localizada no município de São Francisco do Conde, na Bahia. Segundo a estatal, o Mubadala Capital apresentou a melhor oferta final pelo valor de US$ 1,65 bilhão.

De acordo com a assessoria de imprensa do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro Bahia), além da Rlam, estão sendo entregues 669 quilômetros de oleodutos, que ligam a refinaria ao Complexo Petroquímico de Camaçari e ao Terminal de Madre de Deus, que também está sendo vendido no pacote que inclui ainda outros três terminais da Bahia (Candeias, Jequié e Itabuna).

A categoria petroleira recebeu a notícia da conclusão da venda da refinaria com um misto de revolta e tristeza. Em assembleia, os petroleiros haviam decidido pela realização de uma greve, caso houvesse progresso nas negociações para a venda da Rlam. A direção do Sindipetro Bahia afirma que o movimento paredista está sendo organizado e pode acontecer a qualquer momento.

Jairo Batista, coordenador do Sindipetro Bahia, explica que a assinatura do contrato de compra e venda ainda está sujeita à aprovação dos órgãos competentes. ”Mas as consequências da venda da Rlam já podem ser antecipadas e não serão boas para os consumidores e para o país. A venda vai impactar a economia baiana e dos municípios localizados no entorno da Rlam, além de diminuir os níveis de investimento, emprego e direitos dos trabalhadores”.

Ele ressalta que no mesmo dia em que foi anunciada a venda da Rlam ao fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, também foi anunciado mais um aumento no preço dos derivados de petróleo, em especial do diesel, gasolina e gás de cozinha. “Fica evidente o quanto que andam de mãos dadas a privatização e o aumento de preços. Não é possível que o povo brasileiro, que é o verdadeiro dono do petróleo e das refinarias, pague cada vez mais caro para obedecer uma política de preços que a Petrobrás adota, que atrela o valor dos derivados do petróleo ao dólar, enquanto que nós, brasileiros, recebemos salários em real”. 

O petroleiro chama atenção para a forma que a atual gestão da estatal vem tratando os trabalhadores e trabalhadoras, com o descumprimento do acordo coletivo, assédio moral, e empregos em risco com a venda da refinaria. “Nesse sentido a categoria petroleira aprovou uma greve, que nós do Sindipetro, iremos dar execução ao que foi aprovado, iremos notificar a Petrobrás sobre o início da paralisação, observando estritamente o que diz a lei de greve, e fazer o debate junto com a sociedade”, reitera. 

Para Jairo, esse é o momento de refletir sobre qual a Petrobras o povo brasileiro quer e precisa: “A Petrobras que privilegia acionista, que coloca o trabalhador que sustenta e constrói esse país a pagar o preço em dólar, em detrimento do seu salário que é em real? Ou a Petrobras que coloca no centro das decisões o povo brasileiro, o trabalhador, a trabalhadora, a dona de casa? É esse debate que os petroleiros, trabalhadores da Petrobras e do setor petróleo querem trazer para sociedade. É com esse movimento que nós pretendemos resgatar a Petrobras para que atenda aos interesses do povo brasileiro. Juntos somos mais fortes, e defender a Petrobrás é defender o brasil, é defender cada pai de família, é defender o povo brasileiro”, conclui. 


Contra o monopólio privado e pela venda dos derivados a preço justo

Entidades sindicais que representam a categoria petroleira como a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Sindipetro Bahia lutam há anos contra a venda das refinarias e outras unidades da Petrobrás. Seja realizando mobilizações, denúncias e ações como a venda de gás de cozinha e gasolina a preço justo, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a desastrosa política de preços da Petrobrás (PPI – Preço de Paridade de Importação), que atrela os preços dos combustíveis no Brasil ao valor do barril de petróleo no mercado internacional. 

Na última semana, o Sindipetro Bahia realizou uma ação em Salvador, onde foram vendidos gás de cozinha e gasolina a preços considerados justos, a partir de estudo realizado pelo  Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep).

Com descontos no abastecimento de até 20 litros para 100 automóveis e 10 litros para 100 motocicletas, ao preço de R$ 3,00 o litro. Além disso, o Sindipetro Bahia distribuiu 230 botijões de gás no bairro de Pituaçu, ao preço de R$ 40,00, menos da metade do que as distribuidoras de gás cobram na região. A categoria realizou ações no mesmo dia em Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Amazonas e Rio Grande do Sul.

O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e funcionário da Rlam, Deyvid Bacelar, diz que “a estatal quis deixar claro que está saindo desse negócio de política de preços de derivados, que não vai ter mais nada haver com o preço da gasolina, diesel e gás de cozinha e que o problema passa a ser das empresas privadas que vão comprar essas refinarias, mas em momento algum o governo Bolsonaro pensou no que seria melhor para o povo brasileiro”.

Deyvid alerta que “a venda da Rlam pode aumentar ainda mais os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha, além do risco de desabastecimento, o que irá prejudicar o consumidor. O povo baiano vai ficar refém de um monopólio privado”.

Segundo o Sindipetro Bahia, a Petrobrás segue com o processo de venda da Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), no Rio Grande do Sul, Refinaria Isaac Sabbá (REMAN), no Amazonas, Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, Refinaria Gabriel Passos (REGAP), em Minas Gerais, Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR), no Ceará, e Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), no Paraná.

*com informações da assessoria de imprensa do Sindipetro Bahia.

Edição: Elen Carvalho