Pernambuco

PERSEGUIÇÃO

Memórias da Resistência | No RJ, militares matam estudante pernambucana Ranúsia Alves

Ranúsia, estudante de enfermagem, foi torturada até a morte e uma das vítimas do episódio da Chacina da Praça Sentinela

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Ranúsia foi presa no Congresso da UNE em Ibiúna, em 1968 - Reprodução

Ranúsia Alves Rodrigues nasceu no dia 18 de junho de 1945, em Garanhuns, região Agreste de Pernambuco. No início da década de 1960 ingressou no curso de Enfermagem da UFPE e participou ativamente das atividades do Diretório Acadêmico (DA) de seu curso, o que a aproximou do Partido Comunista (PCBR). Entre seus oito irmãos, quatro também eram ligados ao PCBR.

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Em outubro de 1968, às vésperas do AI-5, Ranúsia participava do 30º Congresso Nacional da UNE, em Ibiúna (SP), quando foi presa pela ditadura militar e foi expulsa de sua graduação na UFPE. Um decreto presidencial de 1969 autorizava a expulsão de professores, estudantes e funcionários considerados “subversivos”. Fichada na polícia, também não conseguia emprego.

Em 1969 deu luz a sua única filha, Vanuzia, que foi criada por duas mulheres residentes do bairro da Mangueira, nas proximidades de Afogados e Mustardinha, região central do Recife. A criança só viria a saber do paradeiro da mãe no início dos anos 1990, quando teve acesso ao Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos”.


Apenas na década de 1990 familiares da militante tiveram acesso às informações sobre sua morte / Reprodução

Descrita por camaradas como “dócil”, “generosa” e apegada ao ofício de enfermeira, decidiu em 1970 ingressar na luta armada. O Ato Institucional nº5 (AI-5) já vigorava havia dois anos, institucionalizando a tortura, a censura e autorizando intervenção federal em todos os níveis de poder.

Em 1972, no Rio de Janeiro, sua camarada Regina Lobo, que usava os documentos de Ranúsia, foi morta numa operação militar conhecida como “Chacina de Quintino”. Os familiares da pernambucana foram ao Rio tentar identificar o corpo, mas lhes foi negado este direito.

No ano seguinte, em 27 de outubro de 1973, Ranúsia e mais três militantes do PCBR foram pegos pelo DOI-CODI, levados presos e submetidos a sessões de tortura até a morte, horas mais tarde.

Posteriormente, numa noite chuvosa, os corpos dela e dos três camaradas foram colocados num fusca vermelho, em frente à Escola Municipal Pedro Américo, no bairro de Jacarepaguá (atual Taquara). O fusca foi cercado por carros da polícia, alvejado e, em seguida, foi colocada uma bomba no veículo.

O episódio que ficou conhecido como “Chacina da Praça Sentinela” foi uma cena forjada pelo DOI-CODI, que ainda divulgou a versão de que houve um tiroteio e, por isso, teria sido necessário matar os militantes. Para o Exército, o “assassinato de terroristas” era preferível a assumir que os presos estavam sendo torturados até a morte.

Os quatro foram enterrados como indigentes, no “cemitério Ricardo de Albuquerque” (RJ). Anos depois tiveram seus ossos lançados numa vala clandestina. Os restos mortais de Ranúsia Alves nunca foram localizados.

Em homenagem póstuma à estudante e militante garanhuense, foram batizadas com seu nome ruas de São Paulo, Campinas (SP) e do Recife. Na capital pernambucana o logradouro fica no Alto do Burity, bairro da Macaxeira, na zona norte.

 

Edição: Vanessa Gonzaga