Paraná

Educação

Ensino remoto da rede pública de Curitiba ainda é falho, dizem famílias e professores

Falta de interação, aulas cansativas e falta de formação aos profissionais são principais problemas apontados

Curitiba (PR) |
“Seria bem importante que as crianças pudessem ter o contato com a professora”, diz Antonia, mãe do estudante Felipe, de 10 anos - Arquivo pessoal

Depois de um ano de pandemia, com a experiência de aulas remotas, mães, pais e professores são unânimes reclamar das condições de ensino e aprendizagem. Falta de interação com professores, metodologias defasadas, aulas cansativas e repetidas estão os principais problemas relatados pelas famílias. Já os professores reclamam que não houve, por parte da Prefeitura de Curitiba, preocupação em oferecer formação adequada às metodologias online.

Para Diego Monteiro de Souza, pai da estudante do quinto ano, Letícia, 9 anos, a metodologia oferecida é muito defasada e não desperta interesse nas crianças. “A tecnologia, hoje, permite tanta coisa que poderiam abordar os conteúdos de forma mais relevante”, diz. Diego conta que tem estudado com a filha. “Aqui em casa estamos apresentando mais matérias que já deveriam ter sido mostradas na série dela”, conta. 

Falta de interação   

Para Desiré do Rocio Anginski, mãe de Larissa, 9 anos, a principal dificuldade é a falta de interação com os professores. “Eu continuo trabalhando e ela não consegue acompanhar as aulas pela falta de interação com a professora, já que as aulas são gravadas”, comenta.

Essa também é a opinião de Antônia Almeida, mãe de Felipe, 10 anos. Ela conta que, no ano passado, chegou levar uma sugestão à escola para que os alunos pudessem ter pelo menos 1 hora de interação com a professora regente. “Eu trabalho fora, meu marido trabalha em home office o dia inteiro. Quando ele tem dificuldades, não tem como pedir orientação à professora e nem para nós”, diz.

Atualmente, estudantes da rede municipal de ensino assistem, pela televisão, a videoaulas gravadas e enviam atividades para escola quinzenalmente.

Ao analisar a atual situação das aulas remotas das escolas municipais de Curitiba, a professora da Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Adriane Knoblauch, destaca que nem todas as famílias têm acesso de qualidade à internet para acompanhar aulas em tempo real, mas considera que o planejamento pedagógico deveria ser feito adequado à realidade de cada turma.

“Imagino que, sabendo dessa realidade, a Secretaria optou pela televisão em substituição à internet. No meu ponto de vista, são dois os maiores problemas: a centralização das decisões e a desvinculação do ensino com a realidade das turmas. Por um lado, há a falta de interação com as professoras, de outro, há também a perda de autonomia destes docentes na organização das atividades pedagógicas", explica.

Falta de formação

Professores da rede pública municipal também relatam dificuldades com o ensino remoto, com o agravante de serem os responsáveis pelo processo de ensino e aprendizagem. De lá para cá, para os professores, faltou atenção da Secretaria Municipal de Educação no que se refere à formação e preparo dos docentes.  

A professora Elis Schuster, que atua há nove anos como alfabetizadora na rede municipal de Curitiba, avalia que não houve mudança de um ano para outro e reclama da falta de diálogo. “As videoaulas deste ano são as mesmas de 2020. Faltou diversidade nas atividades e metodologias. Poderiam ter feito campanha de incentivo à leitura, jogos intelectivos e demais dicas sobre a oportunização de momentos mais ricos de aprendizagem”, avalia.  

Já para o Mestre em História e professor da rede municipal Sandro Luis Fernandes, faltou que a Prefeitura fizesse cursos preparatórios. “A Prefeitura não se pronunciou sobre isso, sobre a necessidade de formação dos professores para aulas remotas. Poderiam ter sido mais bem preparados depois de um ano. Tem professores que não sabem usar meet, zoom”, analisa.

O que diz a Secretaria Municipal de Educação

Em nota,  a Secretaria Municipal de Educação informou que “foi criado o Núcleo de Ensino Híbrido, que orienta e atende dúvidas de profissionais e também das famílias. Com relação às famílias, os professores das turmas podem ajudar e esclarecer os pais/responsáveis, bem como os dez Núcleos Regionais de Educação (NREs). Já sobre a formação dos professores, ela é realizada de maneira contínua por meio do programa Veredas Formativas”.

Edição: Lia Bianchini