Pernambuco

VENENO

Estudo feito em Pernambuco alerta para aumento de contaminação por agrotóxicos

Pesquisadora Cheila Bedor aponta que taxa de intoxicação chega a 14,5% em projetos de irrigação no Vale do São Francisco

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Brasil não produz nenhum levantamento nacional com dados das contaminações por agrotóxicos desde 2017 - Divulgação/Casa Valduga

À medida em que aumenta o uso de agrotóxicos no país, aumenta também o perigoso número de contaminações, sobretudo, dos trabalhadores rurais. Em Pernambuco, onde 809.183 hectares do estado correspondem à produção agrícola, o número de notificações de pessoas contaminadas por agrotóxicos de 2007 a 2019 foi de 794 pessoas, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.

O número pode ser ainda maior, uma vez que o governo Bolsonaro bateu recorde de aprovação de agrotóxicos em 2020, chegando a 493 produtos. A doutora em Saúde Pública pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães e pesquisadora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) Cheila Bedor, fala sobre a alta incidência das contaminações na região “Em 2008 a gente tinha trabalhado com uma boa margem de agricultores aqui na região, um trabalho bem massivo e representativo da população em números, e a gente achou uma população referida de 7% e em 2018, ou seja, quase 10 anos depois, a gente estudou um único projeto de irrigação e aí essa taxa passou para 14,5% de intoxicação referida, ou seja, a gente vem notando que ela vem crescendo ao longo dos anos”. Confira na reportagem:

No Brasil, 7.163 trabalhadores rurais foram diagnosticados com intoxicação de 2010 a 2019, segundo dados do Ministério da saúde, obtidos via lei de acesso à informação pela Agência Pública e Repórter Brasil. O órgão não produz um levantamento nacional com dados das contaminações desde 2017. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que no mundo, para cada caso notificado, existem outros 50 não computados.

A contaminação pode provocar diversos tipos de câncer, abortamento, entre outras doenças. A trabalhadora rural assalariada Simone Paim, que vive em Petrolina, no Vale do São Francisco, fala da sua preocupação em trabalhar em plantações que utilizam agrotóxicos “Fico preocupada até quando nós trabalhadores rurais vamos aguentar estar trabalhando com veneno, por um lado a gente vê que a necessidade é do trabalhador estar ali, vender a sua mão de obra, porque ele precisa colocar alimento na mesa. E por outro lado a gente se preocupa, eu me preocupo, como é que eu vou pôr alimento na mesa? Mas pra isso eu tenho que me submeter a vender a minha mão de obra, mas eu tenho que trabalhar com veneno. Então, é uma pergunta que a gente fica sem responder.


Segundo dados do Sindicato dos Assalariados e Assalariadas Rurais do Vale do São Francisco, em Pernambuco, desde 2010 até este ano, 283 trabalhadores da região foram intoxicados, dos quais 7% vieram a óbito. 

Simone rural analisa que com a pandemia a produção só aumentou, mas o trabalho não veio acompanhado de mais direitos “São atividades que são essenciais, os trabalhadores não pararam um minuto sequer, todos os dias estavam indo para a empresa produzir, vender sua mão de obra  E hoje a gente vê que numa mesa de negociação a gente não conseguiu um salário bom para a categoria, não conseguiu fazer com que o patronal se sensibilizasse. Nós trabalhadores rurais não paramos as nossas atividades, nós produzimos, mas o patronato não chegou na mesa com essa sensibilidade de ceder o que a gente estava pedindo” lamenta a trabalhadora.

 

Edição: Vanessa Gonzaga